Em Portugal, parece que o êxito ou fracasso de uma manifestação se mede apenas pelo número de participantes que consegue reunir, gerando-se assim discussões intermináveis sobre o rigor dos números apresentados. Uma estupidez, pois o êxito ou fracasso de uma manifestação mede-se, fundamentalmente, pela sua capacidade para conseguir alcançar os objectivos a que se propõe (ou contribuir decisivamente para tal) e se tal depende, em parte, do número de participantes, está muito longe de se esgotar nesse ponto. Depende, também, da capacidade para mobilizar gente fora do habitual círculo do PCP e CGTP, tal como aconteceu, por exemplo, nas manifestações de professores durante o Governo de José Sócrates ou, até, da "Geração À Rasca". Da conjuntura política e das fragilidades do governo (se a manifestação for contra este) na área que é especialmente visada. Dos apoios, explícitos ou implícitos que consegue granjear no aparelho de Estado (foi importante para os organizadores o apoio do PR à "manif" da "Geração À Rasca"). Do sector que se mobiliza (uma manifestação da Função Pública, por habitual, terá sempre menor impacto que uma outra de um conjunto de empresas do sector privado). Do modo como decorrer a manifestação e do respectivo impacto mediático - e tal depende muitas vezes de acontecimentos imprevisíveis. Etc, etc, etc.
Por isso mesmo me parece inútil saber se na manifestação do último sábado estiveram presentes 100 000, 200 000 ou 300 000 pessoas. Restringido o seu âmbito aos habituais CGTP, PCP e BE, sem nenhuma novidade mobilizadora na sua organização e sem grandes apoios visíveis fora desse sector bem definido, sem objectivos tangíveis alcançáveis no curto-prazo, enfim, sem qualquer novidade no seu conteúdo, estejamos a falar de 100 000 ou 300 000 pessoas, limitou-se a mostrar a já conhecida capacidade de mobilização dos seus organizadores e apoiantes e a manter nestes a "chama viva". Parece-me bem que por aqui pode estar o governo descansado.
2 comentários:
Caro JC, pois concordo em absoluto contigo. Também me parece que este toque de pragmatismo (ou de qualquer acção para atingir determinados objectivos) é fundamental quando se organiza uma destas manifestações.
Resta saber, que não sei nem adivinho, se a organização tinha simplesmente como objectivo manter a "chama viva" e fazer uma demonstração de força de mobilização, sem qualquer outro fim à vista.
Sim, convenhamos que é curto, mas nem sempre estas coisas têm ideólogos brilhantes, nem são para fins imediatos, como conhecendo a história do pcp e cgtp saberás bem.
abraço
T
Pois, a tua observação faz todo o sentido. Só pergunto é onde essas manifestações de força mobilizadora sem que nada de concreto se alcance para os seus promotores levam o movimento sindical. Espero que não à emergência de movimentos de rua, inorgânicos ou radicais, como na Grécia. Com a UGT atrelada ao acordo de concertação e a CGTP ao PCP a coisa complica-se. E o país nunca terá precisado tanto de um movimento sindical reformista; mas simultâneamente autónomo, actuante e reivindicativo.
Abraço
Enviar um comentário