quarta-feira, março 30, 2011

As ideias eleitorais do PS

  1. Certo: o PS irá adoptar como leitmotiv da sua campanha a responsabilização do PSD pela queda do governo e problemas daí inerentes (juros em alta, iminência de ajuda externa, futuras medidas eventualmente mais gravosas, etc). É um argumento forte; mas o PS tem-no repetido até à exaustão e esse é um dos seus problemas: o tema tem um tempo de vida limitado pois esgota-se nessa mesma repetição. Para além disso, as consequências dessa actuação do PSD são por ora pouco tangíveis, apenas se podendo vir a materializar de modo mais gravoso após as eleições.
  2. Do mesmo modo, o PS e José Sócrates já afirmaram que o PEC IV constituirá a base do programa eleitoral do partido. Não se imaginaria pudesse ser de outro modo e calculo o PS espere vir a colher frutos dessa sua frontalidade. Mas atenção: o PEC IV é constituído por medidas gravosas para a maior parte dos cidadãos (necessárias, mas gravosas) e não me parece a “frontalidade” e honestidade” de apresentar o PEC IV como base do programa eleitoral, tendo em atenção a imagem de pouca credibilidade do governo junto dos cidadãos, pouco importa se com ou sem razão, possa colher muitos frutos. Pelo menos, os necessários.
  3. Não é preciso ser bruxo ou ter dons de pitonisa para imaginar que o PS irá também fazer da defesa do ensino público e do SNS uma das suas armas de campanha. Só poderá ser assim, dado o “lamiré” do PSD no sentido da “livre escolha” como se amanhã todos os jovens, mesmo aqueles cujas famílias têm possibilidades económicas para tal, pudessem passar a frequentar o S. João de Brito, os Salesianos ou o Planalto. Mas existe algo de que o PS se deverá lembrar: em primeiro lugar que a ideia de “livre escolha” para os cuidados de saúde e para a educação é em si mesma, no abstracto, bastante atractiva. Em segundo lugar que o SNS, numa sociedade que já não é a dos anos 70 ou 80 do século passado e na qual os seguros de saúde se generalizaram para uma classe média urbana já com grande peso e voz própria nos “media”, talvez já não constitua um conceito suficientemente mobilizador para largas camadas de portugueses. Por último que o PSD irá “doirar um pouco a pílula” quando apresentar as medidas nesse sentido no seu programa eleitoral. Aliás, acho que as referências à “livre escolha” já efectuadas estarão lá bem mais para mobilizar a sua “vanguarda ideológica” ultra-liberal do que para se traduzirem num programa concreto que esbarraria necessariamente com a Constituição da República e com a oposição de PS, PCP e BE.
Em resumo: se analisarmos os três parágrafos anteriores será bem fácil concluir que todos os argumentos neles constantes assumem um carácter claramente defensivo. Ora, se o PS quer ganhar as eleições ou, pelo menos, limitar bastante os estragos, será necessário, mesmo tendo em conta os fortes constrangimentos ditados pela situação económico-financeira, ser bastante mais ousado e criativo. Não basta culpar o PSD; é preciso explicar bem porquê. Não basta apresentar o PEC IV; é preciso mostrar um caminho futuro. Não é suficiente defender a “escola pública” e o SNS; é indispensável desmontar o mito da “livre escolha”, demonstrar a sustentabilidade do SNS (e flexibilizá-lo) e deixar claras as suas virtualidades e vantagens mesmo para uma classe média emergente.

2 comentários:

JC filho disse...

E já agora podiam explicar porque n incluiram o prejuizo das empresas públicas no cálculo do défice e esconderam que o défice real em 2010 foi de 8,6%. Bonito! Só n percebo como alguém ainda vota num governo completa incapaz de estancar a despesa pública e não tem qualquer estratégia para por o país a crescer!

JC disse...

Pois... Mesmo que tivessem dúvidas s/ a inclusão em 2010 das imparidades do BPN e sobre as transferâncias p/ as empresas de transportes - e admito essas dúvidas - deveriam ter criado uma contingência para o efeito. Com essa "contingência", se não fosse necessário incluir essas verbas em 2010 o "déficit" ficaria assim bem menor; se o fosse, tal como veio a confirmar-se, o "déficit" não ultrapassaria assim os previstos 7.3%. Quanto ao crescimento... Ninguém, nem a UE, tem neste momento qualquer estratégia para pôr Portugal, grécia e Irlanda a crescer. é esse o drama!