Claro que o programa eleitoral do PS, nas suas cerca de 150 páginas (dizem), cumpre apenas uma mera função propagandística e nada nem ninguém, no seu perfeito juízo, o irá ler, muito menos atentamente, a não ser que por deveres profissionais ou outros que não vêm ao caso. Mas então, se ninguém o irá ler a não ser esteja nessas indigentes condições (coitados...), como pode ele cumprir essa sua função de propaganda? Muito simples...
- Em primeiro lugar porque para se opor, justificando coerência, à tal ausência de ideias e de propostas com que o PS ataca o PSD (não cabe aqui analisar se com ou sem razão), nada melhor do que um calhamaço prenhe de ideias e boas intenções; rules and regulations destinados a resolver os problemas de todo e qualquer sector, nicho ou segmento da sociedade portuguesa, ao género “nós sim e eles não”. “Está vivo e assim quer continuar? Está morto e quer ressuscitar? Nós temos a solução!” Demonstra interesse, envolvimento, trabalho, face ao atacado alheamento e soit disant “bota-baixismo” do PSD. Apresenta soluções, mesmo que na sua maioria se resumam a um catálogo de medidas de eficácia nula ou questionável, o que para o objectivo que quer cumprir é de somenos importância (o papel aceita tudo!).
- Em segundo lugar, o facto de ser algo que pela sua extensão e aridez poucos ousarão ler (e mesmo assim o farão com algum atraso) permite ao aparelho de comunicação do partido individualizar algumas medidas que este pensa serem mais emblemáticas, avançando assim com um género de “executive summary” que transmitirá antecipadamente aos “media” aquilo mais interessa ao PS e que, pelas suas características de novidade, imediatismo, facilidade de serem apreendidas pelo público em geral, etc, melhor se poderão transformar em títulos e “sound bytes” eficazes. Querem um exemplo? A tal história dos 200 euros por cada filho. Para além de um sinal dado à sociedade de que é necessário procriar, nenhuma eficácia prática terá e certamente haveria bem melhores alternativas para aplicação desses fundos com objectivos idênticos. Além de que estará muito longe de se tratar de uma prioridade face aos desafios que um futuro governo terá de enfrentar (competitividade, desemprego, desigualdade, déficit, endividamento, educação, justiça...) Mas é algo simples, imediatista, de distribuição gratuita (é dar dinheiro...), uma notícia agradável fácil de transformar num título ou em notícia de abertura de telejornais.
É de facto este, e mais nenhum, o papel que um programa eleitoral de 150 páginas irá desempenhar para o PS na campanha eleitoral. Espero bem que os outros partidos, principalmente o PSD como alternativa imediata de poder, apresentem algo bem mais simples e sucinto, como que uma condensada manifestação de intenções que permita aos eleitores verificar rapidamente qual o caminho pelo qual cada um dos partidos seguirá em caso de governação. Nada mais do que isso será necessário para que os eleitores possam ser informados e decidir em consciência. É que, assim como assim, e no que se refere ao PS, será bem mais revelador das intenções de uma futura política governativa a integração de nomes como Miguel Vale de Almeida e de Maria Medeiros (saúdo ambos) nas suas listas de candidatos do que quaisquer 150 páginas de programa eleitoral.
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