sábado, maio 15, 2010

O Bruno e a professora Bruna...

Bruno Sena Martins, que não conheço nem sei quem seja, insurge-se no "Arrastão" contra o facto da educadora de Mirandela que posou nua para a “Playboy” ter sido afastada de actividades lectivas e também contra as afirmações do vereador com o pelouro da educação sobre a incompatibilidade desse acto com a “função de professora e educadora”. Eu, que votei a favor da IVG, defendi neste “blogue” o direito ao casamento dos homossexuais, leio ou folheio com gosto, por vezes, a “Playboy” e outras revistas de “gajas nuas”, que coloco aqui ao lado como sendo dos meus “blogues” favoritos o “E Deus Criou a Mulher”, até já vi, uma ou outra vez, o antigo canal 18 e não tenho quaisquer tipo de preconceitos morais (ou moralistas) desse género, também acho que, de facto, posar nua para uma revista como a “Playboy” é incompatível com a função de educadora e professora de crianças e adolescentes. Manda o mais elementar bom-senso e por isso mesmo me solidarizo com a decisão.

Mas ainda acho mais: acho que ao assumir esta e outras posições semelhantes, a esquerda que Bruno Sena Martins parece representar não faz mais do que fomentar o conservadorismo e puritanismo mais radicais e, assim, condenar-se a si mesma a ser considerada por muitos como a mais estúpida do mundo.

Por último, e depois de ter visto as fotografias, proponho que, para nosso prazer e deleite, Bruna Real continue a optar por esta sua carreira de modelo. Terá, porventura, bem maior sucesso do que como professora e, aqui, um admirador atento.

Nota a posteriori e para que não restem dúvidas: a incompatibilidade que aqui afirmo nada tem a ver, como me parece óbvio, com quaisquer questões de ordem e natureza moral, mas sim com a perturbação e disfuncionalidade que um acontecimento deste tipo tende necessariamente a gerar naquela que deve ser, numa escola, a normal e saudável relação entre professores, alunos, pais e comunidade local (stakeholders), baseada em princípios tacitamente aceites que incluem, penso eu, uma certa reserva de intimidade necessária a um correcto desempenho profissional, muito especialmente numa área tão sensível e onde é necessário conviver e fazer-se respeitar por pessoas de tão variadas origens e personalidades como é o ensino público. Do mesmo modo que é incompatível para com essa relação, por exemplo, que professores, pais e alunos se desrespeitem entre si, estes últimos utilizem telemóveis dentro das salas de aula, se apresentem vestidos de modo impróprio (por exemplo, de capuz na cabeça dentro das salas de aula) ou pratiquem sexo dentro da escola. Entendido?

7 comentários:

Tiago Leiria Miranda disse...

Eu compreendo a opinião, meu caro, mas não estando explicitada a justificação da "incompatibilidade" e do bom senso, sou levado a imaginar qual seja...? E fico curioso.

Por outro lado, enquanto aguardo, contribuo: conhecendo os salários que se praticam nas ditas sessões extra-curriculares nas escolas, imagino que o pagamento de uma sessão fotográfica seja apelativo. Mas não me parece que este seja argumento, apenas um pormenor relevante da nossa mísera sociedade.

Imagino ainda se o argumento se mantinha se a dita professora fosse vista a fazer nudismo na praia? Incompatibilidade e bom senso novamente?

E ainda mais curioso fico se esta situação se tivesse verificado com um professor homem e uma revista erótica masculina.

Desconheço se neste caso existe cláusula contratual que proíba estes actos em geral ou mesmo em particular, mas não posso deixar de pensar que estamos perante um incómodo motivado por razões morais, que são obviamente totalmente inapropriadas numa sociedade moderna.

Se calhar, pelo último comentário, este Gato até era capaz de pensar que a professora era jeitosa se a visse vestida numa qualquer escola, sem nenhum problema para o exercício das suas funções, mas a partir do momento em que ela legalmente se mostrasse despida, isso já era incompatível com as suas funções.

Eu não consigo encontrar uma justificação. Ou melhor, imagino e parece-me que é a moral a trabalhar...

JC disse...

Não, nada tem a ver c/ a moral, meu caro. Aliás, conhecendo-me, não entendo como podes interpretar como tal. Trata-se apenas de assegurar o "normal funcionamento das instituições", isto é, que o relacionamento entre professora, alunos, pais, entidade empregadora (o munícipio) e todos os "stakeholders" permite que a escola funcione de acordo c/ o que dela se espera. E isso, quer tu ou eu queiramos quer não, c/ razão ou sem ela da parte de quem quer que seja, nas condições concretas e objectivas, foi posto em causa. Existem actividades, atitudes ou profissões que, em dados momentos, são incompatíveis entre si e não vale a pena estar a citar exemplos. E fazer nudismo em praias reservadas para tal nada tem que ver c/ posar para a "Playboy", embora eu ache que se a dita prof. quisesse praticar nudismo mandaria o bom senso não ser vista pelos alunos.
Mais aina, não existe qualquer diferença para o que afirmo em função do sexo (H, M ou LGBT) e existe algo que excede claramente qualquer norma contratual ou legal: bom-senso. É por isso que existem pessoas a dirigir e não um qualquer computador. Exactamente por isso, ela não foi despedida nem lhe foi movido processo disciplinar: foi colocada num serviço onde o facto de ter posado para a "Playboy" não interferisse com o normal funcionamento da escola, isto é, onde não funcionasse a incompatibilidade.
Abraço

JC disse...

Só mais um ponto, Tiago, e para que não restem dúvidas sobre a questão das incompatibilidades. Na escala específica de cada caso, acho tão incompatível c/ o normal funcionamento de uma escola a professora Bruna ter posado para a "Playboy" como os alunos levarem telemóveis para a sala de aula, estarem nesta de capuz na cabeça, faltarem ao respeito a pais e professores (e vice-versa), vestirem-se de modo impróprio para quem frequenta uma escola, etc, etc ou professores e alunos ultrapassarem o pudor e a reserva da vida intíma de ambos que, com variações consoante o "caldo cultural" existente, deve pautar assumidamente um relacionamento profissional.

Anónimo disse...

Caro JC

Respeito a sua opinião - e defenderei até à morte a sua liberdade de a exprimir - mas permita-me não concordar.

Posar para uma revista masculina, que se saiba, não constitui delito algum, salvo nos países teocráticos e repressivos, como é o caso da maioria dos países muçulmanos.

Um juízo censura sobre a conduta da dita professora acrescida de uma condenação profissional só poderia fundamentar-se por critérios relativos, éticos ou morais, e não pela violação de normas laborais ou profissionais, aliás inexistente. Que outros critérios, senão os relativos ?

Já a conduta, enquanto professora, é sobretudo aferida no respectivo meio, a escola, e não pela objectiva dos fotógrafos da “Playboy” ou a visão dos leitores - melhor, observadores - da dita revista.

O conservadorismo só poderá residir do lado da censura e não do lado da liberdade de exprimir o seu corpo.

A fotografia, tal como a pintura, é uma arte ( ainda que pelas mãos dos fotógrafos da Playboy). Um juízo censório pode levar a casos bizarros como o da recente ordem de apreensão de um livro cuja capa continha uma célebre pintura de nudez exposta.

Será que Miguel Ângelo, Renoir, Cargaleiro e tantos outros que pintam ou esculpem nus não poderiam ser professores ?

John Lennon - vide álbum Two Virgins - não poderia ser professor, ainda que de música- ?

Nas praias de nudismo os nos recantos das restantes não existem professores nus?

Se a dita pode deleitar visualmente quem a observe na revista, porquê pagar-lhe esse deleite com uma restrição profissional num campo que não tem relação nenhuma com tal acção ?

Atrevendo-me ao português vernáculo, o que é que tem a ver o cu com as calças?

Cumprimentos
JR

JC disse...

Mas, meu caro JR, em parte alguma eu falo em delito! Nem Bruna Real violou quaisquer normas laborais, por isso não lhe foi instaurado qualquer processo disciplinar. Foi, simplesmente, colocada num outro serviço onde o facto de ter posado para a Playboy não interferisse com o funcionamento normal da escola. V. já viu os comentários e atitudes que alunos e respectivos pais poderiam ter, até bastante ordinários e ofensivos, para c/ Bruna Real (basta ter lido o que a própria BR contou ao DN). E, como já afirmei ao Tiago, posar p/ a Playboy e frequentar uma praia de nudistas são coisas mtº diferentes. numa praia de nudistas existe privacidade para o grupo que o pratica.
E, lá está, tudo varia em função das circunstâncias específicas. Se BR fosse prof. numa Universidade, do ramo das Artes ou outra, a minha opinião seria radicalmente diferente, já que tal coisa pouco ou nada interferiria com o seu funcionamento.P. ex. os "dress codes" exigido para um arquitecto, um banqueiro, um funcionário público ou um juiz são mtº diferentes e existem razões para tal.
E não peça desculpa por discordar: eu gosto imenso de uma boa polémica. Assim tenha sempre tempo para responder!

Anónimo disse...

Caro JC

Compreendo o seu ponto de vista.
Apenas mais algumas notas.

Sabemos que os “dress codes” são, justificadamente, obrigatórios para alguns funcionários públicos no uso do seu mister e nos locais de trabalho próprios. São os casos dos médicos nos hospitais, magistrados e advogados em sessão de julgamento, onde não poderão prescindir da indumentária prevista e inseparável da sua função. ( Nalguns casos chega a roçar o ridículo, como o caso dos juízes ingleses ou o “speaker” do Parlamento britânico que, séculos volvidos, ainda têm de, literalmente, servir de pau de cabeleira).

Mas, Caro JC, quanto a professores não se conhece indumentária prevista ou uniforme. É até muito vulgar ver professores vestidos de uma forma muito pouco formal. Os joviais “blue jeans” fazem cada vez mais “fashion” no corpo docente – e decente-.
Aliás, uma das conquistas do 25 de Abril foi a abolição da bata, antes obrigatória no meio escolar ( se bem que a bata tinha uma dupla função e utilidade – neutralizava um pouco a origem social do aluno e defendia este das arremetidas da caneta de tinta permanente – o que a faz ter, ainda hoje, defensores ).

Admitindo como certo que a dita professora não se expõe nas aulas tal como se expôs às objectivas dos fotógrafos da Playboy, os “dress codes” a existirem são convenções sociais, relativas na sua essência , usos e costumes sem tutela jurídica , específicos da escola. Existe também um “dress-code” – melhor, “naked-code” - para uma revista masculina legítima e socialmente aceite, em que os modelos se encontram como no Éden, nus. Assim sendo, haverá que dar prioridade ao direito e liberdade da dita senhora expressão corporal ao posar para tal revista masculina socialmente aceite, sem que por isso tenha de sofrer uma sanção restrição laboral só possível por enquadramento disciplinar inexistente.

Na escola ou na Plaboy, a ditosa senhora usou , na perfeição, os respectivos “dress-codes” e aqui não se aplica o princípio dos vasos comunicantes.

Está por fazer um estudo, com resultados certamente polémicos, da influência positiva no Eros, sob a égide de um “aproach” Marcusiano, quanto à circunstância de um aluno passar uma boa parte da sua adolescência com a presença permanente no seu campo de visão de professoras excepcionalmente atraentes ( e sobretudo competentes na sua cátedra , o que não é contraditório). Felizmente que tive algumas com tal duplo dote e, se a dita Bruna for competente na sua cátedra, também gostaria de a ter tido como professora, ainda que fosse de Trabalhos Manuais. É bem mais preferível do que ter no mesmo campo de visão um clérigo de Religião e Moral a debitar um anátema aos escapismos masturbatórios juvenis, ameaçando estes com uma mais que provável tuberculose ou sentenciar uma neurastenia de pecado e culpa com castigo eterno de referência a outros “codex”- ou “índex” -.
Cumprimentos
JR

JC disse...

Meu caro, o caso dos "dress codes" foi apenas um exemplo que dei para demonstrar a importância das circunstâncias e que, se no caso de uma prof. de uma escola de Artes ou, até, de uma qualquer universidade o facto de a senhora se despir na Playboy não teria qualquer importância, numa escola de crianças ou adolescentes ia perturbar necessariamente o normal funcionamento da escola, pelo menos nos tempos + próximos. Só isso. E, deixe-me dizer-lhe, que não acho a abolição da bata tenha sido uma conquista do 25 de abril. Sou favorável à utilização de fardas ou, pelo menos, a um "dress code" mais estrito tanto para alunos como profs. No caso dos profs vetaria os "jeans" e ténis, p. ex. Mais 2 coisas: nada tenho contra o facto de BR ter posado para a Playboy e até gostei de ver. Até poderia ser estrela porno: estava e está no seu pleno direito e se alguém a chateasse por isso seria o 1º a defendê-la. O que contesto é a conpatibilidade c/ a função que exerce. E quanto ao "dress code" não se trata apenas de restringi-lo às salas de tribunal, hospitais, etc. Um banqueiro não pode apresentar-se vestido do mesmo modo que um artista ou arquiteto, p. ex. Existe normas sociais tácitas que assim o determinam. Como um juiz, e lembro-me sempre do tristemente célebre juiz Teixeira do caso Casa Pia, mesmo na sua hora de almoço de um dia de trabalho e quando se desloca para o ginásio, não deve ir de "jeans", "T shirt" e ténis. Os "dress codes" t~em uma função, incluindo as cabeleiras dos juizes e britânicos e "speaker" do Parlamento. sobre o que escrevi s/ "dress codes" pode consultar: http://eusouogatomaltes.blogspot.com/search?q=loja+do+cidad%C3%A3o
Cumprimentos