sexta-feira, julho 03, 2009

Cavaco Silva e o "fair-play"

Não gosto de alimentar o ruído e, desculpem-me, penso posso exigir de mim um pouco mais do que a ausência de originalidade. Por isso mesmo, não vou analisar politicamente a “indignação” do Presidente da República perante o gesto de ontem do ministro Pinho e as incoerências (e/ou incongruências) que ela possa comportar. Pelo que por já vi, há muito quem o faça e também muitos deles com enorme justeza.

Quero apenas frisar que as afirmações de Cavaco Silva vinte e quatro horas depois dos acontecimentos se terem dado e terem sido (bem) geridos e resolvidos por quem o poderia e deveria fazer, face a alguém derrotado e certamente amarfanhado perante a (re)visão e repercussão do seu gesto – castigo suficiente, são, no mínimo, deselegantes, revelando total ausência de cavalheirismo e de qualquer réstia de fair-play que, ainda acredito, possa, e deva, ser associada ao combate político. Neste sentido – do cavalheirismo e do fair-play - teria preferido ver Cavaco Silva, Presidente da República de todos os portugueses, afirmar que se teria tratado de um mau momento de imediato resolvido, e que, por isso mesmo, estaria para ele encerrado.

Moralmente, esse sim, teria sido o bom exemplo.

12 comentários:

gin-tonic disse...

Caro JC: também gosto de vestir a camisola de ingénuo, não vem mal ao mundo e agasalha quando os passos começam a ficar mais lentos.
Mas com Cavaco Silva não dá. Conseguiu enganar, mais uma vez, alguns portugueses quando se fez eleger presidente da república. Melhor: quando Sócrates, deixou que o PS se dividisse e lhe possibilitou a vitória.
Só alguém de baixa nivel, seja qual for, se deixava envolver como Dias Loureiro o envolveu, só alguém sem coluna vertebral permitiria que, quem o tratou por Sr. Silva tivesse feito o que fez quando visitou a Madeira.
E há mais, mas isto é uma caixa de comentários.
Mas diga-se que já há uns tempos que anda com a Manuela Ferreira Leite ao colo. E não vejo maneira de se estatelarem...

JC disse...

Foi meu professor de Finanças Públicas, Gin-Tonic... por isso, não me enganou! Mtº mudou ele! E não tenho razão de queixa, pois deu-me 12, uma nota na altura e para ele acima da média. por isso, tudo o que diga não tem nada dce despeito.
Como 1º ministro foi o maior responsável por um modelo de desenvolvimento e de arrivismo social que conduziu o país a um beco. Lamento que o governo Guterres, que se lhe seguiu, não tenha tido coragem de o inflectir. disse-o na altura a quem quiz ouvir!
Bom fds

ié-ié disse...

Absolutamente de acordo, JC! Os "comentários" de Cavaco Silva, além de extemporâneos, cheiraram a oportunismo eleitoralista. Foi mal! Fugiu-lhe o pé para a chinela... não é assim que se diz?

Remando contra a maré, companheiro, não alinho no coro de "indignação" contra o ministro. Já houve coisas bem piores no Parlamento!

O que me preocupa, é que estou de acordo com as apreciações do presidente da CIP.

Indigna-me que nada se diga contra o também oportunismo dos trotskistas e que toda a gente se babe com o ar angelical do ultra-estalinista do Bernardino Soares, meu companheiro de compras no Pingo Doce.

Abraço solidário (com excepção do Benfica, é claro).

Viva os chifres para (alguma) classe política!

LPA

JC disse...

LT:
1. Acho o pé, de facto, nunca de lá saiu (da chinela).
2. Claro que os "corninhos" são um "fait divers", até, no limite, aceitáveis numa discussão entre deputados tendo em atenção o baixo nível a que se chegou no debate político (no séc. XIX era pior, mas o escrutínio pela opinião pública quase inexistente). Mas vindo de um ministro de um governo que se está a sujeitar a um acto democrático como é um debate parlamentar, parece-me não poderia ter outro desenlace. E, como vês, não alinhei no coro geral de indignação e até escrevi um "post" bem ligeirinho.
Abraço

Rui disse...

Meu caro: Concordo 100pct consigo. Só que vislumbro no seu comentário uma certa surpresa de que não compartilho. O Sr. Cavaco é falso como o Judas e a vida politica é para ele um palco, já se viu de treceiras categorias...Tudo o que diz é estudado(mal, claro..)e aquele pseudo ar de justiceiro de aldeia liga muito bem com a marquise, o Sr.Oliveira e Costa, O Sr. Martins da TAP e com o Sr. Loureiro... Não acha?

JC disse...

Caro Rui: posso achar mtª coisa do actual PR, mas não me parece seja falso: é um conservador, provinciano, com uma concepção demasiado instrumental da democracia e sobre isso nunca pretendeu enganar quem quer que fosse. Por ser provinciano até a medula, nunca consegue parecer à vontade no papel de um político exposto ao mundo, tudo é um pouco "postiço". Mas é uma pessoa íntegra, dê-vo dizê-lo, um economista respeitado (eu próprio o respeito enquanto tal, embora as suas capacidades técnicas excedam em mtº as pedagógicas)mas politicamente limitado. Por isso, não me parece possa ser comparado a alguém como Dias Loureiro, será injusto, o que ainda provoca mais estranheza face à tibieza das suas atitudes perante este. Talvez um dia venhamos a saber a razão...

Rui disse...

Carissimo JC: Fique-se com a sua, que eu me quedo com a minha... Julgo que não estou a ser injusto: quando digo que o homem é falso não quero com isso dizer que seja materialmente desonesto, embora a sua honestidade intelectual seja muito fraca...E é você que o diz, ao criticar a forma cobarde como bateu no já moribundo MP (outro parolo!)...
O que quero dizer é que nele tudo soa a potiço e a falso... Claro que o seu provincianismo provoca um "bold" gigantesco de alguns dos seus pontapés no politicamente correcto...
Quanto aos amigos, não fui eu que lhos escolhi, embora repito, o meu sentimento é que com eles não tenha lucrado un cêntimo.

Rui disse...

Só mais uma coisinha: nunca, mas nunca vou perdoar ao homem o inusitado tabu (salvo erro de 95)e o subsquente facto de ter fugido, deixando-nos completamente abandonados à mercê do +S e com um PSD desfeito, mergulhado numa crise tipo SLB e da qual ainda hoje não recuperou.
Tem de concordar que não foi provincianismo, mas sim medo e uma acentuadas falta de lealdade para todos aqueles que, como eu, o andaram a apoiar.

Rui disse...

Errata do meu comentário anterior. Sorry...

...abandonados à mercê do PS...

...medo e uma acentuada...

JC disse...

Continuo a achar que Cavaco Silva é um homem honesto, não lucrando materialmente com o seu percurso político, nesse sentido se diferenciando claramente de Dias Loureiro. Cavaco tem um percurso profissional meritório, independente da política. Tomara que todos assim fossem. Mas é um conservador, alguém (acho) sem fortes convicções democráticas e daí o seu apoio a A. J. Jardim e a sua omissão face a alguns atropelos a essa mesma democracia. Conheci-o como meu professor e já na altura era acanhado, pouco à vontade, desconfiado e extremamente complexado. Daí eu achar que algumas das suas atitudes derivam mais dessas suas características de personalidade do que de uma desonestidade pessoal de carácter.
Como já tenho escrito aqui pelo "blog", tb por isso mesmo me causa alguma estranheza a sua amizade c/ gente como Oliveira e Costa e Dias Loureiro. Talvez um dia essas coisas se esclareçam...
Quanto à questão do "tabu" e do seu abandono, caro Rui, não deixando de lhe dar a si alguma razão, tb me parece a responsabilidade não seja só de Cavaco silva. olhe para trás e veja as lutas, cisões, problemas e facções do PSD quase desde a sua fundação. mas isso dava um livro - ou vários...

Rui disse...

Carissimo: Já lhe tinha sublinhado que em minha opinião o homem é sério e que nunca terá beneficiado materialmente dos seus conhecimentos e amizades.
Quanto à honestidade intelectual tenho as minhas duvidas (não tenho certezas como ele dizia ter..). Se calhar estou a ver mal o problema...
Quanto à questão do tabu, discordo de si: o PSD foi sempre de punhaladas nas costas, mas o homem teve tudo para inverter a situação. Só que como a época era de vacas gordas e Portugal era o bom aluno da França e da Alemanha, apareceu a fatidica arrogancia, enquanto que o partido era deixado à deriva... E as consequências foram as que se conhecem : Deixou-nos a todos dependurados, metidos num buraco de todo o tamanho, de que nunca mais saímos.

Por isso se os louros foram para ele, os espinhos tambem o devem ser.

JC disse...

É verdade que deixou o PSD um pouco á deriva. Sem dúvida. Mas o problema é quando as organizações dependem demasiado do homens providenciais! Veja o caso do PCP, por exemplo, partido pelo qual náo nutro qualquer simpatia. Depois de ter tido um líder carismático como Cunhal, durante decénios, conseguiu graças à sua força colectiva e organizativa, ultrapassar o problema, mesmo num contexto aparentemente pouco favorável. O problema do PSD é que, de facto, nunca foi uma instituição + ou - homogénea, com um corpo ideológico razoavelmente consistente. Mesmo o PS, um pouco tb um "catch all party", acaba por ter um corpo doutrinário mais claro.
Cumprimentos