Depois de ter lido "de fio a pavio" o que o Jornal de Negócios publica sobre a proposta do FMI para a redução dos tais quatro mil milhões de euros na despesa pública, tenho de concluir que, concordando-se ou discordando-se das medidas propostas, parcialmente ou na sua totalidade, o documento levanta algumas questões pertinentes e merecia por isso uma discussão aprofundada e um debate sério. Não tem em consideração a existência de condições políticas e sociais necessárias à implementação das medidas que propõe? Claro, mas nem tem que ter: a análise e preocupação com esse tipo de questões é da responsabilidade dos orgãos de soberania: governo, Assembleia da República, Presidente da República e Tribunal Constitucional, e o problema é que aí qualquer possível debate começou desde logo a ser afastado pela estratégia de "choque e pavor" escolhida pelo governo, já que só a este podem ser atribuídas responsabilidades pelo modo como foi divulgado. O seu conteúdo, mesmo não vindo a ser implementado, é potencialmente recessivo? Sem dúvida que sim, é deitar gasolina no fogo; mas o que está aqui em causa, muito antes desta proposta poder ser discutida e considerada, é a justeza da política de austeridade e "empobrecimento" para a resolução da crise portuguesa e europeia, da qual este documento é apenas mais um instrumento.
Uma coisa é bem evidente: ao contrário de algumas propostas de carácter exclusivamente populista, congeminadas e "paridas" pelo governo, como pôr os desempregados a tratar dos "velhinhos", viajar em "económica", andar de Renault Clio, não usar gravata, optar por um governo "mínimo" ou cortar nas "gorduras do Estado", este é um documento sério e que, por isso, levanta e analisa um conjunto relevante de questões. As divisões que parece estar a suscitar no governo, com o grupo mais radical Gaspar/Moedas para um lado e CDS e ministros do PSD tradicional para o outro, só provam mesmo a sua importância.
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