quinta-feira, janeiro 17, 2013

Governo, "vanguarda" e consenso

Continuo a ficar espantado quando oiço da admiração de jornalistas, politólogos e comentadores pela falta de procura de um consenso político alargado por parte do governo, e do manifesto desinteresse deste em o alcançar. Vejamos...

O governo e, mais propriamente, o grupo político que actualmente dirige o PSD assumem-se como uma vanguarda ideológica, radical, e basta ter estado atento ao que foi publicado nos últimos anos nos "blogues" ultra-liberais e o apoio entusiástico destes às medidas mais radicais do actual governo para o entender. Ora qualquer "vanguarda" política, quer à "direita", quer à "esquerda", por definição destinada a produzir uma ruptura drástica e rápida na sociedade, nunca se pretendeu afirmar, ao longo da História, nem o poderia fazer face aos objectivos propostos, pelo recurso ao consenso, nem fez, excepto em casos muito pontuais e em ocasiões críticas (e estou a lembrar-me das tréguas entre o Kuomintang e o Partido Comunista da China quando da guerra sino-japonesa, mesmo assim nem sempre cumpridas), da procura de consensos estratégia sua. Pelo contrário, esta passa, preferencialmente, pelo afrontamento e pela ruptura, destinados a implementar uma qualquer "ordem nova" ou a construir o "homem novo". Aliás, até mesmo nas chamadas "frentes populares", que pretenderam representar no passado um certo tipo de consenso abrangente face a um inimigo comum, normalmente os nazi-fascismos, a "dominância "e controle por parte de uma "vanguarda", historicamente assumida pelos partidos comunistas com exclusão dos que a ele não se sujeitavam, é um exemplo por demais conhecido e até trágico. Significa isto que, assumindo o actual grupo dirigente do PSD esse papel de "vanguarda" política e ideológica, reclamando para si, embora de forma "soft" face a alguns exemplos históricos mais "hard", essa "missão", esse consenso, os acordos como os de concertação social, por exemplo, a negociação política ou até mesmo esse consenso de última instância na sociedade portuguesa que define os parâmetros do Estado Democrático e dá pelo nome da Constituição da República, são empecilhos e entraves à sua acção "vanguardista", dotada de um papel assumido como "messiânico". É esta, pois, a herança genética do grupo que actualmente dirige o PSD e o país, e é em função dela que o governo vai agindo, sendo talvez pertinente, neste ponto, perguntar se "pode alguém ser quem não é"? Não me parece tal seja possível...

1 comentário:

Unknown disse...

Mas, quando é que este povo vai perceber, que as opções ideológicas só são possíveis se forem compatíveis com as regras da matemática?! Sejam de esquerda ou de direita, quando as despesas superam em muito as receitas, os decisores só podem optar por cortes ou impostos.
http://jornalismoassim.blogspot.pt/2013/01/o-fardo-do-juros-o-chico-espertismo-e-o.html