Depois de quatro jogos via TV e um “ao vivo” que é possível dizer do SLB 09/10?
Bom, ao contrário da época transacta, em que a equipa jogava num 4x4x2 clássico (mais ou menos clássico, pois - em vez de um médio central mais avançado e outro mais recuado, à maneira da equipa de Toni com Meira e Calado em que este jogava mais à frente com Poborsky e Miguel nas alas - a equipa de Quique jogava com um duplo “pivot” defensivo em que, quando tinha a bola, ora avançava Yebda ora “Katso”) dando suporte a um “bloco” baixo e transições ofensivas por meio de passe longo para as costas da defesa contrária ou através de Reyes, o SLB de Jesus opta por um 4x4x2 em losango, embora de certo modo irregular já que o lado esquerdo (Di Maria ou Coentrão), pelas características dos jogadores que aí actuam, tende a ser mais “exterior” do que o direito com Martins, Amorim ou Ramires, que tenderão a procurar mais os espaços interiores. Do lado direito compete a Maxi compensar, com os seus avanços, essa tendência para a interioridade dos médios desse lado, até porque os seus avanços no terreno são defendidos pelas características mais conservadoras dos médios do lado direito, que “equilibram” a equipa defensivamente. Do lado esquerdo é Saviola quem frequentemente compensa as “interioridades” de Di Maria, já que Coentrão é dos dois quem maior tendência apresenta para o jogo exterior e Sepsi e Shaffer não têm (ainda?) vida para grandes aventuras. Aimar é o vértice mais avançado, apesar de recuar frequentemente na busca de jogo.
Normalmente associamos o losango a um modelo de posse e circulação de bola, à Sporting, mas não me parece seja esse o caso típico deste SLB em que, uma vez mais e pelas características dos seus jogadores, parece existir alguma dificuldade em fazer circular a bola dando preferência às transições rápidas, por via dos passes da Aimar mas muito também com recurso ás cavalgadas de Di Maria e Coentrão, do lado esquerdo, e Maxi ou Carlos Martins, no lado direito (com Ramires parece-me será diferente). Esta nova distribuição de elementos, na base de um princípio de jogo que privilegia a transição centrada na condução de bola e no passe mais curto, permite à equipa jogar mais à frente do que na época passada, gostando de assumir o jogo o que também não acontecia com a equipa de Quique que era muito mais uma equipa “de espera”. Assim sendo, a equipa parece mais talhada para a maioria dos jogos no campeonato português, onde as equipas utilizam um bloco baixo sem espaço atrás da defesa e concedendo o meio-campo ao adversário.
Problemas?
Já aqui foquei alguns, com especial destaque para a ausência de um “número 6” (será Javi Garcia?), mas reputo de fundamental o comportamento defensivo da equipa. Porquê? Basicamente porque a equipa não tem no meio-campo ofensivo e no ataque quem pressione sem que isso se revele uma actividade “contra-natura”. Apesar do esforço nesse sentido que já vemos em Di Maria, Coentrão ou até Aimar, nunca a pressão e a conquista da bola serão seus pontos fortes, ao contrário do que acontecia com o FCP de Lucho e Lizandro (que mesmo assim tinham atrás de si Meireles e Fernando) ou com o SCP de Derlei, Moutinho e até Liedson. Ora quando se recorre a um único “pivot” defensivo (agravado por este ser pouco agressivo defensivamente, como Amorim, ou por integrar como será Garcia) é fundamental que quem está à sua frente evite que os elementos da equipa contrária lhe surjam com total controle da jogada, com tempo e espaço para escolher as melhores opções. Isto agrava-se quando sabemos que no losango se torna essencial o recurso a laterais ofensivos, e que se Maxi pode dar garantias de saber “subir e descer” com alguma consistência, o lado esquerdo está longe de dar idênticas garantias. Mais ainda, a tendência de Di Maria e Coentrão para privilegiarem o jogo exterior tende a abrir um “buraco” no meio-campo ofensivo do SLB, permitindo ao adversário povoá-lo e iniciar aí, de modo consequente, as suas transições ofensivas. Olhanense e Atlético (no caso deste enquanto não começaram as substituições) perceberam-no e montaram aí o seu “negócio”, não permitindo ao SLB, em grandes períodos do jogo, ameaçar as respectivas balizas.
Outro problema consiste numa possível falta de consistência do ataque (com excepção de Cardozo) e do meio-campo ofensivo do SLB, composto por jogadores (Di Maria, Aimar, Martins, Saviola, Coentrão, Urreta e Balboa – já não falando de Mantorras ou Nuno Gomes) que têm um passado recente de grandes oscilações de forma e/ou lesões frequentes. Também o papel nuclear reservado a Aimar pode constituir, por isso mesmo, um problema, para além de me questionar se este pode ser, neste momento da sua carreira, um jogador de grandes espaços a que este sistema o obriga, principalmente quando, nos jogos a doer, o ritmo e intensidade de jogo aumentarem na proporção em que o tempo e espaço diminuírem. Por alguma razão, na época passada Quique evitou fazê-lo. Também uma alternativa a Cardozo (que não será Weldon), em caso de lesão, pode, e deve, preocupar, dependente que a equipa está das suas prestações de goleador.
Enfim, algumas certezas e outras tantas interrogações. Voltarei seguramente ao tema, mas, para já e como sempre, prefiro falar (ou escrever) antes do bom ou do mal acontecerem. O tempo dirá das minhas (não)razões.
Nota: não me preocupo com o guarda-redes pela simples razão de que não me parece seja possível, no momento, arranjar significativamente melhor.
Bom, ao contrário da época transacta, em que a equipa jogava num 4x4x2 clássico (mais ou menos clássico, pois - em vez de um médio central mais avançado e outro mais recuado, à maneira da equipa de Toni com Meira e Calado em que este jogava mais à frente com Poborsky e Miguel nas alas - a equipa de Quique jogava com um duplo “pivot” defensivo em que, quando tinha a bola, ora avançava Yebda ora “Katso”) dando suporte a um “bloco” baixo e transições ofensivas por meio de passe longo para as costas da defesa contrária ou através de Reyes, o SLB de Jesus opta por um 4x4x2 em losango, embora de certo modo irregular já que o lado esquerdo (Di Maria ou Coentrão), pelas características dos jogadores que aí actuam, tende a ser mais “exterior” do que o direito com Martins, Amorim ou Ramires, que tenderão a procurar mais os espaços interiores. Do lado direito compete a Maxi compensar, com os seus avanços, essa tendência para a interioridade dos médios desse lado, até porque os seus avanços no terreno são defendidos pelas características mais conservadoras dos médios do lado direito, que “equilibram” a equipa defensivamente. Do lado esquerdo é Saviola quem frequentemente compensa as “interioridades” de Di Maria, já que Coentrão é dos dois quem maior tendência apresenta para o jogo exterior e Sepsi e Shaffer não têm (ainda?) vida para grandes aventuras. Aimar é o vértice mais avançado, apesar de recuar frequentemente na busca de jogo.
Normalmente associamos o losango a um modelo de posse e circulação de bola, à Sporting, mas não me parece seja esse o caso típico deste SLB em que, uma vez mais e pelas características dos seus jogadores, parece existir alguma dificuldade em fazer circular a bola dando preferência às transições rápidas, por via dos passes da Aimar mas muito também com recurso ás cavalgadas de Di Maria e Coentrão, do lado esquerdo, e Maxi ou Carlos Martins, no lado direito (com Ramires parece-me será diferente). Esta nova distribuição de elementos, na base de um princípio de jogo que privilegia a transição centrada na condução de bola e no passe mais curto, permite à equipa jogar mais à frente do que na época passada, gostando de assumir o jogo o que também não acontecia com a equipa de Quique que era muito mais uma equipa “de espera”. Assim sendo, a equipa parece mais talhada para a maioria dos jogos no campeonato português, onde as equipas utilizam um bloco baixo sem espaço atrás da defesa e concedendo o meio-campo ao adversário.
Problemas?
Já aqui foquei alguns, com especial destaque para a ausência de um “número 6” (será Javi Garcia?), mas reputo de fundamental o comportamento defensivo da equipa. Porquê? Basicamente porque a equipa não tem no meio-campo ofensivo e no ataque quem pressione sem que isso se revele uma actividade “contra-natura”. Apesar do esforço nesse sentido que já vemos em Di Maria, Coentrão ou até Aimar, nunca a pressão e a conquista da bola serão seus pontos fortes, ao contrário do que acontecia com o FCP de Lucho e Lizandro (que mesmo assim tinham atrás de si Meireles e Fernando) ou com o SCP de Derlei, Moutinho e até Liedson. Ora quando se recorre a um único “pivot” defensivo (agravado por este ser pouco agressivo defensivamente, como Amorim, ou por integrar como será Garcia) é fundamental que quem está à sua frente evite que os elementos da equipa contrária lhe surjam com total controle da jogada, com tempo e espaço para escolher as melhores opções. Isto agrava-se quando sabemos que no losango se torna essencial o recurso a laterais ofensivos, e que se Maxi pode dar garantias de saber “subir e descer” com alguma consistência, o lado esquerdo está longe de dar idênticas garantias. Mais ainda, a tendência de Di Maria e Coentrão para privilegiarem o jogo exterior tende a abrir um “buraco” no meio-campo ofensivo do SLB, permitindo ao adversário povoá-lo e iniciar aí, de modo consequente, as suas transições ofensivas. Olhanense e Atlético (no caso deste enquanto não começaram as substituições) perceberam-no e montaram aí o seu “negócio”, não permitindo ao SLB, em grandes períodos do jogo, ameaçar as respectivas balizas.
Outro problema consiste numa possível falta de consistência do ataque (com excepção de Cardozo) e do meio-campo ofensivo do SLB, composto por jogadores (Di Maria, Aimar, Martins, Saviola, Coentrão, Urreta e Balboa – já não falando de Mantorras ou Nuno Gomes) que têm um passado recente de grandes oscilações de forma e/ou lesões frequentes. Também o papel nuclear reservado a Aimar pode constituir, por isso mesmo, um problema, para além de me questionar se este pode ser, neste momento da sua carreira, um jogador de grandes espaços a que este sistema o obriga, principalmente quando, nos jogos a doer, o ritmo e intensidade de jogo aumentarem na proporção em que o tempo e espaço diminuírem. Por alguma razão, na época passada Quique evitou fazê-lo. Também uma alternativa a Cardozo (que não será Weldon), em caso de lesão, pode, e deve, preocupar, dependente que a equipa está das suas prestações de goleador.
Enfim, algumas certezas e outras tantas interrogações. Voltarei seguramente ao tema, mas, para já e como sempre, prefiro falar (ou escrever) antes do bom ou do mal acontecerem. O tempo dirá das minhas (não)razões.
Nota: não me preocupo com o guarda-redes pela simples razão de que não me parece seja possível, no momento, arranjar significativamente melhor.
10 comentários:
Vamos ver JC, como diz e bem o tempo o dirá!
Abraço
Caro JC,
Gostei da análise e partilho de algumas dúvidas e apreensões. Vamos ver.
Pelo menos, o plantel revela-se bem mais equilibrado. Os jogadores passaram a jogar nas suas posições, correm, e tentam pressionar.
De toda a análise, apenas duas discordâncias:
1. Parece que ainda existe um elevado desconhecimento quanto às características e capacidades do craque Ramires. Eu conheço-o bem do Cruzeiro. O Ramires será decisivo, e figura da Liga, se jogar na posição em que está agora o Aimar, ou se for colocado a dinamitar o lado direito. Atenção: se pedirem ao Ramires para abrir o flanco, como no escrete, trata-se de um extremo terrível! Logo, nada tem a ver com o Martins ou o Amorim...
2. Saviola nunca teve "oscilações de forma". Quando o deixaram jogar - River e Barcelona, por exemplo -, foi sempre determinante. O problema, é que no Real Madrid não lhe deram verdadeiras oportunidades. Se há contratação para a qual não tenho "reservas", é a de Saviola. No nosso campeonato, tem tudo para brilhar a grande altura!
Ramires: No jogo e meio que o vi fazer, na Taça das Confederações, "escondeu-se", jogando sempre pela certa, isto é, passe curto para quem estava livre. Mas isto não quer dizer nada. Penso que no SLB jogará no lado dtº do losango, onde tem jogado Carlos Martins. Veremos.
Saviola: Pois, mas não joga há algum tempo. Ainda vale o que valia? Vamos ver. Há mtªs incógnitas.
JC, então não se vê que o Saviola ainda (nos) vale?
Até agora, tem sido dos melhores...
Meus amigos,
Prognosticar só no final... O que nos faz duvidar de tudo é o facto de nao acreditarmos na estrutura que está por trás da equipe, com excepçâo do treinador a quem, de uma forma geral, se dará o beneficio da duvida.E, não é possivel ainda ter indicações suficientes para se fazer um juizo sobre a competividade deste team. Um factor positivo: apesar dos métodos pouco ortodoxos da preparação fisica, há poucas lesões, para já...
A inseguraça crónica de um benfiquista lucido é pois mais do que natural, nesta idade de trevas em que mergulhamos e de que não conseguimos sair.Muito do problema é psicológico e resulta de sucessivos longos anos de má gestão e de arripiantes asneiras.Um pouco de sorte será bastante util e essencial para quebrar o sentido descendente, uma vez que só o trabalho de Jesus & cia. nao chega.Agora se o losango está bem desenhado ou nao, se Garcia e Ramires vão decidir e por aí fora a ver vamos.O essencial é que comecemos logo a contabilizar vitórias. Bastantes. Se assim acontecer, temos plantel com qualidade para discutir a liga.O problema, é se isto dá novamente para torto...Desta vez não vislumbro plamo B...
Pois é, Filhote, mas já vo suficiente futebol para não embarcar em ilusões e em craques de pré-época. Veremos se Saviola confirma as 1ªs impressões.
É isso mesmo, Rui: não há plano B e um falhanço arrisca-se a hipotecar a saúde financeira do clube para mtºs anos. voltarei ao assunto em "post".
Estas análises, caro JC, deixam-me profundamente deliciado. De repente vejo-me a ler em "A Bola", no tempo em que os animais falavam, as reportagens do Vitor Santos ou do Carlos Miranda sobre o Tour.
Fui completamente incapaz de ver o que tu me relatas. Porque dos jogos do "Glorioso"tenho uma visão muito primitiva: apenas quero ver o balançar das redes adversárias, nem que sejam golos com a mão, penalties, inexisatentes, em claro fora-de-jogo. Aquilo foi uma festa e apenas tive olhos para isso. Do que agora falss fico com a sensação de que nem saí de ao pé da roulitte das bifanas.
Não tenho ideia do que vai acontecer mas uma coisa posso garantir: a atitude dos jogadores é totalmente diferente de épocas anteriores, mesmo nos jogas da pré-época.
Isso já dá para pensar que alguma coisa vai ser diferente.
E desde já lanço o desafio: após os jogos do Glorioso corro aqui para ler as tuas análises. Pura delícia!
Um abraço
Filhote: Em "A Bola" de hoje a Leonor Pinhão cita o Ramires quando ele diz: "Sou um operário". E ela comenta: "Chama-se a isto consciência de classe. E é sempre de louvar."
Ainda o Ramires: "Um dos meus amigos, o Gilvan, dizia que eu devia correr atrás da bola como se fosse um prato de comida e até hoje penso da mesma maneira."
Isto é bonito, comovente mesmo.
Temos homem.
Sinto-me lisonjeado. Mas se Vítor Santos não me evoca grande coisa (se calhar é por causa do sobrinho!), reportagens como as do Carlos Miranda s/ o Tour, principalmente s/ Agostinho, são textos únicos que deveriam ser estudados nas escolas e incluídos nas selectas. Grande Carlos Miranda!
Abraço e mtº obrigado.
A grande verdade é que pela primeira vez em 4 anos, desde que vim para o Rio, os cariocas fartam-se de falar do Benfica. Jornais, TVs, e anónimos. Coisa completamente inédita.
Dizem: "que timaço que o Benfica está montando, hã?", ou, "Ramires, Aimar e Saviola? Caraaaal...".
Palavra. E eu, à boa maneira portuguesa, sempre descrente, vou dando para trás...
Será que eles têm razão?
PS- E, caro Gin-Tonic, um antigo jornalista esportivo meu amigo, disse-me há dias: "se vocês gostaram do Valdo, vão amar o Ramires!"
Grande abraço!
Filhote: por causa desses exageros dos "brasucas" é que eu costumo dizer (a brincar, claro) que brasileiro é o único cidadão no mundo que é culpado até demonstrar que é inocente!
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