segunda-feira, junho 08, 2009

O que não ouvi na noite eleitoral

O que não ouvi nos comentários na noite eleitoral televisiva:
  1. Arriscamo-nos a que o governo se transforme nos próximos meses numa espécie de Santa Casa da Misericórdia, distribuindo, com a desculpa do combate à crise e sem o espartilho do “déficit”, benesses “a torto e a direito”, sem grande ou pequena preocupação com as efectivas necessidades e tendo apenas como objectivo a conquista de votos, numa espécie de “carneiro com batatas” dos tempos modernos. De qualquer modo, apenas uma vitória relativamente confortável do PS nesta eleições europeias poderia ter minimizado esse risco – o que, como se sabe, não aconteceu.
  2. O PS deve preparar-se seriamente para enfrentar um Presidente da República que irá aproveitar todo e qualquer pretexto para favorecer a campanha do PSD. Não é preciso ter dons de pitonisa para o prever.
  3. Pela amostra do que foi a campanha para as eleições europeias, o país irá entrar num período de demagogia e “populismo” à solta. A comunicação e a capacidade de influenciar e manipular os “media” e a informação, principalmente a imprensa “tablóide” (qual não a é?), com “casos” e escândalos vários, poderá ser chave. Oxalá as legislativas fossem já amanhã!
  4. A intervenção de Manuel Alegre foi, no mínimo, deselegante para com o seu secretário-geral e para com seu partido.
  5. Algo a temer: que seja virtualmente impossível para o Partido Socialista levar a efeito em Portugal um programa consequente de reformas económicas e sociais num sentido liberal mas salvaguardando o modelo social, colocado sob o efeito de “tenaz” entre uma direita tendencialmente ultra-liberal na economia e conservadora nos costumes e os partidos à sua esquerda, mais liberais nos costumes mas conservadores em assuntos de carácter económico bem como contestatários da UE e do estado de direito democrático. Acresce que o resultado das europeias irá provavelmente dar origem a algumas mudanças tácticas na atitude das organizações empresariais, até aqui em quase “namoro” socrático.

4 comentários:

gin-tonic disse...

Conta-se a história que um dia perguntaram a Fernando Piteira Santos: “Por que é que não te filias no Partido Socialista?” Resposta: “Porque sou socialista!”
Serve a citação para introduzir uma velha questão. Dos dois partidos, PS e PSD, um está a mais. Porque o PS não é socialista, o PSD não é social-democrata. Grande parte do PS cabe na social-democracia e a sua esquerda revê-se, aparentemente, no Bloco de Esquerda. Grande parte do PSD cabe num partido popular e a outra parte, essa é mesmo social-democrata. Cairemos então num único partido, o que nos conduz ao chamado Bloco Central que, salvaguardando algumas nuances, tem governado o país nas últimas três décadas.
Demasiado simplista mas é o que pensa um leigo que apenas pretende comentar e não doutrinar.
Agora vem o Verão, os vários populismos – aliás já ontem começaram! – irão ocupando esses dias e pelo findar de Setembro ou pelo começar de Outubro se verá como estão as uvas.
Por mim iria dar uma volta e só voltaria depois da festança onde nunca falta a D. Constança.. Mas – hélas! – os rendimentos só lhe dão para ir até Cacilhas…

JC disse...

Bom, em rigor nem o PS é social-democrata, pois os partidos socialistas, trabalhistas e sociais-democratas europeus (são todos da mesma família política)resultam do movimento operário e da cisão da histórica da Internacional entre reformistas e revolucionários.Na Rússia, o partido que dá origem à cisão entre mencheviques e bolchevistas é o partido social-democrata. Mas bom, na sua prática política o PS identifica-se com a actual dos partidos socialistas,sociais-democratas e trabalhistas europeus. Quanto ao PSD é um partido com uma prática política conservadora, existam ou não sociais-democratas no seu seio o que é indiferente. Sobre o assunto, se me permites sugiro o que escrevi em http://eusouogatomaltes.blogspot.com/2009/05/andre-freire-e-as-semelhancas-entre-ps.html
Abraço

NP66 disse...

O PS teve, durante 4 anos, condições ímpares para fazer reformas... e "parece" não ter feito nada de jeito! O que fez foi um combate feroz a diversas classes profissionais, apenas com fins economicistas e de combate ao défice. Apenas! Adiante!

Quanto ao ponto 1... nada a temer: Sócrates afirmou, após a derrota do PS nas eleições europeias, com firmeza e convicção e sem a voz embargada, que o Governo vai manter o rumo! :)

JC disse...

Não poderia dizer outra coisa, caro NP. Veremos o que acontece...