Não votei no PS de José Sócrates em 2005. Fi-lo, depois, em 2009 e 2011, pese embora discordar de algumas das suas políticas, nomeadamente as grandes obras públicas (apenas defendi o comboio de alta-velocidade Lisboa-Madrid), a capitulação perante as manifestações contra Correia de Campos e Maria de Lurdes Rodrigues e a imprudência com que enfrentou o início da crise, o que incluiu o tal aumento excessivo dos salários dos funcionários públicos. São apenas alguns exemplos. Mas, em contrapartida, sempre considerei positivo um número suficiente das suas políticas (reformas na saúde e na educação - algumas apenas tentadas - investimento nas novas tecnologias e nas energias renováveis, agenda de costumes, "Novas Oportunidades", tentativa de diversificação das exportações, etc, etc) para, perante as alternativas disponíveis e o meu posicionamento ideológico de partida, merecer o meu voto. Continuo a considerar que, apesar do pedido de resgate e de alguns falhanços, o balanço dos seus governos é, apesar de tudo, positivo.
Não conheço pessoalmente José Sócrates, mas, apesar de admirar alguns aspectos da sua personalidade política (coragem política, resiliência, convicção) devo dizer não nutro especial empatia pelo cidadão, embora também não seja daquelas personalidades com as quais especialmente antipatizo (neste último grupo, Cavaco Silva leva a palma). Posso dizer, sem o conhecer pessoalmente, que José Sócrates é uma daquelas pessoas cuja personalidade me é indiferente, mas de quem dificilmente seria amigo ou convidaria para minha casa. Ponto.
Não teço quaisquer comentários sobre a sua culpabilidade no actual processo, limitando-me a comentar um ou outro ponto sobre o qual é possível assegurar alguma credibilidade (são muito poucos, no entanto). Mas uma coisa devo dizer: existem valores que para mim são intocáveis, relacionados, fundamentalmente, com os Direitos, Liberdades e Garantias e todas e quaisquer pedras basilares do Estado de Direito Democrático. Por isso mesmo, sou dos que preferem ver um qualquer criminoso à solta do que preso graças ao desrespeito pelas normas processuais, pelo atropelo dos Direitos, Liberdades e Garantias ou com recurso a prova que não seja insofismável, produzida e validada por tribunal competente. E estas últimas questões superam, como disse, todas as outras e a elas subordino toda e qualquer opinião. Nesse aspecto, já me viram aqui, no "Twitter" ou no "Facebook" defender Passos Coelho ("caso" Tecnoforma), Ricardo Salgado, Duarte Lima e até os assaltantes de uma agência bancária em Campolide. Continuarei a fazê-lo sempre que necessário. Ponto final.