terça-feira, maio 04, 2010

No fundo, é mais ou menos assim...

Imaginem um jovem acabado de sair de uma universidade portuguesa; daquelas com prestígio e credibilidade no mercado de trabalho. Esse jovem arranja um emprego compatível e porque casou ou quer autonomizar-se dos pais pede um empréstimo bancário para comprar uma casa e um carro familiar. Sabe que o seu emprego e a relativa segurança concedida por uma licenciatura com uma nota acima da média e com valor de mercado lhe permitem, com algum controlo na gestão da sua vida diária, amortizar esse mesmo empréstimo, mesmo que se preveja a taxa de juro venha a subir no curto-prazo.

Entretanto, porque foi bom aluno e, no seu actual emprego, a sua capacidade profissional é bastante considerada, tem oportunidade, passado um par de anos, de frequentar, durante um ou dois anos, um MBA numa das universidades de referência dos USA; uma das normalmente classificadas no top ten, digamos assim. Mas como isso é bastante caro e não dispõe de fundos, terá que, com os pais e/ou a empresa funcionando como avalistas, pedir um novo empréstimo bancário para financiar essa pós-graduação, pois sabe que, mesmo ficando, de momento, sobreendividado, a mais valia que o MBA representa lhe irá abrir novos horizontes na sua carreira e lhe permitirá um futuro financeiramente bem mais desanuviado, em Portugal ou no estrangeiro, tornando perfeitamente possível não só a amortização de ambos os empréstimos como também ter uma vida mais desafogada. Que faz? Recusa a oportunidade? Claro que, sendo inteligente, a aproveita e, quando muito e no limite, analisará das possibilidades de ser esse o momento oportuno ou se poderá, sem hipóteses de perder essa possibilidade ou de sofrer um atraso irremediável na sua competitividade na empresa e no mercado de trabalho, diferi-la um ou dois anos no tempo.

Agora imaginem o mesmo jovem que não lhe surgindo a mesma oportunidade e não se prevendo uma grande evolução salarial na sua carreira opta igualmente por se sobreendividar porque quer dar a volta ao mundo, comprar um carro melhor ou uma casa de férias (ou tudo junto), algo que não contribuirá para o aumento da sua competitividade no mercado de trabalho e para uma melhoria significativa da sua situação financeira futura. Deve ou não fazê-lo, agora ou mais tarde? E, se o fizer, quais as consequências para o resto da sua vida?

No fundo, de um modo bastante simplificado e “contado às crianças e lembrado ao povo”, é este o dilema das chamadas grandes obras públicas que, como se pode ver, não podem, nem devem, ser todas metidas no mesmo saco e jogadas na barganha da demagogia ou na simplificação obscena do combate partidário.

2 comentários:

pois disse...

JC,
Se deixarmos a bola, lá nos vamo entendendo!!
Só existe aqui um pequeno grande problema: "Esse jovem arranja um emprego compatível e porque casou ou quer autonomizar-se dos pais pede um empréstimo bancário para comprar uma casa e um carro familiar." Esta limitação que todos os portugueses têm como sonho, e que pelo que falo com colegas no Reino Unido, por ex. já não é tão presente condiciona toda a vida. Pego nesta sua analogia poruqe me diz muito pessoalmente e até entendo que também é uma condicionante quando extrapolada, como o meu caro o fez para as grandes obras públicas. Tenho que concordar consigo quando diz que não podemos por tudo no mesmo saco, mas a "despesa=dívida da casa própria, etc" tolhe-nos a ambição.

JC disse...

É verdade, meu caro Pois. O facto do mercado de arrendamento quase não funcionar (e, por mtº que tentem dar-lhe a volta, não vai funcionar) e as casas para comprar e arrendar serem caras mtº em função dos ordenados representa um grande constrangimento. mas o juros estiveram baixos nos últimos tempos. Não compensa mas sempre foi ajudando.