As afirmações de Renato Sampaio, líder da Federação do PS do Porto, sobre a candidatura de Manuel Alegre, são bem o espelho do que é demasiadas vezes a vida partidária e valores pelos quais esta se rege. Ao exprimir as suas reticências à candidatura de Alegre baseando-se no facto de esta “aprisionar” o PS, Sampaio não deixa de ter razão, mas, como tantas vezes acontece em Portugal, esquece ou tem dificuldade em isolar e focar o essencial: se a candidatura de Alegre aprisiona o PS e tem sido instrumento fundamental na estratégia de divisão deste partido protagonizada pelo Bloco de Esquerda, e não digo isso não deva ser tido em conta, a questão fundamental, chave, é de ordem política e não “clubística” ou partidária, no sentido restrito, podendo sintetizar-se na seguinte pergunta: se, neste momento, a contradição política essencial em Portugal é entre os que se reconhecem na democracia liberal (PS, PSD e PP) baseada nos direitos, liberdades e garantias, na livre iniciativa e no projecto europeu consubstanciado na UE, e os que se lhe opõem (PCP e BE) propondo um projecto de sociedade alternativo, pode o PS apoiar um candidato partilhado com o BE? Mais a mais tendo-se este vindo a opor, conjuntural e sistematicamente, a opções políticas tão essenciais do governo e do Partido Socialista (diria do regime e do país) como o são o orçamento, o PEC e as chamadas “medidas de austeridade”? A minha resposta é “não”: por razões essenciais de ordem política e independentemente de quaisquer outros motivos adicionais, mas acessórios, não o pode fazer. Mas como geriu mal todo processo - com os pés -, vai ter que acabar por o fazer da pior forma possível: também com os pés. Um pé dentro e outro fora, claro! Lamentável!
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