Nas décadas de 60 e 70 existia em Portugal uma esquerda católica, liberal (os chamados "católicos progressistas"), com um pensamento próprio e uma intervenção política importante na sociedade portuguesa, mormente nas lutas contra a guerra colonial e a ditadura. Mas não só: nas questões de costumes de então que poderiam afrontar o catolicismo conservador, como o divórcio, terão também feito ouvir a sua voz e sentir o seu peso no sentido da abertura e do progresso. Embora os tempos fossem outros, de outras polarizações e radicalismos também, penso que a sua existência terá, de algum modo, ajudado a evitar alguma da polarização que hoje se verifica na sociedade portuguesa entre uma esquerda laica radical e activamente militante e uma direita católica ultraconservadora e não menos radical e talvez ainda mais militante. Lembrei-me disso hoje - tempo de férias - a propósito dos confrontos de Madrid, embora as clivagens em Espanha sejam histórica e politicamente bem mais gravosas e por isso mesmo não possam ser comparáveis. A questão é que para mim, defensor de um Estado laico mas compreendendo a importância da herança cultural cristã e católica na sociedade portuguesa, não me parece que ver a defesa da concepção laicista, que partilho, fundamentalmente entregue ao radicalismo militante, como por vezes tem acontecido, mesmo que como resposta a igual atitude da parte contrária, possa trazer contribuição positiva às concepções que defendo. Ontem, em Madrid, cidade onde tenho algumas das minhas raízes, por certo isso não aconteceu.
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