Não sou um ouvinte/telespectador dos chamados "fóruns de opinião"; são locais onde pontificam a demagogia e o populismo mais rasteiros e a linguagem mais desbragada. Mas reconheço-lhes uma função: servem de válvula de escape de tensões acumuladas, de local onde, por via dos cinco minutos de fama, o "povo da SIC" pode dizer o que lhe vai na alma - e a saúde da democracia também passa por aí. Abro, contudo, uma excepção para o "Fórum TSF" que, com alguma regularidade, dependendo do tema e sempre que outros afazeres o permitem, consegue captar a minha atenção. Porquê? Bom, porque entre as opiniões populares é possível ouvir a opinião de alguns comentadores estimáveis (outros, nem por isso) e, aqui e ali, de gente convidada que, uma vez ou outra, até calha ser sensata e conhecer bem o tema em discussão.
Nos últimos tempos, contudo, a TSF tem decidido convocar governantes (ministros e secretários de Estado) para no "Fórum TSF" responderem "às questões dos ouvintes". Quanto a mim, embora em teoria a ideia até pareça boa, é um falhanço total, pois o programa acaba por se tornar num autêntico tempo de antena do governo. Porquê? Bom, em primeiro lugar porque o governante convidado, sem um interlocutor/entrevistador actuante mas apenas com um moderador, acaba por ocupar o tempo de que dispõe com propaganda política da mais primária. Em segundo lugar, porque - algo de muito português - existe um certo retraimento do público em afrontar o governante com perguntas - digamos - "incómodas"; e quando tal acontece (as perguntas "incómodas") a desproporção de conhecimentos e preparação entre público e convidado favorece incomensuravelmente este último. Por último, porque os apoiantes do governo/governante em causa aproveitam a oportunidade, não só para elogiá-lo, como, ao bom estilo dos partidos apoiantes de um governo na Assembleia da República, para colocar questões preparadas e que sabem de antemão serem da conveniência do convidado, fazendo-o "brilhar". Estamos, portanto, perante uma solução nas margens do populismo e que, embora na aparência muito democrática (governo responde directamente aos cidadãos), acaba por evidenciar os limites do diálogo directo entre cidadãos - individualmente considerados - e governantes e subverter a própria lógica da democracia representativa, essência das democracias liberais.
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