sábado, julho 25, 2009

(Correndo o risco de ser impopular) A estratégia de Luís Filipe Vieira e as finanças e futuro do Benfica

Depois de um exercício (2008/2009) em que o SLB se prepara para apresentar um prejuízo por certo superior a 20milhões de euros e de um novo (2009/2010) em que não só não terá acesso às receitas da Champions League como terá que amortizar a parte correspondente aos investimentos efectuados, não se prevendo, para já, receitas extraordinárias de monta com a venda dos passes de alguns jogadores (talvez Luisão, mas por um valor digamos que “modesto”), situação que irá repercutir-se nos resultados de exploração do ano que agora se iniciou, Luís Filipe Vieira terá, certamente com recurso ao endividamento, investido cerca de 25 milhões no reforço da equipa de futebol com o objectivo de ser campeão já esta época.

Trata-se de uma estratégia de altíssimo risco, que pode deixar o clube numa situação financeira muito, mas mesmo muito, complicada para os anos subsequentes. De facto, tendo em conta o domínio do FCP nos últimos anos, o funil cada vez mais estreito que é o acesso à Champions League (que constitui a grande fonte de receitas e a principal montra para venda de “activos” com elevadas “mais-valias”) para os clubes portugueses e a política de recursos humanos do clube - fruto dessa mesma obsessão de ser campeão “já” - demasiado centrada em jogadores pouco valorizáveis (Aimar, Cardozo, Saviola, Javi Garcia, Balboa) as probabilidades de recuperação do investimento efectuado parecem ser razoavelmente baixas, o que pode vir a agravar, quantitativa e qualitativamente, o passivo do clube hipotecando o futuro. No fundo, fruto de uma política desportiva que se tem revelado desastrosa, pode LFV, com esta estratégia, estar a sacrificar o desenvolvimento sustentado do clube e o domínio futuro do futebol português aos seus (de LFV) objectivos imediatos.

Sim, eu sei que isto diz pouco ou nada aos à maioria dos benfiquistas, desejosos, tanto como eu, de verem a bola na baliza adversária e de serem campeões ao fim de anos de desespero e frustrações repetidas. Tanto quanto também sei que ter razão antes de tempo nunca trouxe popularidade a ninguém. Mas, claro, convém também lembrar que há quem consiga acertar na lotaria, onde as probabilidades são bem mais escassas do que no cenário que aqui fica descrito. Espero bem seja esse o caso do meu clube e do seu actual presidente, mas ouvir uma palavra a Domingos Soares de Oliveira talvez me pudesse trazer mais algum conforto. Estranho o silêncio...

5 comentários:

JC filho disse...

Também não concordo com a estratégia de risco que está a ser levada a cabo pelo SLB. Mas dizer que jogadores como Javi Garcia e Balboa (que têm 22 anos) não poderão ser valorizados ... Nesse aspecto, a única contratação que não poderá ser valorizada é o Aimar (perto dos 30). Com uma boa época na UEFA e uma próxima época na CL, jogadores como o Javi Garcia ou o Saviola valerão muito mais do que aquilo que o SLB deu por eles.

Outra pergunta é se estes jogadores têm valor para valer mais, mas isso é outra ordem de ideias que também pode ser discutida. Mas, mais uma vez, todos os jogadores comprados, excepto o Aimar, são claramente susceptíveis de valorização em caso de sucesso desportivo.

A minha crítica é exactamente a contrária, acho que se compraram demasiados jogadores numa prespectiva de valorização a longo-prazo (Sidnei, D. Luiz, Patric, Javi G., Urreta, Di Maria, ...) e poucos que possam aportar valor de imediato (apenas Saviola, Aimar e Ramires).

Esta é que é para mim o principal ambiguidade na estratégia do Benfica: Investe-se para ter retorno desportivo imediato, mas com muitos jogadores que apenas se irão valorizar a longo-prazo.

O FCP, cujo estratégia não tenciono usar como best-pratice já que engloba comprar outros elementos do fenómeno desportivo que não jogadores (árbitros e últimamente equipas da 1ª divisão inteiras), opta por jogadores de 24/25 anos que poderão ser valorizados em apenas 1/2 anos e têm retorno desportivo em 1 ano!

Unknown disse...

De acordo com o extremo risco diagnosticado (ainda mais quando a anterior prática negocial medíocre, a comprar e a vender, não dá esperança para "cartas na manga" ou "golpes de asa"; como é que o homem consegue ter, pelo menos aparentemente, o êxito que tem nos seus negócios pessoais?) e também com o reajustamento da mira feito pelo JC filho. O Benfica de Vieira parece mesmo um caso típico de bulimia-anorexia...
carlos

JC disse...

Sinceramente, duvido jogadores como Saviola (com o seu anterior fracasso em Espanha), Balboa (c/ os problemas da época passada e não se tendo imposto no RM nem agora no SLB)ou mesmo Coentrão (c/ o seu anterior falhanço), para já não falar de Carlos Martins, Cardozo (é mtº útil ao SLB mas já não se usa a alto nível) ou da incógnita Di Maria sejam facilmente valorizáveis, principalmente c/ a equipa fora da C.L. Há que entrar com todas as componentes que podem influenciar o negócio e não só c/ a idade. Foi isto que quis dizer ao falar em "dificilmente valorizáveis". Tb gostei de ver Garcia, que sabe jogar à bola e é mtº novo, mas não me parece um jogador para gerar enormes mais valias em função do alto preço que o SLB deu pelo seu passe (mais de 7 MM). Depois há David Luiz, Sidnei, Patric... Mas que valor poderão atingir se Luisão, titular do Brasil, pouco passará do 10MM e nem o FCP consegue vender Bruno Alves a um preço elevado, hoje por hoje, um dos melhores centrais europeus?
Quanto ao FCP, abstraindo de tudo resto que é verdadeiro, tem de facto uma política de recursos humanos consistente. Esse é de facto um dos seus pontos fortes, mas essa política de RH tb assenta na satelização de outros clubes.

JC disse...

Deixem-me só acrescentar uma coisa: lembram-se de algum jogador, espanhol ou sul-americano, que depois de não ter conseguido impor-se na Liga espanhola tenha conseguido revalorizar-se em Portugal? Penso que a resposta de ambos será "não", o que ainda mais reforça o risco do MNEC (modelo de negócio em curso).
Bom domingo!

JC filho disse...

Mais uma vez acho que esta a misturar dois conceitos. Jogadores com perfil de valorização vs qualidade ou n do jogador. A qualidade ou não do jogador é difícil de discutir antes de 1 ou 2 anos no campeonato português, o perfil de valorização basta olhar para o CV.

Acho que o SLB tem contratado jogadores com perfil de valorização (novos, vindo das selecções jovens dos seus países, ...), o problema é que este perfil de valorização é a médio/longo prazo e a estratégia do SLB passa por ganhar a curto-prazo!

Outro eixo da questão é o valor dos jogadores. Aí tem havido dois problemas: 1. Jogadores sem valor para o SLB (Halliche, Marcel, ... um rol invindável de nomes) e pouco tempo para a adaptação de jogadores ao clube e ao campeonato português (Deco, Bergessio, ...) o que resulta da obrigatoriedade de ganahr no curto-prazo.

Resumindo, para mim dois principais problemas a nível de cotratação de jogadores são: 1. Estratégia de ganhar no curto prazo não está alinhada com o perfil de jogadores contratados (teriam de ser jogadores inequívocos e sem necessidade de adaptação); 2. Escolha em muitos casos de jogadores fracos e sem valor.

Concordo, que a solução seria mudar a estratégia, porque mesmo conseguindo contratar jogadores inequívocos e sem necessidade de adaptação, não é fácil ganhar de 1 ano para o outro, comporta um grande risco.