sexta-feira, fevereiro 17, 2012

"Saber ler, escrever e contar"...

No muito pouco que tive oportunidade de ouvir do debate de hoje na Assembleia da República, António José Seguro acusava, a dado passo, o governo de "preconceito" a propósito do fecho de um número importante de centros do projecto "Novas Oportunidades". Ora devo informar António José Seguro que não se trata de preconceito, mas de algo ainda mais grave por nascer de uma opção estrutural. Independentemente da avaliação que se possa fazer do projecto "Novas Oportunidades" e da sua relação custo-benefício (esperemos tal venha a ser feito já que há demasiada propaganda envolvida de ambos os lados), o que está em causa é, e em função da política de empobrecimento definida pelo governo e pelas instâncias europeias, a qualificação dos portugueses ter deixado de ser uma opção estratégica prioritária. Fácil de compreender: se a opção fundamental não é criar valor acrescentado e optar pela inovação, competir em termos europeus e no mundo desenvolvido, mas, como parece ser o caso, através dos salários e avançar para a Angola "rapidamente e em força", para que serve gente mais qualificada, investimento em investigação e desenvolvimento (o chamado R&D) e na economia do conhecimento? No caso dos portugueses mais qualificados, para emigrar, claro, cumprindo o desígnio do ministro Relvas. Estamos, pois, perante a versão século XXI do "saber ler, escrever e contar". Só nos faltava mesmo esta...

2 comentários:

Tiago disse...

Pois não podia estar mais de acordo caro JC!

Não querendo bater mais uma vez na ausência de uma estratégia central de desenvolvimento do país, com objectivos estratégicos claros, mensuráveis e passíveis de serem avaliados, monitorizados e debatidos com clareza e transparência, assentes numa coordenação governamental com amplo apoio parlamentar, resta-me acrescentar que bem poderemos voltar a introduzir a máxima "pobrezinhos mas honrados".

A propósito destas máximas antigas, é curioso notar ainda nos últimos dias o retorno de questões, expressões e debates em torno das guerras do século passado. Sinal também que a partilha dos espaços de poder na Europa estão mais uma vez de volta, e em tempo de crise com os valores da democracia participativa e liberdade individual "em baixa".

JC disse...

Bom, agora até temos um novo cardeal que diz que o lugar da mulher é em casa a tratar dos filhos, como se tal fosse uma obrigação e não uma opção de mãe ou pai.
Abraço