É hábito dizer-se que um jogo de futebol é apenas isso: um jogo de futebol. Sabemos que, por vezes, não é bem assim, e temos aqui mesmo ao lado um exemplo quase extremo: quer queiramos quer não, num Barcelona - Real Madrid (ou vice-versa) defrontam-se também (e ainda) o chamado “imperialismo castelhano”, a Espanha “una, grande y libre” de Francisco Franco e da Falange, e o orgulho da nação catalã, republicana, autonómica e, até, independentista.
Bom, não tendo por cá, nem de perto nem de longe, algo de semelhante, é bem verdade que num Benfica-Porto (ou vice-versa, não vá alguém ofender-se) temos também em confronto duas culturas e, digamos, duas sociedades distintas, herdadas de modelos de desenvolvimento historicamente também bem diferenciados. Por um lado, uma cidade do Porto burguesa, exportadora, centro de um “hinterland” de pequeno campesinato e pequena propriedade rural que tornou possível uma indústria de baixo valor acrescentado baseada na mão de obra barata, durante muitos anos tornada possível pelo carácter muitas vezes apenas complementar que o salário na indústria representava para o rendimento familiar que provinha do minifúndio. Por outro, uma Lisboa aristocrática e centro do império, cercada pela grande propriedade alentejana e ribatejana também ela de raiz aristocrática, que criou uma cintura onde predomina(va) a grande indústria fazendo recurso à mão-de-obra proveniente da migração do proletariado rural sem terra e em cujo centro se aglomeraram e desenvolveram os serviços e burocracia ligados à sua condição de capital administrativa do país e do império.
Digamos que, simplificadamente, foram estes os modelos que, em termos genéricos, criaram uma cidade do Porto mais individualista e empreendedora, mas também menos cosmopolita, mais voltada para o interior do seu território, mais “bairrista” e “provinciana (não se ofendam...) e uma Lisboa mais cosmopolita, menos interligada ao meio rural envolvente e mais aberta ao exterior, mas também mais dependente do Estado e de uma aristocracia que se foi fundindo com a grande burguesia industrial e financeira. Foi este “caldo de cultura”, diferenças exacerbadas pela importância política e económica que o norte litoral, com epicentro no Porto, assumiu após o 25 de Abril, que acabou por criar aquilo que, hoje em dia, vemos muitas vezes definido como “diferentes mentalidades”. Algo que terá no futuro tendência a esbater-se, mas que, apesar disso, ainda hoje se enfrenta e mede forças num simples jogo de futebol.
Bom, não tendo por cá, nem de perto nem de longe, algo de semelhante, é bem verdade que num Benfica-Porto (ou vice-versa, não vá alguém ofender-se) temos também em confronto duas culturas e, digamos, duas sociedades distintas, herdadas de modelos de desenvolvimento historicamente também bem diferenciados. Por um lado, uma cidade do Porto burguesa, exportadora, centro de um “hinterland” de pequeno campesinato e pequena propriedade rural que tornou possível uma indústria de baixo valor acrescentado baseada na mão de obra barata, durante muitos anos tornada possível pelo carácter muitas vezes apenas complementar que o salário na indústria representava para o rendimento familiar que provinha do minifúndio. Por outro, uma Lisboa aristocrática e centro do império, cercada pela grande propriedade alentejana e ribatejana também ela de raiz aristocrática, que criou uma cintura onde predomina(va) a grande indústria fazendo recurso à mão-de-obra proveniente da migração do proletariado rural sem terra e em cujo centro se aglomeraram e desenvolveram os serviços e burocracia ligados à sua condição de capital administrativa do país e do império.
Digamos que, simplificadamente, foram estes os modelos que, em termos genéricos, criaram uma cidade do Porto mais individualista e empreendedora, mas também menos cosmopolita, mais voltada para o interior do seu território, mais “bairrista” e “provinciana (não se ofendam...) e uma Lisboa mais cosmopolita, menos interligada ao meio rural envolvente e mais aberta ao exterior, mas também mais dependente do Estado e de uma aristocracia que se foi fundindo com a grande burguesia industrial e financeira. Foi este “caldo de cultura”, diferenças exacerbadas pela importância política e económica que o norte litoral, com epicentro no Porto, assumiu após o 25 de Abril, que acabou por criar aquilo que, hoje em dia, vemos muitas vezes definido como “diferentes mentalidades”. Algo que terá no futuro tendência a esbater-se, mas que, apesar disso, ainda hoje se enfrenta e mede forças num simples jogo de futebol.
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