Arménio Carlos não é um qualquer cidadão: é o secretário-geral da maior central sindical portuguesa e membro do Comité Central do PCP. É, portanto, um sindicalista reputado e um político com notoriedade. Mais, não estava a conversar com os seus amigos e/ou correligionários no bar da Soeiro Pereira Gomes ou da Vítor Cordon, entre um café com "cheirinho" e uma "Macieira" em balão. Arménio Carlos estava num evento organizado pela central sindical a que preside e dirigia-se, em discurso oficial e no exercício das suas funções de secretário-geral, aos que a esse acontecimento se tinham querido juntar no exercício dos seus direitos de cidadania, na sua maioria professores, o que não é indiferente para a gravidade do que se passou. Assim, ao designar Abebe Selassie por "escurinho", e embora não acreditando Arménio Carlos seja racista, estava a transmitir aos manifestantes sinais errados e que poderiam ser interpretados como manifestação de xenofobia ou intolerância étnica. Para além disso, o modo como se referiu ao membro do FMI foi de mau gosto e roçou (ou ultrapassou, mesmo) a grosseria, mesmo descontando as liberdades de linguagem compreensíveis numa manifestação de protesto. Arménio Carlos também não poderia ignorar que estava a dirigir-se a uma manifestação de professores, o que só agrava o seu comportamento até porque é de admitir muitos dos participantes possam ter sido reconhecidos, via TV, pelos respectivos alunos. Por ter contado em público e no exercício das suas funções uma anedota de mau gosto sobre alentejanos, aceitável numa mesa de café, um ministro já foi demitido e por uma piada de idêntico teor sobre o presidente Obama já o inenarrável Berlusconi foi, com toda a razão, "grelhado" na praça pública. No mínimo, Arménio Carlos deveria vir a público pedir desculpa a todos, incluindo a Abebe Selassie, e talvez não fosse má ideia o PCP tomar em relação a este seu militante e membro do comité central decisão idêntica à que, em tempos, era regra para os militantes com comportamentos considerados "menos dignos" de um comunista: enviá-lo de castigo para um qualquer MDP/CDE. "Bora" lá, Jerónimo?
2 comentários:
Apesar de o indivíduo ser secretário-geral da CGTP e membro do comité central, não me parece que seja uma grande cabeça. Ainda por cima, está completamente formatado num esquema mental que não convida propriamente à reflexão crítica.
Se se tratasse de uma tomada de posição ideológica, em que fosse necessário tomar partido a favor do multiculturalismo e da integração, o discurso seria completamente diferente. Nesse caso, o visado seria o "bom escurinho", merecedor do mais amplo apoio popular.
No caso concreto, o visado é mau, por ser "capitalista", pecado irredimível. E, não bastando ter esse enorme defeito, é "escuro", circunstância agravante para a populaça.
Não sendo Arménio Carlos uma grande cabeça, suponho que terá mesmo assim o discernimento suficiente para ter pretendido o efeito populista de desvalorizar o inimigo dizendo que é "escuro". Efeito primário, claro, mas ao nível de quem o provoca.
Quero com isto dizer que para certas pessoas não ser racista ou xenófobo é mais uma questão de oportunidade ou de contexto que de princípios. E parece difícil ter princípios quando se pensa pouco, como é o caso.
Cumprimentos
"Ainda por cima, está completamente formatado num esquema mental que não convida propriamente à reflexão crítica". Exactamente, Queirosiano. E esse esquema mental deve tê-lo formatado para não dizer disparates semelhantes e para ter cuidado c/ questões desse tipo. Daí o ser ainda mais estranho e indesculpável. Mas estamos em plena época das asneira e basta tb ouvir o tal candidato à CM de Matosinhos pelo PS. Grau zero da política.
Cumprimentos
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