quinta-feira, fevereiro 23, 2012

Mourinho e Villas-Boas

Pondo de lado o folclore que a comunicação social gosta sempre de explorar, o aparecimento de André Villas-Boas ao lado de Pinto da Costa na bancada do Etihad Stadium é, na sua essência, bem revelador da diferença de personalidades entre ele e José Mourinho, e explica muito das dificuldades do primeiro em se impor no Chelsea e dos êxitos do segundo.

Do lado de José Mourinho temos um "profissional", uma personalidade cosmopolita, "bigger than life", um líder que "não faz prisioneiros" e a quem os seus homens seguem "até à morte". Simultâneamente, a única verdadeira estrela das equipas que dirige e que, por isso mesmo, nunca se sujeitaria a ser interpretado em todo o mundo como alguém que presta vassalagem a quem quer que seja, muito menos ao seu anterior empregador, uma personalidade provinciana e a caminho do patético como o é Pinto da Costa. Sintomático o modo como rompeu com o clube quando da sua ida para o Chelsea, mostrando a sua independência, nesse momento e futura, face aos seus empregadores e colocando-se, de imediato, um degrau acima do presidente do Porto e até do próprio clube. Mais de meio caminho andado para o seu triunfo, portanto.

Do lado de Villas-Boas temos uma quase relação pai/filho (ou padrinho/afilhado?) de alguém demasiado sentimental, que tem dificuldade em cortar o cordão umbilical e não se importa de se subalternizar e aparecer quase como uma marioneta daquele a que chamam "Papa", sintoma de uma personalidade fraca e pouco autónoma. Villas-Boas é portista e foi torcer pelo seu clube do coração? Claro, todos o sabem, mas tinha todos os pretextos para se deslocar ao Etihad sem necessidade de se sentar ao lado do seu ex-presidente. Deu um trunfo a Pinto da Costa, mas triste imagem de si a Abramovich e ao mundo. Se quiserem, ao "mercado".

Até pode ser que Villas-Boas seja imensamente competente, não vou duvidar e os seus resultados à frente do FCP parecem comprová-lo. Mas o mundo dos treinadores de futebol está com certeza cheio de gente competente e, portanto, tal requisito não basta para fazer a diferença. E é assim em toda a actividade humana...

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