GAC - Grupo de Acção Cultural "Vozes na Luta".
"Cantar da Jorna" (do álbum "Pois Canté", Março de 1976)
É comum ouvir dizer que os portugueses prezam pouco os que de entre eles se distinguem. Em alguns casos será, mas não me parece o mesmo aconteça na música popular. De facto, quer os chamados “pais fundadores” (Paredes, José Afonso, Adriano, Sérgio Godinho, etc), quer, mais tarde, um nome como António Variações, sempre viram o seu trabalho reconhecido, editado e publicitado nos originais e em múltiplas versões, algumas de qualidade indiscutível, outras nem tanto assim.
Mas havia uma excepção, e essa dava pelo nome de GAC – Grupo de Acção Cultural “Vozes na Luta”, cujo trabalho foi injustamente remetido ao silêncio ou a uma quase clandestinidade durante cerca de 30 anos. Razões? Várias, certamente, entre as quais o facto de ter desenvolvido o seu trabalho num período demasiado extremado politicamente e se ter sempre identificado com a esquerda mais radical, constituindo a sua música uma base indispensável para a acção política que reivindicava; e era exactamente isso, a fusão entre essas duas realidades, que caracterizava o GAC e contribuiu para formar a sua identidade e personalidade enquanto grupo. Talvez também porque muitos dos que por lá passaram - e pelo partido político com o qual o GAC se identificava (UDP) – sintam hoje em dia alguma vergonha e dificuldade em assumir esse seu passado militante já longínquo.
Mas, para além das vergonhas passadas e das realidades emergentes do mundo e da vida, algo existe que é incontornável: parafraseando uma frase do Pedro Freitas Branco escrita numa caixa de comentários do IÉ-IÉ, “o GAC é o melhor grupo de música popular portuguesa de sempre”. Acrescento eu: entre o 25 de Abril e o aparecimento do furacão que dá pelo nome de António Variações, é, de longe, o melhor que se produziu na MPP. Justiça é, pois, agora feita com a edição em CD da obra integral do grupo, em 4 CDs que reúnem os três álbuns (“Pois Canté”, “E Vira Bom” e “Ronda da Alegria”) e o conjunto dos seus trabalhos iniciais editados em “single”. O “Gato Maltês”, que não tem complexos de esquerda ou de direita e fundamentalmente gosta de boa música, não podia deixar de prestar a sua homenagem ao grupo e aos que meteram mãos à obra para reparar uma injustiça. Viva o GAC!
3 comentários:
Não sou tão entusiasta como tu, mas não deixei de colocar um link no Ié-Ié para este teu post.
LT
Thanks, caro amigo.
Uma reedição em CD que tardava.
Mais vale tarde do que nunca.
Enviar um comentário