Fotografia bem representativa (retirei-a do "Abrupto" de JPP) da família e da função da televisão nos seus primórdios, nos anos 50 do século XX.
- Em primeiro lugar, a televisão ainda é um equipamento colectivo, que junta toda a família a sua volta, contribuindo assim para a coesão da família enquanto "célula base" da organização social (era assim que se dizia). Hoje, como sabemos, tornou-se um bem pessoal, existindo duas, três ou quatro por cada casa, e só em ocasiões muito excepcionais (os jogos de futebol da selecção nacional, por exemplo) é capaz de voltar a reunir a família à sua volta.
- O homem, o chefe de família, é o único que, na fotografia, assume uma atitude activa, sintonizando o televisor e escolhendo o programa que toda a família irá ver.
- A "hierarquia" continua presente na mãe, que tem direito a estar sentada no sofá e lê o jornal, enquanto os mais novos, presume-se que filhos, se sentam no chão e uma delas segura uma garrafa de refrigerante, símbolo dos consumos emergentes.
Tudo isto nos faz entender como a individualização dos consumos agiu também sobre a família, pôs em causa a dominância do seu modelo tradicional e a sua homogeneidade de comportamentos. Hoje, cada um, ou cada subgrupo dentro do grupo que constitui a família, tem a sua própria televisão e escolhe os programas que quer ver. Cada um tem o seu computador pessoal onde selecciona a informação que pretende. O próprio telefone familiar deixou de existir com o aparecimento e democratização do telemóvel, correio electrónico, Facebook, Skype, etc. Muitas vezes, pelo menos nas famílias da classe média-alta, é já o conceito de "automóvel familiar" que começa a desaparecer. Enfim, a fotografia é bem demonstrativa de como a "revolução electrónica" e a democratização dos que eram, até há bem pouco tempo, considerados equipamentos colectivos facilita o primado do individual, tende a fragilizar alguns dos momentos que funcionavam como afirmação da hierarquia familiar tradicional e obriga esta a procurar novas formas de coesão no seu interior. Porventura, bem mais saudáveis...
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