Aí por meados dos anos oitenta do século passado (isto de dizer o "século passado" acaba por dar uma certa "patine"), Portugal foi invadido por uma epidemia de sobretudos verdes que a campanha presidencial de Freitas do Amaral ajudou a popularizar. De repente, como acontece com todas as modas, os tais sobretudos verdes sumiram-se tão rapidamente como tinham surgido e não me consta a derrota de Freitas do Amaral para tal tenha contribuído.
E, no entanto, o "loden" (e é disso que estamos a falar) está muito longe de ser uma peça de vestuário "de moda", constituindo, antes pelo contrário, um clássico mais ou menos intemporal. Trata-se, originalmente, de um casaco de caça austríaco de textura relativamente grosseira e fabricado com uma mistura de lãs virgens de carneiro a alpaca (grande número dos que se viram em Portugal eram imitações mais baratas), bastante quente, com alguma resistência à água e que pelo seu "corte" largo permite grande liberdade de movimentos, característica necessária aos caçadores mas que dá muito jeito a todos. Face a este conjunto de características que o tornam tão prático, admiro-me como desapareceu do mapa em Portugal, sendo, hoje em dia, raro cruzar-me com alguém com um vestido. No que me diz respeito, mantenho o meu, velhinho de uns vinte e cinco anos, ainda em uso, com todos os cuidados de manutenção para ficar para a eternidade. Nos dias mais frios como o de hoje, é de utilidade a toda a prova. Tem o "loden" contudo (opinião pessoal) um "contra": Pelo seu peso, volume e comprimento, é pouco prático para o "veste/despe quando se anda de carro.
Mas atenção: ao contrário do que vejo muitas vezes, nada de o usar com fatos mais formais ou até com "blazer", que é um casaco de clube. Pelas suas origens campestres e alpinas, o "loden" é para usar com um casaco de "tweed", com calças de bombazina ou flanela, ou então, pura e simplesmente, por cima de um "pullover" ou de uma daquelas camisolas grossas de lã "shetland".
8 comentários:
Lembro-me perfeitamente dessa invasão de lodens (que no Inverno seguinte desapareceram) aquando da campanha de Freitas do Amaral.
Tal como lá por 1976/77 houve uma invasão de samarras.
É... Se calhar a samarra é de esquerda e o "loden" de direita... Que disparate. Já agora, quando adolescente tive uma samarra.
Todo o contrário. A samarra era conotada exactamente com as mesmas pessoas que o loden.
Não consigo perceber as razões... Disparate. Se calhar o "Duffle Coat" c/ a esquerda, embora Montgomery, que o popularizou, fosse Marechal e conservador. E eu até votei no Soares!
Também nunca consegui perceber porquê, João, no caso das samarras. Mas se víamos uma sabíamos que quem a vestia era CDS ou PSD (então PPD). Idem para os casacos de carneira. O meu foi mandado fazer na Correaria Machado, em Alcácer do Sal (ainda existirá?) e custou... 1800$00. Enviaram-mo pelo correio sem acréscimo de preço.
Corresponderia à imagem "rural chique", talvez... Ao lavrador c/ posses.Seria um pouco como o boné do Paulinho das feiras. Haja pachorra!
Cujo, Paulinho, e por curiosidade também já vi envergar uma samarra. Que, por sua vez, prefiro ao "loaden". E não tem este gosto nada a ver sequer remotamente com qualquer sentimento "nacionalista", mas até as acho muito mais práticas, embora cubram menos o corpo (para isso e para quem aprecie - que não é o meu caso - há sempre o capote alentejano). Talvez a minha pouca simpatia pelo "loaden" tenha precisamente ligação com essa tal campanha eleitoral. Aquilo fazia-me lembrar as "hordas" de outras décadas, sabe?
De qualquer forma, acho um absurdo atribuirem-se conotações políticas a qualquer peça de roupa.
Como é óbvio, não tenho um "loaden" (também não tenho uma samarra há muito tempo, contento-me com os meus sobretudos) e só os tenho visto à venda no El Corte Inglês.
E realmente é curioso como quase desapareceram da circulação. Ao que parece, os donos só os usaram um ou dois anos...
Abraço e bom fim de semana
Ora viva!
Curiosamente, tb só os vejo à venda no El Corte Inglés e não sei se são autênticos. Um dia destes espreito para ver. Mas conservo o meu e ainda ontem e hoje, com este frio, lhe dei bom uso. Vai até bem abaixo do joelho e é quente e amplo. A samarra é mtº curta e só a usaria com uma pele de raposa falsa. Sou um admirador de raposas mas apenas enquanto animais vivos.
Bom domingo.
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