sexta-feira, janeiro 18, 2013

"Doping" e moralismos

Perguntas:
  1. Quantos espectadores se entusiasmariam com a Volta a França sem o Tourmalet, o Aubisque, Alpe d'Huez, o Galibier e etc? Como uma vez disse Joaquim Agostinho, acham que essas montanhas se sobem de bicicleta, em competição, "só a comer bifes com batatas fritas"?
  2. Alguém se interessaria por uma final olímpica dos 100 metros em que todos os participantes fizessem tempos à volta dos 10 segundos e tal? Acham se corre esta prova em nove segundos e una pózinhos só a tomar vitaminas?
  3. E de provas olímpicas de natação sem os Mark Spitz, os Ian Thorpe e os Mike Phelps deste mundo? São todos uns anjos? 
  4. Quantos dos hipócritas que agora acusam e condenam Lance Armstrong o aplaudiram e endeusaram quando das suas vitórias sabendo todos nós, desde sempre, o que agora foi revelado?
  5. Para os jornalistas cá do sítio: e se um destes dias fosse revelado que algum dos heróis olímpicos indígenas, como Rosa Mota, Carlos Lopes, Francis Obikwelu e por aí, tinham recorrido a "ajudas"? Alguém põe as "mãos no fogo"?
Desabafo: vão-se lixar com os moralismos...

3 comentários:

Anónimo disse...

Qualquer desporto é feito de regras, não de morais, condição indispensável para o desejável “fair play” e sem a qual a competição sequer existiria por desinteresse dos próprios oponentes em face de um virtual desporto despido de quaisquer regras.

Das duas uma, ou a dopagem é admitida, ou não.
IMHO, a dopagem não pode ser admitida, e não se trata de moralismo, bastando o valor da salvaguarda da saúde ou integridade física do desportista que até poderia ser um filho nosso. Não é por acaso que muitos ciclistas morrem prematuramente de cancro. Foi o caso do espanhol Ocana.O próprio Armstrong felizmente sobreviveu a uma batalha contra mesma doença.
Por outro lado, também é verdade que muitos conseguem escapar à deteção positiva da dopagem, da mesma forma que na vida em geral muitos infractores também conseguem fugir às malhas da lei, mas isso não justifica o seu incumprimento. Não foi seguramente o caso do Agostinho que cita , que perdeu uma volta a Portugal por uso injustificado de medicamento proibido.
Mas o caso do Lance Armstrong e respectiva equipa supera tudo o que até agora se conhecia, uma estrutura profissionalizada e organizada com assistência "médica” permanente, onde não faltou EPO, testsoterona, hormona do crescimento, transfusões sanguíneas, envolvendo todos os ciclista da equipa, cocktail que, de tão grande atentado à própria saúde, eles próprios e não outrém, vieram fazer aquilo que é digno, confessar que não tinham ganho de modo conforme aos regulamentos os títulos e medalhas que conquistaram quanto mais não fosse por se terem comprometido a cumprir esses regulamentos.
A estes ciclistas que se auto-denunciaram eu tiro o meu chapéu. O mesmo sentimento não me merece Lance Armstrong que sempre enganou tudo e todos até quando não era mais credível manter a mentira, tais as avassaladoras provas juntas contra si, último momento em se lembrou de programar um talk show com a Oprah para fazer uma inenarrável e nada convincente “mea culpa”.

Se alguma coisa se deve lixar não serão os regulamentos, e muito menos a moral que não é para aqui chamada.
Com este surpreendente comentário de J.C. , até P. da C., aqui tantas vezes criticado, já está ilibado, pode voltar a fornecer “fruta” e manobra as arbitragens, com o feliz argumento de que ninguém é anjinho. Vale pois a pena abjurar os regulamentos que se subscrevem e depois ganhar recorrendo ao ilícito, a moralidade, a haver, é só para os jornalistas, ou seja, o mensageiro, numa sociedade onde é livre o direito de expressão.

“Franchement” …. , este foi o mais incompreensível post que eu aqui vi escrito. Espero que seja só um “ momentary lapse” e que a forma volte, de preferência, sem “dope”.
Cumprimentos
JR

JC disse...

Logo à noite respondo-lhe com mais tempo. Cumprimentos.

JC disse...

Ora vamos lá a ver, caro JR,agora c/ tempo para lhe responder.
Em parte alguma do meu "post" v. me vê defender L. Armstrong, o recurso ao "doping ou a qualquer espécie de "batota". Inclusivamente, publiquei aqui, quando dos JO de Londres, um excelente documentário sobre o programa de "doping" da defunta RDA. O que afirmo é que sabendo todos, desde sempre, que ninguém ganha 7 vezes o Tour (nem sequer uma vez), corre os 100m em 9'' e qualquer coisa ou obtém os resultados de um Michael Phelps sem "ajudas", só agora, depois da confissão de LA, se tenham lembrado de tal coisa e se terem transformado em virgens ofendidas, depois de terem passado anos a elogiar a a pôr nos píncaros campeões que todos sabemos com que "ajudas" lá chegaram (o que não impede sejam grandes atletas). A questão do doping" - e já o disse neste "blog" - encerra em si mesma uma luta permanente entre a capacidade dos laboratórios para desenvolverem novas drogas e o apetrechamento dos controles para a sua detecção; entre a credibilidade de cada desporto e a sua atractividade enquanto espectáculo. Quer isto dizer que se o controle for demasiado longe o desporto pede atractividade (já que ninguém se interessaria por uma final dos 100 m em que os atletas corressem em mais de 10''), mas se for mtº brando e "legalizar" casos demasiado óbvios (como o de Ben Johnson, p. ex.) perde credibilidade. É neste equilíbrio que tudo se joga e neste equilíbrio de vez em quando há uns que se "lixam".
Cumprimentos