quarta-feira, janeiro 02, 2013

5 notas 5 sobre a Mensagem de Ano Novo do Presidente da República

  1. Quem se der ao trabalho de ler ou ouvir com atenção a mensagem de Ano Novo do Presidente da República verá que toda ela é construída com um objectivo principal: conseguir um aumento significativo dos seus índices de popularidade em futuras sondagens. Está lá tudo o que é caro a uma larga maioria da opinião pública: a preocupação com o crescimento económico e o risco de uma espiral recessiva; o desemprego, especialmente dos jovens; a necessidade de conseguir crédito em melhores condições, fazendo ouvir a voz do país na União Europeia; o apelo à unidade, ao "diálogo" e ao "consenso", sempre tão do agrado aos portugueses; a preocupação com a equidade dos sacrifícios; o envio de algumas normas do Orçamento de estado para fiscalização constitucional. Que, no seu conjunto, não se vislumbre qualquer outro tipo de coerência política entre os elementos que constituem esta sua mensagem, é outra questão bem diferente, como também ignoramos se este "piscar de olho" à opinião pública se destina a fortalecer a instituição presidencial e o actual ocupante do cargo no início de um ano que se apresenta como muito difícil e pode vir a tornar-se dramático. Digamos que os "crentes" tenderão a acreditar em tal coisa. Eu, que desde longínquos tempos de relação aluno/professor não nutro por Cavaco Silva particular entusiasmo, tendo a acreditar ser mais uma questão de ego.
  2. Incongruência? Não tanto por ter dúvidas sobre a constitucionalidade do Orçamento de Estado e não ter optado pela fiscalização preventiva: enfim, algumas normas serão enviadas para fiscalização sucessiva e o facto de o Presidente da República o fazer, e não só os deputados, dará ao acto força política acrescida. Fundamentalmente por, e a levar a sério a sua mensagem de Ano Novo, Cavaco Silva se manifestar contra a política recessiva, a equidade questionável nos sacrifícios, o desemprego jovem, a pobreza e o agravamento das divisões entre os portugueses e promulgar um orçamento que todos sabemos irá agravar tudo isso. Para ser coerente, e aqui estou de acordo com o PCP e o BE - acontece - Cavaco Silva deveria ter exercido o seu direito de veto político.
  3. Cavaco Silva faz-me lembrar a história do Dr. Frankenstein e do monstro: criou laboriosamente este governo que desde sempre tende a fugir-lhe ao controlo. Falhou-lhe Ferreira Leite.
  4. Governo de iniciativa presidencial no horizonte, seja lá o que isso for? Pelo que conheço de Cavaco Silva e pelo que todos aprendemos com a sua já longa vida de governante, quererá sempre pairar sobre a política como um não-político e, portanto, não me parece arrisque um envolvimento desse tipo. Irá navegar à "vista", esforçando-se por se manter à tona. É da sua natureza e é isso que sabe fazer bem.
  5. Será bem mais interessante ver qual o impacto que esta mensagem do Presidente da República terá na actuação política do PS nos próximos meses do que propriamente pensar nos reflexos ela irá no governo. Neste último, arrisco que nenhuns; mas o mesmo já não direi em relação ao PS, onde me parece constituirá mais um fio na teia onde a direcção do partido teima em enredar-se.

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