Confesso a minha apreensão (ou até bem mais do que isso) quando leio e oiço muitas avaliações positivas do discurso de posse de Cavaco Silva apenas com base em afirmações do tipo “disse a verdade aos portugueses” ou “nada do que disse é mentira”. Falo do discurso do Presidente da República porque é o exemplo mais próximo no tempo, e não porque quaisquer outras razões específicas.
Em primeiro lugar porque, como tenho inúmeras vezes salientado, excepto nas sociedades totalitárias não existe uma única verdade tornada oficial e, assim, imposta aos cidadãos deste modo “castrados” de pensamento próprio e autónomo. As sociedades democráticas são, por definição, plurais, abertas ao confronto de ideias, ideais e opiniões que nem sempre confluem em consensos. Claro que existem factos comprovados e indiscutíveis (os valores do “déficit”, das taxas de juro, da dívida, etc), mas o modo como são apresentados, a importância dada a cada um deles, o modo como são integrados num discurso político e o “peso” específico de cada um deles na construção de um raciocínio podem dar origem a “verdades” muito diferentes entre si.
Em segundo lugar, porque a omissão de alguns desses factos comprovados em detrimento da apresentação de outros, seja, a sua selecção, pode conduzir os destinatários de uma determinada comunicação num caminho específico, o pretendido pelo comunicador. Existe, de facto, em qualquer discurso – e o exemplo da montagem no cinema é muitas vezes apontado como paradigmático – uma enorme dose de manipulação (comunicar é manipular). Por exemplo, e utilizando uma vez mais o discurso de Cavaco Silva como tema, referências à Justiça e/ou à crise internacional, bem como o maior ou menor peso específico que lhes fosse atribuído - para apenas citar dois temas importantes na vida dos portugueses - teriam certamente levado quem ouviu o discurso a algumas “nuances” nas suas conclusões.
Por último, e agora refiro-me a algo actualmente muito “em moda” e que, quanto a mim, constitui um enorme perigo para as sociedades democráticas na medida em que se parte do princípio da sua identificação com o a própria democracia, porque a ideia, bem expressa no Wikileaks e que começa quase ter “força de lei”, da “bondade da “transparência total” retira aos governantes e responsáveis políticos aquela que te"Falar verdade"m sido sempre, e deve continuar a ser sob pena de ingovernabilidade, uma das suas principais funções: a selecção e gestão da informação, a escolha de quem a ela tem acesso e do “tempo e o modo” como deve ser comunicada.
O que me parece é que corremos novamente o risco de estarmos perante o simbolismo do ovo da serpente: através da sua casca transparente, neste caso representada pela ilusão da “democracia total”, no seu interior, já em formação, espreita de facto o perigo do totalitarismo constritor.
Em primeiro lugar porque, como tenho inúmeras vezes salientado, excepto nas sociedades totalitárias não existe uma única verdade tornada oficial e, assim, imposta aos cidadãos deste modo “castrados” de pensamento próprio e autónomo. As sociedades democráticas são, por definição, plurais, abertas ao confronto de ideias, ideais e opiniões que nem sempre confluem em consensos. Claro que existem factos comprovados e indiscutíveis (os valores do “déficit”, das taxas de juro, da dívida, etc), mas o modo como são apresentados, a importância dada a cada um deles, o modo como são integrados num discurso político e o “peso” específico de cada um deles na construção de um raciocínio podem dar origem a “verdades” muito diferentes entre si.
Em segundo lugar, porque a omissão de alguns desses factos comprovados em detrimento da apresentação de outros, seja, a sua selecção, pode conduzir os destinatários de uma determinada comunicação num caminho específico, o pretendido pelo comunicador. Existe, de facto, em qualquer discurso – e o exemplo da montagem no cinema é muitas vezes apontado como paradigmático – uma enorme dose de manipulação (comunicar é manipular). Por exemplo, e utilizando uma vez mais o discurso de Cavaco Silva como tema, referências à Justiça e/ou à crise internacional, bem como o maior ou menor peso específico que lhes fosse atribuído - para apenas citar dois temas importantes na vida dos portugueses - teriam certamente levado quem ouviu o discurso a algumas “nuances” nas suas conclusões.
Por último, e agora refiro-me a algo actualmente muito “em moda” e que, quanto a mim, constitui um enorme perigo para as sociedades democráticas na medida em que se parte do princípio da sua identificação com o a própria democracia, porque a ideia, bem expressa no Wikileaks e que começa quase ter “força de lei”, da “bondade da “transparência total” retira aos governantes e responsáveis políticos aquela que te"Falar verdade"m sido sempre, e deve continuar a ser sob pena de ingovernabilidade, uma das suas principais funções: a selecção e gestão da informação, a escolha de quem a ela tem acesso e do “tempo e o modo” como deve ser comunicada.
O que me parece é que corremos novamente o risco de estarmos perante o simbolismo do ovo da serpente: através da sua casca transparente, neste caso representada pela ilusão da “democracia total”, no seu interior, já em formação, espreita de facto o perigo do totalitarismo constritor.
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