quarta-feira, fevereiro 15, 2012

Um parágrafo sobre a crise do SCP

Confessava há pouco durante o almoço que o que me faz confusão na crise do SCP é a ausência de sentido crítico dos seus adeptos e a ligeireza e superficialidade das análises que vejo e oiço nos "media" mesmo vinda de sportinguistas que reputo de preparados e responsáveis, como se tudo se resumisse à qualidade do treinador e/ou aos seus erros, ao facto de Godinho Lopes ter ou não mentido nas suas afirmações sobre a equipa técnica, ou a escolha de Sá Pinto ser ou não a mais adequada. Já ouviram falar em estratégia, modelo de negócio, estrutura e organização da SAD (Freitas Lobo foi o único que até agora levantou - e bem - este último problema) ou já olharam bem para a situação financeira do clube? E se acordassem?

É que não quero passar o resto da vida a discutir o título com o FCP...

9 comentários:

Vic disse...

Não entendo essa questão da estratégia? Qual estratégia? A da influência nos centros de poder futebolísticos?
E o modelo de negócio? É precisamente pelo finca-pé que Roquette fez em passar a gerir o SCP como empresa, que o clube está como está. Em 1985, apesar de há 13 anos não ganhar nada, o clube apresentava resultados positivos de perto de 30 milhões de euros. Hoje, é o que se vê. O engano, quanto a mim, é a criação da SAD. Os dois grandes clubes espanhois não são SAD's e são "só" os emblemas com maiores receitas em todo o mundo. O SCP nunca deveria ter sido tirado aos sócios para ser entregue a investidores.
Quanto á estrutura, não me parece muito diferente da do SLB, embora neste caso o modelo de agora se pareça cada vez mais com o do FCP (modelo presidencialista).
Não li o Freitas Lobo. Onde é que escreveu?

Abraço

Vic disse...

Já agora, dê uma leitura à resposta que deixei no seu post dos 10 pontos.

JC disse...

Nada tem a ver com ser ou não ser SAD, nem modelo de negócio e estratégia tês a ver com clube empresa, meu caro. O Real Madrid e o Barça têm modelos de negócio e estratégias de clube bem diferenciadas e definidas, tal como políticas de recursos humanos. Actualmente, o SLB tb a tem, tal como acontece c/ o FCP desde os anos 70. O SCP tinha-a c/ o enfoque na Academia e a valorização dos recursos aí formados. Assim, um teinador como Paulo Bento, que vinha da Academia, fazia todo o sentido. Este modelo atingiu bons resultados, c/ o SCP a ser a 2ª melhor equipa da década na conquista de títulos e conseguir uma exploração equilibrada no ano em que vendeu o Nani. Destruiram-no quando, em parte, (apenas em parte, note-se) ele foi posto em causa com a recuperação do SLB e substituiram-no por... coisa nenhuma. O SCP precisa de 20 ou 25M até ao final do ano (e assim sucessivamente). Onde os vai conseguir? Que receitas extraordinárias vai gerar para tal? O BES vai continuar a emprestar? Enfim... e seu eu "lampião" que tenho de me preocupar c/ estas coisas?
Abraço

Vic disse...

O grande problema do Sporting não está no enfoque na Academia. Este, continua a ser o mesmo. O problema é que daí não tem colhido frutos. Os últimos foram o Moutinho e o Veloso. E isso é, digamos, uma questão alietória. Nunca se sabe o que uma academia pode produzir. A maior do mundo era a do Ajax, e agora quantos jogadores é que o clube vende? Nenhum. Como o Sporting.
Isso é uma miragem. Digamos que o Sporting tem tido azar e não tem ultimamente tirado frutos da sua Academia. Os grandes jogadores não se fabricam só porque se quer.
O grande problema, e esse, mais uma vez, podemos assacá-lo ao Roquete, foi a insistência em erguer um novo estádio, Foí aí que começou a derrocada financeira do SCP.
E continuo a bater na mesma tecla: o SCP só começou a ficar atrás do SLB em 2010. Que diabo, não é assim há tanto tempo.

Abraço

JC disse...

1. Um novo estádio era essencial, tal como o era para o SLB, FCP e outros. Municipais ou não. Mtºs (VSC, SCB, Coimbra, Aveiro, etc) sobre-dimensionados.
2. A partir de 2010, claro. Quando o SLB investiu a sério e quando estabilizou a sua gestão desportiva e modelo de negócio, obrigando o SCP a alterar a estratégia. Mas isso era uma questão de tempo.

JC disse...

Já agora e à laia de conclusão: por mtº duro que isto seja - e será - o SCP actual não tem capacidade para competir de igual para igual c/ FCP e SLB. Tentá-lo apenas irá acelerar o declínio do clube. A única estratégia correcta é assumir essa situação e encetar um projecto que permita ao clube, a médio prazo, ser um "outsider" mais consistente no futebol português face ao domínio mais do que previsível de SLB e FCP, ultrapassando o SCB. Ou então conseguir um investidor cujo dinheiro permita alterar este estado de coisas. Não é assim?
Abraço

JC disse...

As contas do Sporting são fáceis de fazer. Com um déficite operacional (receitas - custos operacionais) de ~15 M€/ano e um custo da dívida de ~10 M€/ano, o Sporting necessita, para pagar a dívida e equilibrar as contas, de ~25 M€ de receitas extraordinárias por ano. Como é que isto pode ser conseguido? (1) Aumentam-se as receitas operacionais através de um forte investimento na equipa, garantido uma boa presença nas fases finais da Champions todos os anos e aumento das receitas de bilheteira e merchandising devido ao efeito euforia (estratégia do Benfica e Porto); (2) Vende-se 25 M€ em pases de jogadores todos os anos ou (3) Reduz-se a base de custos por forma a reduzir o deficit operacional (estratégia do Sporting até ao ano passado)

O problema é que agora é muito tarde para qualquer uma das 3 estratégias ter resultado. (1) A primeira necessita de forte investimento durente 3/4 anos até dar resultado e neste momento não existem investidores para suportar este investimento (acbou-se o crédito bancário), para além do mais, tendo os dois outros grandes já adoptado esta estratégia, torna-se mais dificil que exista espaço para um terceiro! (2) A segunda só é possível aliada à primeira, porque não dá para vender 25 M€ de ano em jogadores sem ir à Champions e sem sucesso desportivo,pode funcionar um ano de vez em quando (como no caso do Nani) (3) A terceira, é o que se designa hoje em dia "empobrecimento contínuo", e que, como se viu no Sporting, dá origem a um ciclo recessivo (menos custos, menos sucesso desportivo, menos receitas, ...).

Dito isto, a salvação por um investidor qualquer parece-me utopia. Qualquer investidor verá que não existe possibilidade de fazer um turn-around no Sporting. A única hipótese é um Angolano qualquer que queira protagonismo e esteja disposto a perder uns cobres. Mas digamos que é uma pobre visão do futuro ...

JC filho disse...

O JC é JC filho, para que n haja confusões :)

JC disse...

Em termos de modelos teóricos, está certo e as opções serão essas. Mas penso que c/ um investimento na formação e um clube desportivamente bem gerido o SCP pode resistir razoavelmente a um período de relativo empobrecimento (desinvestimento nas contratações) desde que não pense ser possível competir c/ SLB e FCP, que tb irão enfrentar alguns problemas de financiamento. E se a presença na CL ajuda mtº a valorizar e vender activos, nos dias de hoje, com os grandes clubes dotados de excelentes departamentos de recrutamento, é possível, aqui e ali, ultrapassar a ausência na CL. Pode não dar p/ vender todos os anos o passe de um jogador por 20 ou 25M; mas, nos anos mais favoráveis, poderá permitir vender 1,2 ou 3 por 5 ou 10M. É o modelo mais realista, talvez o único possível,que permitiria ao SCP lutar para o 3º lugar e, uma vez ou outra, ganhar uma taça e, com tudo a correr bem, conseguir um 2º lugar esporádico. Foi o modelo seguido pelas direcções anteriores c/ Paulo Bento como treinador e que, na altura, dava para o 2º lugar e p/ a CL. Tudo o resto é sonhar acordado, mas desde JEB que o SCP é gerido pela "rua" sportinguista. É o caminho para o desastre. Numa coisa JEB tinha razão e foi certeiro: o SCP investe demais para ser só 3º e de menos para conseguir ser 1º.