terça-feira, março 29, 2011

O relatório do Banco de Portugal e a "ajuda externa"

Bem mais importante que o corte de 0.1pp na previsão de crescimento do PIB para 2011 - que me desculpem mas pouco ou nada relevante quando é feita com um histórico de apenas dois meses do ano e numa situação de enorme incerteza nacional e internacional - é esta a afirmação-chave que me parece destinada a condicionar fortemente o comportamento dos mercados e a colocar em risco a garantia do não recurso à “ajuda externa”: “persistem riscos de implementação não negligenciáveis”, decorrentes do “grau de consolidação orçamental numa magnitude sem precedente” (retirado do “Público” on line).

Ou seja, o que o Banco de Portugal afirma é a sua desconfiança na capacidade do governo (ou dos governos, já que teremos um novo lá para Junho) em implementar as medidas necessárias à redução do “déficit” para os valores acordados em 2011. Descodificando ainda um pouco mais: se isto não é um verdadeiro apelo a uma intervenção externa no controle das nossas contas públicas, não sei muito bem o que será.

Nota: com estas afirmações não pretendo dizer que não existam fortes razões para as dúvidas e incertezas manifestadas pelo nosso Banco Central. Direi mesmo que só um louco não partilha de tais dúvidas (e dúvidas não são certezas, note-se). Estou apenas a tentar descodificar uma afirmação (vulgo: "chamar os bois pelos nomes") tal como o farão todos aqueles, cidadãos e instituições, interna e externamente, a quem ela se destina.

2 comentários:

Anónimo disse...

Caro JC

O cenário é negro. Os ratings apenas a um nivel do "junk". Taxas de juro(a 5 anos) que já ultrapassaram os 9%. Uma resistência feroz a uma auditoria às contas públicas, com medo que sejam descobertos mais buracões ?Campanha eleitoral em curso, focada nos interesses pessoais e partidários sem propostas (de ambas as partes) crediveis para combater "a crise", e com acusações (disparatadas) de parte a parte...que mais nos irá acontecer.

Cumprimentos

JC disse...

A auditoria foi feita pela delegação do BCE que cá esteve. CE, BCE e BP têm perfeita noção da situação das contas públicas e só seria contraproducente andar aí a badalá-la. O país não é propriamente um clube de futebol e divulgar toda a verdade, qualquer que ela seja, nem sempre é a melhor opção. Neste caso, nem governador do BP nem PR acharam, quanto a mim bem, necessidade de falar mais s/ o assuntio. Quanto a propostas credíveis p/ combater a crise, goste-se ou não, discorde-se ou concorde-se, Bruxelas e frau Merkel já disseram quais eram.