quinta-feira, abril 30, 2009

S. C. Olhanense, FCP e o "sistema"

Teria tudo para me congratular com a mais do que provável subida do Olhanense à 1ª Liga, um clube tradicional e com uma efectiva inserção na comunidade local, com público no seu estádio. Teria...

Mas o que é um facto é que o Sporting Clube Olhanense actual, com três jogadores emprestados pelo FCP e um treinador seu ex-capitão (não está em causa a minha admiração e respeito profissional por Jorge Costa, que são elevados), parece bem ser mais um daqueles casos de “filiais” ou clubes subsidiários que, à sombra dos empréstimos e transferências de alguns jogadores, o FCP tem por aí semeado nos últimos anos, um pouco como o acontecido com o Vitória de Setúbal, Estrela da Amadora e, até, Académica. Aliás, seria bem interessante investigar o tráfico de influências, ligações e acordos menos claros que se vão estabelecendo na base dos empréstimos e compra de passes de alguns jogadores cujo único objectivo parece ser, primeiro, o de fazer um favor ao clube vendedor (e não há almoços grátis!) e, depois, tirar eventuais benefícios do seu empréstimo ao clube que na ocasião der mais “jeito”. Será que o tão falado “sistema” já lançou por aqui os seus tentáculos?

The Classic Era of American Pulp Magazines (56)

Capa de H. W. McCauley para o nº 12 do Volume 22 de "Amazing Stories" (Dezembro de 1948)

quarta-feira, abril 29, 2009

Republic Pictures (6)

"The Oregon Trail" (1936)

A humilhação pública de Jesualdo Ferreira

O presidente do FCP tem por política não admitir que alguém no clube possa, de algum modo, pelo seu curriculum e estatuto assumido consequência dos êxitos conquistados, ensombrar, por muito pouco que seja, o seu estatuto de “Papa” e o seu poder absoluto perante os accionistas e sócios, assim tornados súbditos. Está no seu direito, claro está, competindo apenas a esses mesmos accionistas e sócios decidirem da justeza dessa actuação. José Mourinho bem o percebeu e, como tem algum estofo e o estatuto de campeão europeu e o seu valor lhe abriam outros voos, perante as públicas investidas das sturmabteilung de Pinto da Costa bateu a porta com estrondo para que todos percebessem o que estava em causa.

Serve este intróito para realçar a patética actuação de Jesualdo Ferreira, quase pedindo de joelhos ao presidente do FCP para lhe renovar o contrato e, nas suas prestações públicas, assumindo a ideologia e a cultura do “patrão” como se tivesse por lá nascido e medrado. Isto enquanto Pinto da Costa resolve mostrar em público que (e Jesualdo me desculpe a analogia - "honni soit qui mal y pense") "traz o animal toureado".

Vejamos: Jesualdo não é um novato destas coisas; já ultrapassou os sessenta anos e ninguém contesta o seu saber e competência; possuí uma licenciatura por uma universidade prestigiada; ao longo da sua carreira por certo angariou pecúlio que lhe permita desafogada reforma e não lhe faltarão propostas, como treinador ou outras, para a complementar; nunca se lhe conhecera antes simpatia desportiva pelo FCP e pelo seu modus operandi. Pergunto, pois, porque se sujeitará a tal amesquinhamento, a tamanha humilhação?

Sou benfiquista e a saída de Jesualdo enfraquecerá o FCP, sendo esse o meu desiderato? Não será por aí: a questão FCP pouco tem a ver com quem ocasionalmente o treina; um tal Carlos Alberto Silva e um certo António Oliveira por lá foram campeões. Não gosto de ver alguém por cujo profissionalismo tenho (tinha?) alguma consideração se humilhe e rasteje (gostaria de acrescentar: sem necessidade, mas haverá alguma vez necessidade de tal coisa?) perante alguém que considero como exemplo do que de pior existe no Portugal do presente, a ele se sujeitando? Uma renúncia de Jesualdo Ferreira seria uma derrota de Pinto da Costa? Estas duas últimas interrogações afirmativas estarão mais perto da verdade, mas quantos milhões de portugueses comigo as não partilham?

Partidos políticos e "interesses"

Confesso a minha perplexidade quando vejo os partidos políticos serem acusados de defenderem “interesses”, muito mais do que um hipotético “interesse nacional”. E o problema é que isso não acontece só por parte do “povo da SIC”, nos diversos fóruns de opinião, mas também não é assim tão invulgar como isso escutar a mesma acusação por parte de quem seria de esperar uma muito maior responsabilidade.

Sejamos claros: os partidos representam e sempre representaram “interesses”, frequentemente contraditórios e conflituais, e é essa a essência da democracia, onde esses interesses existentes na sociedade, assim representados, passaram a ser dirimidos por via do voto e da legalidade democrática, representada a todos os níveis da organização social e onde as minorias se podem exprimir livremente, e não através da assassinato político, dos casamentos entre famílias ou da guerra civil. Subordinar esses interesses a um interesse superior ou nacional (expresso no habitual "os partidos não se entendem), considerado como o único legítimo, é paradigma dos totalitarismos.

Durante muitos anos esses interesses, expressos através dos partidos, eram essencialmente interesses de classe, e por isso os partidos políticos correspondiam, na sua ideologia e valores que perseguiam, a essa realidade: na sua essência, os partidos comunistas e social-democratas representavam o operariado, em conflito ou em colaboração reformista com o Estado burguês, a democracia cristã os proprietários, pequenos, médios e grandes, os partidos agrários conservadores os agricultores e alguns partidos liberais e radicais, de centro, “pescavam” nas águas de uma média burguesia urbana e de serviços . De um modo geral era assim que acontecia e quando este sistema de representação entrou em colapso, com a crise de 1929 e a Grande Depressão, emergiram os nazi-fascismos e outros totalitarismos.

O que se passa, fundamentalmente, na actualidade é que a terceirização das sociedades mais desenvolvidas, com o quase desaparecimento do proletariado, dos pequenos agricultores e proprietários (comerciantes, industriais) independentes e com as novas tecnologias e formas de organização do trabalho, deu origem a uma certa diluição desta estratificação classista herdada da revolução industrial e que atingiu o apogeu em meados do século XX, tornando as ideologias e o sistema partidário em que esta se apoiava obsoletos. Que os partidos comunistas tenham implodido não é só consequência da queda do muro, mas sim também consequência desta evolução que levou o comunismo ao declínio e posterior implosão. Que o PCP represente, hoje em dia, principalmente os reformados pobres e o funcionalismo menos qualificado não pode pois surpreender. A convergência partidária ao centro nos países mais desenvolvidos, incluindo Portugal onde, mais a mais, nunca existiu tradição operária reformista, é também consequência deste mesmo estado de coisas.

O que de facto acontece é que estamos, pois, perante um ajustamento (ou tentativa de) do sistema de representação partidário a uma nova composição e estrutura de organização da sociedade, o que não se faz, dada a tendência para a conservação que é característica das estruturas e os “vazios” que as mudanças sempre geram, sem sobressaltos, sem rupturas entre representados e representantes, sem distanciamento entre ambos e, assim, sem espaços abertos para os diversos oportunismos. Os ensaios vindos dos chamados “movimentos de cidadãos”, normalmente nascidos contra os chamados “interesses” mas, por isso mesmo, acabando por nascer e dissolverem-se rapidamente e esgotarem-se no interesse de um só protagonista, também mais não são do que formas ensaiadas de preencher este vazio de representação e a sua vida efémera prova de que não existe sistema partidário sem representação clara de interesses sociais homogéneos.

O problema, pois, não é o facto de os partidos apenas representarem e perseguirem interesses; muito antes pelo contrário. O verdadeiro problema é quando os partidos deixam de ser porta-voz desses mesmos interesses existentes na sociedade que, assim, passam a ser dirimidos fora do campo da democracia. Foi isso que aconteceu no 25 de Abril, quando sectores maioritários dos portugueses, entre os quais aqueles que detinham o poder do dinheiro e das armas, deixaram de sentir representados, nos seus legítimos interesses, pela ditadura e pelo seu único partido. Quando isso aconteceu numa ditadura, com um único partido que conciliava o chamado "interesse nacional", apenas houve lugar ao seu derrube pela força.

Não há que pugnar, portanto, pelo menos entre aqueles que se reconhecem nas democracias liberais, contra a representação dos interesses sociais e económicos por parte dos partidos políticos, mas, isso sim, assegurarmo-nos que eles estão efectivamente representados no espectro partidário existente. Nesse caso, sim, poderemos então dormir mais descansados.

terça-feira, abril 28, 2009

Chopin e Idil Biret: excelente música a preços módicos



Fryderyk Chopin por Idil Biret - Valsa em ré bemol maior Op.64/1

A pianista turca Idil Biret (Ankara, 1941) gravou, na última década do século passado, a integral das obras de Fryderyk Chopin, para a editora Naxos. São, salvo erro, 15 CDs, mas pode comprá-los separadamente.

Recomendável por duas razões: trata-se de uma interpretação de referência por uma excelente pianista contemporânea e a Naxos é uma daquelas editoras de séries económicas que disponibiliza os seus CDs a preços muito convidativos apesar da qualidade acima da média que normalmente oferece. Por exemplo, a gravação da Naxos para algumas sinfonias de Mozart, pela Capella Istropolitana dirigida por Barry Wordsworth, está também altamente cotada.

Os meus CDs de Chopin por Idil Biret comprei-os, já lá vão uns 4 ou 5 anos, na FNAC, por cerca de €6 cada um. Penso que o preço actual andará á volta dos €8. Na Amazon estão disponíveis por $8.99. Fica uma amostra: a este preço e com esta qualidade, a crise não é desculpa!

Songs of the WW II (5)

Lidiya Andreyevna Ruslanova (Лидия Андреевна Русланова) - "Katyusha" (Катюша)
Esta é a versão original do célebre tema Katyusha, composto em 1938 por Matvei Blanter e Mikhail Isakovsky e que nos habituámos a ouvir pelo Alexandrov Ensemble (Ансамбль Александрова) aka "Coros do Exército Russo". A canção fala de uma rapariga cujo "bem amado" está na guerra e tornou-se num dos temas mais célebres da música popular russa.

segunda-feira, abril 27, 2009

O 25 de Abril falhou? Só se foi por não conseguir que os portugueses passassem a ter a noção da realidade

Por vezes penso que os portugueses vivem numa diferente dimensão, sem a noção do mundo e das realidades, com uma ausência quase total de rigor no que dizem e no que fazem. Como é possível, por exemplo, que a RTP, serviço público de televisão, pago por todos nós, intitule o seu "Prós & Contras" de hoje “O 25 de Abril Falhou?” - mesmo com interrogação e tudo? Será que não vivemos hoje em democracia, com liberdade de associação, reunião, expressão e voto, uma das mais livres do mundo? Será que não enterrámos o nosso passado colonial e pusemos fim a uma guerra de treze anos? Será que Portugal, apesar do seu provincianismo quase endémico, de que o título do programa é apenas mais uma prova, se compara ao país humilde, pacóvio, objecto de escárnio do mundo civilizado, de antes do 25 de Abril? Será que os portugueses não têm um sistema de saúde e de segurança social que, com as insuficiências ainda existentes, garante níveis de protecção muito satisfatórios? Será que os portugueses ainda continuam a emigrar às centenas de milhar? Será que a sociedade fechada, sem mobilidade social, em que filho de operário, operário seria, ainda é realidade sufocante no Portugal de hoje? Será que continuamos de costas voltadas para o mundo civilizado ou não somos hoje parte, de pleno direito, da União Europeia, essa Europa onde a elite portuguesa viu sempre a civilização, o progresso? Será que as portuguesas, tal como antes da revolução, ainda são cidadãs de segunda? Será qua a quase inexistente classe média do salazarismo passava férias no Brasil e em Cancún?

Apesar de todas as dificuldades presentes e passadas, de todas as (justificadas) insatisfações com a justiça, com a corrupção, com os políticos, com as desigualdades sociais ainda existentes, importam-se, (importam-se mesmo, caros portugueses?), de ter juízo e deixarem de ser ridículos?

Walter Trier's "Lilliput" (3)


Susan Boyle

Peço desculpa pelo atraso, mas ando para escrever isto há que tempos...

Sim, eu sei que a mulher canta e tem boa voz; não se limita a aparecer. Mas, por muitas afirmações entre o espanto e o moralismo, entre os valores positivos e os pensados, mas nem sequer sussurrados, “canta bem, tem valor, mas ainda bem que não sou como ela”, no “never been kissed” apregoado como se tivesse duas cabeças ou sete braços, há qualquer coisa de exibição de feira de antanho, de freak show, de monsters parade da idade pós-moderna, do século XXI, na histeria em torno de Susan Boyle. Que querem? Não podia passar ao lado...

História(s) da Música Popular (127)

Umberto Bindi - "Il Mio Mondo"

"Under the Influence" - The original songs of the "British Invasion" (X)

Já por aqui falei da Liverpuldian Priscilla Maria Veronica White, mais conhecida no mundo da música popular como Cilla Black, e da sua ligação a Lennon-McCartney, Brian Epstein e George Martin. Pois se Cilla Black teve o seu primeiro #1 com a composição de Bacharach e David “Anyone Who Had A Heart”, em 1964, repetiria a dose nesse mesmo ano com uma versão da canção italiana de Umberto Bindi e Gino Paoli “Il Mio Mondo”, crismada, para a ocasião, como “You’re My World”. Isto apesar de, tanto quanto sei, nunca Cilla Black ter passado por Sanremo, pelo menos para o "Festival Della Canzone Italiana", ignorando, também, se o original alguma vez terá por lá aparecido.

Facto, facto provado, é que nunca mais Priscilla Maria atingiria o topo do "hit-parade", ficando-se, como aproximação, pelo #2 em 1965 com “You’ve Lost That Lovin’ Feeling”, o clássico de Phil Spector, Barry Mann e Cynthia Weil que todos bem conhecemos na interpretação dos Righteous Brothers. Talvez tenha sido a maldição do charme italiano...

Cilla Black - "You're My World"

Queriam a prova? Não era preciso, mas aqui está!

Se queriam prova do que aqui afirmei sobre os empréstimos do jogadores, este artigo do insuspeito "Público" é apenas mais uma prova. Claro que ninguém vai investigar coisa nenhuma, porque, de facto, nada há para investigar: apenas regulamentos há muito "fabricados" para falsear a verdade desportiva e prejudicar a indústria em benefício, transitório, de alguns - ou de algum. Enquanto a indústria conseguir subsistir (está por pouco), claro, e não passarmos todos a ver apenas o Arsenal, o United, o Chelsea, o Liverpool, o Madrid e o Barça. Mas, who cares?, enquanto "el-rei" for distribuindo migalhas...
José Maria Pedroto adiou o futebol português vinte anos; o presidente do FCP prepara-se para ser o seu coveiro. A crítica, claro, aplaude. Business as usual...

domingo, abril 26, 2009

Willie Dixon's Blues Dixonary (16)

Howlin' Wolf - "Built For Comfort" (Willie Dixon)
(restantes músicos não indicados)

Canned Heat - "Built For Comfort" (Willie Dixon)

Nazi Exploitation (2)


"Ilsa, The She Wolf of the SS" (1974)

D. Nuno Álvares Pereira e Aljubarrota

A propósito da canonização de D. Nuno Álvares Pereira (é pelo menos um bom pretexto para se falar da verdade histórica) um excerto do post que aqui publiquei em 22 de Dezembro de 2006 quando a RTP 2 exibiu um documentário sobre a batalha de Aljubarrota:

  • "Não existia, na época, um sentimento “nacional” tal como o conhecemos hoje, não estando, por isso, o assunto na primeira linha do conflito. O levantamento do “povo” (leia-se “burgueses”) de Lisboa tem como objectivo fundamental não a “independência” mas a tentativa de evitar o seu domínio por parte da aliança entre grande aristocracia portuguesa e castelhana, o que constituiria um travão às suas aspirações de fortalecimento e poder. Forçaram mesmo aquilo a que se chamaria hoje um “parecer jurídico”, por parte de D. João das Regras, para justificar a entrega do trono a um bastardo que, ainda por cima, estaria relutante em aceitá-lo.
  • Estávamos, na Europa, em plena “Guerra dos Cem Anos”, e o que aconteceu em Aljubarrota (onde parece que os dois exércitos nunca estiveram realmente face a face o que, a acontecer, tornaria qualquer eventual heroísmo ou bravura inglórios), em certa medida, não foi mais do que um dos seus episódios, não substancialmente diferente do que aconteceu em Crécy e Poitiers e, mais tarde, em Azincourt. Aliás, havia ingleses do lado português, que foram decisivos, e franceses, além de portugueses (uma boa parte da grande aristocracia portuguesa, incluíndo pelo menos um irmão de D. Nuno Álvares Pereira, combateu por D. João de Castela, que defendia os seus interesses), do lado de Castela, que foram também decisivos, neste caso, para derrota.
  • John of Gaunt, 1º Duke of Lancaster e filho de Edward III de Inglaterra, pai da futura rainha Filipa de Portugal (Philippa of Lancaster), era pretendente ao trono de Castela por via do seu casamento com D. Constança, filha de D. Pedro de Castela, e o seu envolvimento, para além de questões de Estado relacionadas com a “Guerra dos Cem Anos”, deve-se também a este facto. Invadirá, sem sucesso, Castela no ano seguinte (1386) ao da batalha de Aljubarrota.
  • Este é o início da chamada “aliança inglesa” (entre Portugal e a Inglaterra), episódio da luta de Inglaterra contra as duas grandes potências continentais (Castela/Espanha e França), que garantirá a independência de Portugal nos séculos seguintes mas tornará o país uma sub-potência marítima sob protecção britânica, afastando-o das grandes decisões que se jogarão no espaço europeu continental. Talvez a referência inicial do nosso subdesenvolvimento."

sábado, abril 25, 2009

Discursos, discursos...

  1. Conforme tinha aqui previsto, as afirmações do primeiro-ministro na sua entrevista à RTP sobre os parâmetros que deveriam presidir ao seu relacionamento institucional com Belém serviram fundamentalmente para condicionar futuras intervenções públicas do Presidente da República em período eleitoral, começando pelo conteúdo do tradicional discurso do 25 de Abril. Por essa ou qualquer outra razão, Cavaco Silva terá proferido o seu discurso mais neutral enquanto presidente, permitindo ao PS optar, com vantagem, por uma intervenção evocativa emocional na sessão solene da AR em vez de se decidir por um discurso mais vincadamente político. Resta-me tirar o chapéu...
  2. Também como aqui previ, Paulo Rangel trouxe para a campanha a campanha eleitoral para o Parlamento Europeu o tom - da retórica e chicana parlamentares - em que, saber de experiência feito, se sentirá mais à vontade. Se dúvidas ainda restassem depois das suas anteriores intervenções, o despropositado discurso de hoje serviria de prova. Está no seu direito, mas se tivesse chapéu não o tirava...
  3. Jerónimo de Sousa acertou em cheio quando falou das pouco veladas alusões do Presidente da República à hipótese de um futuro “Bloco Central”. Cavaco Silva foi-se precavendo assim para uma eventual perda da maioria absoluta por parte do PS e tentou deste modo marcar a sua equidistância partidária. Acontece, no entanto, que o objectivo do PS é a maioria absoluta... De qualquer modo, tiro a chapéu a ambos, Jerónimo de Sousa e Cavaco Silva.
  4. Seja pela crise, seja pelo ano eleitoral, seja isso corresponda a um sentimento geral no país que os deputados assim julgam capitalizar (será um pouco de tudo?), não me lembro, nos últimos anos, de uma tão grande radicalização de discursos em sessões evocativas do 25 de Abril na Assembleia da República. Sei que a tentação é grande e o recurso ao discurso do tipo “os jovens capitães que na gloriosa madrugada do 25 de Abril devolveram a liberdade ao povo português” não será muito motivador. Mas, neste caso, ainda bem que não uso chapéu...
  5. Que desse por isso, ninguém se referiu especificamente ao Cardeal Patriarca nas alusões às entidades convidadas. D. José Policarpo não estava presente ou isto é mesmo um progresso? Nada tenho contra D. José Policarpo, para além de ser do Sporting e fumar demais... Mas se isto corresponder a um caminho percorrido na efectiva laicidade do Estado, tiro o chapéu três vezes.

o 25 de Abril de Vasco Pulido Valente nas páginas do "Público"

Vasco Pulido Valente resolveu comemorar o "seu" 25 de Abril com um texto, publicado hoje no “Público” (não linkável), digno de figurar num qualquer manual do reaccionarismo mais trauliteiro, algo que não me surpreenderia ver assinado por Dutra Faria ou Barradas de Oliveira no “Diário da Manhã” dos velhos tempos. Ou por João Coito na RTP de Valadão. Pior, já que estes ainda tentavam manter o grau de respeitabilidade (pelo menos aparente) necessário ao seu estatuto de comentadores oficiais de um regime que cultivava o distanciamento como norma, deixando para outros prosas e atitudes que, enquanto públicas, poderiam ser julgadas como indignas das elites. Está no seu direito o “Público”, e ainda bem que o pode fazer, constituindo a sua publicação uma homenagem à liberdade há 35 anos conquistada. Além de tudo o mais (les bons esprits...) o mesmo jornal dá por vezes também guarida nas suas páginas ao sovietismo mais retrógrado, na pessoa e escrita de um tal António Vilarigues, achando que assim se cultiva o pluralismo, talvez não tanto a seriedade. É opção do jornal e, como tal, apenas aos seus accionistas e dirigentes diz respeito. Como leitor diário – pelo menos por enquanto - apenas posso lamentar não estejam todos os habituais colaboradores do jornal ao nível que Sarsfield Cabral, Teresa de Sousa, Campos e Cunha, Paulo Varela Gomes, Pacheco Pereira, Pedro Magalhães e outros me habituaram, todos eles responsáveis por esta minha opção diária de leitura. Paciência. Quanto a Vasco Pulido Valente estranho apenas alguém com a sua bagagem cultural e política seja capaz, sem se envergonhar, de se rever em pensamento e raciocínios tão primários, mas, na já longa história do mundo moderno, essa é realidade que já todos nos habituámos a reconhecer, lição de longa data aprendida. Nunca é tarde para o recordarmos, e esta será pois uma excelente oportunidade para agradecer a Vasco Pulido Valente a sua contribuição para manter viva a lembrança.

sexta-feira, abril 24, 2009

24 de Abril foi o último dia, mas foi assim que tudo começou

O "Mago das Finanças"

Memórias de 24 de Abril e o futebol

Curiosamente, as últimas memórias que guardo de antes da revolução estão ligadas ao futebol. Primeiro, o célebre jogo de Alvalade entre Sporting e Benfica, com Marcelo Caetano presente, realizado pouco depois do 16 de Março das Caldas da Rainha. Vi o jogo na bancada central de Alvalade, situada por debaixo da zona reservada aos “cativos” dos sócios do SCP, e lembro-me bem dos entusiastas aplausos, à mistura com um ou outro arriscado assobio vindo da “superior”, que a sua presença, ladeado por João Rocha e Borges Coutinho, suscitou. Segundo julgo saber, a presença de Marcelo Caetano teria sido mantida em segredo através de instruções dadas pela Censura aos jornais, para que o efeito surpresa causado e a possível manifestação favorável não fosse tida por “orquestrada”. O Benfica ganhou 5-3 e ainda me lembro de um golo de Humberto Coelho. Mas o principal sentimento, perante a derrota do “golpe das Caldas e a recepção a Caetano, foi o de pensar que a ditadura estaria para lavar e durar”. Não estava, felizmente.

A outra memória guardo-a da véspera do 25 de Abril, faz hoje exactamente 35 anos. Tinha estado desde o princípio da semana (25 de Abril foi uma 5ª feira) a ser incomodado por um enorme “terçolho”, que me tinha causado enorme mal estar e mesmo alguma febre. Resultado: enfiado no quarto, quase sem luz e sem poder abrir os olhos, a pôr pomada oftálmica e compressas quentes, estiolava e desesperava. Na tarde de 4ª feira o malfadado “terçolho” começara finalmente a drenar e, como me sentisse melhor, lá fiz uma incursão na sala, ao fim da tarde, para ver um Magdeburgo-Sporting na televisão. Era o tempo de apenas dois canais, uma só televisão em casa e a transmissão de jogos era fenómeno apenas um pouco menos raro do que o avistamento de um OVNI. Tratava-se de um jogo das meias-finais da defunta Taça das Taças e o SCP, que tinha empatado o primeiro jogo, em Alvalade, por 1-1, perderia agora por 2-1, sendo eliminado. No dia seguinte, cerca das seis horas da manhã, alguém amigo dos meus pais nos acordava com instruções para que ligássemos a telefonia para o RCP. Depois de alguns sobressaltos (eram os “nossos” ou os “ultras” do Kaúlza?), a música de José Afonso sossegou-nos.
A partir daí nada seria como dantes...

O 25 de Abril também produziu má música; digna do 24 de Abril, pois claro

O “Gato Maltês” não transige em questões do gosto, e acha o dia 24 de Abril deveria servir também para deitar para “o caixote do lixo da História” muito do que, tal como a ditadura de Salazar e Caetano, se poderia e deveria incluir numa mesma categoria do mau gosto. Mesmo que tenha dado à luz já depois do 25 de Abril ou à sua sombra tenha progredido e feito carreira.

No caso da música portuguesa, se ao 25 de Abril e à luta contra a ditadura se deve muito do melhor que alguma vez se fez - desde a obra de José Afonso (aquele que melhor soube casar a música popular de origem urbana - o fado e a balada de Coimbra - com as recolhas rurais de Giacometti e a influência músical dos povos das colónias) até a um dificilmente classificável Sérgio Godinho (que reinventou o português como língua musical) passando por um Adriano que nos deu a conhecer Manuel Alegre e a balada coimbrã no seu melhor e um GAC que provou ser possível conciliar música de mobilização popular, inovação e qualidade musical e interpretativa (felizmente há alguns outros, mas não vale a pena ser exaustivo) -, também à sua sombra e das proclamadas boas intenções (muito infernais, como é sabido) se produziu muito do que de pior alguma vez se ouviu aqui pelo rectângulo, bem digno de enfileirar com o que de mais deprimente o denominado “nacional-cançonetismo” pré 25 de Abril alguma vez terá ousado (diga-se de passagem que o tal “nacional-cançonetismo” também logrou algumas coisas – poucas – de qualidade assinalável).

Nesse sentido, e longe de querer ser exaustivo já que não gosta o “Gato Maltês” de guardar muito lixo na memória – apenas o necessário como exemplo do que é mau e, por isso, se não deve repetir -, resolve este "blog", para comemorar o último dia de uma ditadura cheia de defeitos entre os quais se conta o do mau gosto de existir, elencar, para que se não repita, alguma da pior música que o 25 de Abril produziu, por isso mesmo digna de ser incluída no mesmo saco da defunta e sinistra ditadura e na ausência de saudades que o 24 de Abril nos deixa. Para além da má qualidade, em grande parte dos casos trata-se apenas de oportunismo feito música(?), o que ainda é bem pior.

Peço desculpa de eventuais falhas, mas trata-se apenas de nomear alguns temas cujo carácter simbólico seja também evidente. Além disso, interpretando os sentimentos e intenções do “blog” e o racional que está na base desta lista, poderá também o leitor contribuir para colmatar alguns lapsos de memória deste escriba.

Nota: como é óbvio, para nos mantermos dentro dos padrões do bom gosto, não poderá ouvir aqui nenhum dos temas indicados, ao contrário do que é habitual neste “blog” que faz da música uma das suas razões de existência.

Vamos pois a isso?

  • “Somos Livres” – Ermelinda Duarte
  • “Força, Força Companheiro Vasco”, “Daqui O Povo Não Arranca Pé”, “A Mim não Me Enganas Tu” – Carlos Alberto Moniz e Maria do Amparo
  • “A Vitória É Difícil” e “Só De Punho Erguido” (há muitas mais; aliás, quase tudo o que de lá vem) – José Jorge Letria
  • “Obrigado Soldadinho” – Tonicha
  • “Só O Povo Unido”, “A Valsa da Burguesia” e “Vamos Brincar À Caridadezinha” – José Barata Moura
  • “A Boca Do Lobo” – Carlos Cavalheiro
  • “Fado de Alcoentre”, “Fado Do Operário Leal” e “Tango Económico” (são apenas um exemplo; há um saco cheio delas) – Fernando Tordo
  • “Dulcineia” – Manuel Freire

Confesso que me parece como (mau) exemplo chegará e, lendo a lista, chego a ficar com medo o tal mau gosto também se contagie. Acrescente o leitor alguns, se quiser...

quinta-feira, abril 23, 2009

Songs of the WW II (4)

Panzergrenadier Division - "Lili Marleen"

Cooperação estratégica, liberalismo, José Sócrates, Cavaco Silva e talvez outras coisas pelo caminho

“No meu entendimento”, como diria o inefável Fernando Seara, para a existência de cooperação estratégica entre duas entidades será necessário que ambas partilhem dos objectivos de longo prazo e, pelo menos, acordem sobre os aspectos essenciais da estratégia a seguir para os alcançar. Poderão, eventualmente, discordar aqui e ali sobre algumas das acções e planos destinados à sua implementação, mas, no essencial, essa estratégia terá obrigatoriamente na sua base um acordo de princípios e o objectivo deverá ser assumido em comum.

A pergunta que se deverá colocar à - parece que agora defunta - em tempos anunciada cooperação estratégica entre S. Bento e Belém, para que se compreenda se existe ou não conteúdo ou não estamos apenas perante uma repetição descontextualizada de um qualquer “sound byte”, deverá pois ser a seguinte: alguma vez existiu entre as duas entidades coincidência de pontos de vista e acordo sobre os objectivos a atingir? Alguma vez partilharam a mesma visão estratégica sobre o futuro do país? Sinceramente, penso que apenas de forma mitigada, concordando mais na necessidade de adopção de alguns “planos de acção” tácticos, mais ou menos indiscutíveis para quem se revê num país centrado na economia de mercado e na Europa (redução do “déficit”, crescimento por via das exportações, maior produtividade, etc), do que na partilha de uma visão futura para o país.

Mais do que cooperação estratégica, terá existido, isso sim, um acordo sobre algumas medidas governamentais relativamente consensuais num determinado contexto. Quando a crise financeira vem obrigar a uma revisão de valores e concepções de sociedade, quando isso volta a trazer para primeiro plano a ideologia e a política colocando na ordem do dia visões estratégicas conflituantes no campo da democracia liberal, o desacordo entre Cavaco Silva e José Sócrates veio então a tornar-se mais evidente.

Cavaco Silva é um homem conservador, com uma visão do país e do mundo moldada pelo tradicionalismo rural da sua infância, por valores pequeno-burgueses e pela Igreja Católica. Nunca se lhe conheceu um gesto fora deste quadro de valores, movendo-se com evidente dificuldade quando obrigado a decidir fora dele. Aliás, nunca o escondeu, e isso que marca o seu enfado e as suas dificuldades perante a política “pura e dura”, tendo da democracia, como se viu no seu comportamento quando da deslocação à Madeira e na tibieza com que enfrenta a questão Dias Loureiro, uma concepção puramente instrumental. Em certa medida, um burocrata sério e competente - muito mais do que um académico - com uma carreira feita no aconchego do Estado mas longe da luta política, onde apenas chega levado por essa sua carreira, quase como a contra-gosto e mais movido pelo poder do que pelo gosto da política. Quando está em causa uma visão estratégica para o país que se afaste desses valores, Cavaco Silva entra com ela em conflito, como se provou, também, na sua atitude face às decisões num sentido mais progressivo do governo sobre “questões de sociedade” (IVG, divórcio, etc).

Não sendo José Sócrates um liberal parece-me ter, contudo, por necessidade ou convicção pouco interessa e idiossincrasias e vicissitudes de caminho à parte, uma concepção de sociedade mais aberta, mais cosmopolita, mais moderna do que aquela que Aníbal Cavaco Silva nos transmite ser a sua. Que muitos dos liberais mais radicais – “os verdadeiros, os legítimos, os da Bayer” -, que em tempos se reivindicavam da linha justa dentro do estalinismo mais “puro”, com ele - Cavaco Silva - tendam agora preferencialmente a identificar-se só me poderá fazer esboçar um ténue sorriso trocista.

Pepe

O internacional português Pepe, jogador do Real Madrid, resolveu “passar-se” e agredir selvaticamente um companheiro de profissão, jogador do Getafe, quando este se encontrava no chão e o jogo parado. Não contente com isso, ainda dirigiu injúrias ao árbitro e tornou a entrar, indevidamente, em campo para comemorar o golo da vitória da sua equipa. Por estes seus actos, será punido pela LNFP com um mínimo de seis jogos de suspensão (repito: um mínimo), o que o impedirá de jogar pela sua equipa até final da presente época. Isto, claro está, independentemente da punição que o seu clube estipular, já que sendo um dos maiores clubes do mundo e os seus jogos vistos por milhões a sua imagem não deixará de ser afectada pelo episódio. Tal como o valor de Pepe enquanto “activo” do clube.

Como já começo a ouvir por aí o choradinho e as carpideiras do costume - “não podemos crucificar o rapaz”, “foi um acto irreflectido”, “está arrependido (era melhor que não estivesse!), etc -, e parecendo-me que neste país só existem dois tipos de culpados - os políticos e os “ricos e poderosos”, para o “povo da SIC”, e os pretos, ciganos e brasileiros, para as polícias – seria medida profilática e exemplar, para evitar a repetição de episódios tristes que todos conhecemos, que a FPF “dispensasse” Pepe de representar a selecção nacional no próximo jogo com a Albânia, em Junho, solidarizando-se assim com a LNFP espanhola. Depois das férias, de cabeça fria e cumprida a pena, Pepe, que até parece ser um cidadão exemplar, teria então oportunidade de voltar a defender as cores da sua selecção com a qualidade, profissionalismo e brio que todos sempre lhe reconhecemos.

quarta-feira, abril 22, 2009

Grindhouse Effect (2)


5 breves notas 5 sobre a entrevista do primeiro-ministro

  1. Tenho ouvido aí pelas rádios (ou telefonias...) que o primeiro-ministro não anunciou, durante a sua entrevista, novas medidas de combate à crise, com excepção do aumento do valor do subsídio social de desemprego. Estranho tal crítica, e por várias razões. Em primeiro lugar porque o primeiro-ministro e o governo têm sido sistematicamente acusados, por vezes com alguma razão, de lançarem medidas avulsas, de forma pouco estruturada. Em segundo lugar porque me parece que o lugar adequado para serem anunciadas, e discutidas, novas medidas governativas é por excelência a Assembleia da República, onde podem ser confrontadas pelas oposições (assim exige a democracia). Em terceiro lugar porque uma entrevista deste tipo, para ser comunicacionalmente correcta e o seu conteúdo ser devidamente apreendido pelos destinatários (os cidadãos), não deve conter mais de duas ou três ideias-chave (por exemplo, alguém fixou ou se lembra de algumas das vinte medidas em tempo propostas por Ferreira Leite?), em vez de se dedicar a elencar um qualquer conjunto de medidas. Por último, mas não menos importante, do ponto de vista jornalístico exige-se que se centrem em elementos de actualidade e estes eram, em primeiro lugar e nas circunstâncias actuais, o relacionamento com o Presidente da República e o “caso Freeport”.
  2. Pergunta: os comentários dos partidos da oposição à entrevista do primeiro-ministro foram produzidos antes ou depois da entrevista ter sido transmitida. Fiquei com dúvidas...
  3. Uma chapelada para Paulo Portas: O CDS foi o único partido a perceber que a uma comunicação do primeiro-ministro deveriam ser os líderes partidários, e não segundas ou terceiras figuras dos partidos, a responder. A influência da política anglo-saxónica foi aqui bem evidente. Saúda-se. Por alguma razão consegue subir nas sondagens.
  4. Não me parece haja algo a apontar tanto à agressividade dos jornalistas como à do primeiro-ministro na forma como a eles se dirigiu e respondeu. A agressividade, desde que contida nos limites da boa educação e da deontologia profissional, do comportamento institucional, não contém em si nada de negativo, muito antes pelo contrário. É bom que os portugueses, que gostam demasiado do “atento, venerador e obrigado”, se habituem.
  5. Por último, que me desculpem, mas mau “timing” para a entrevista: privou-me de ver aquilo que deve ter sido a extraordinária 2ª parte do Liverpool-Arsenal. Oh! senhor primeiro-ministro, mas então isso é coisa que se faça?

terça-feira, abril 21, 2009

Primeiro-Ministro - pequena nota sobre a sua entrevista à RTP

O mais importante da entrevista de José Sócrates? Definiu com clareza o âmbito onde quer colocar as relações entre o Presidente da República e o Governo, retomando, deste modo, a iniciativa política neste campo. Nunca se referiu a “cooperação estratégica” mas sim a “cooperação institucional”. Inteligentemente e sem qualquer vestígio de afrontamento, marcou a diferença e separou as águas, marcando o seu território e a autonomia do projecto do governo que dirige. Aproveitou também para vincar a sua convicção de que Cavaco Silva saberá resistir a tornar-se porta-voz da oposição, colocando o Presidente da República numa posição em que terá que procurar, com cuidado, o tom certo em futuras declarações e tomadas de posição públicas. Já no 25 de Abril.

Se não alterou as minhas convicções de fundo em relação a alguns dos projectos que não merecem a minha total concordância (novo aeroporto enquanto mega-estrutura aeroportuária - “hub” - e TGV Lisboa-Porto-Vigo), também não era isso que se esperava. Terá sido suficiente para ganhar alguns votos?

Songs of the WW II (3)

The Two Leslies - "We`re Gonna Hang Out Our Washing On The Siegfried Line"

Les Belles Anglaises (XXVI)








Bentley 4 1/2 Litre (1926-1930)

segunda-feira, abril 20, 2009

"Prós & Contras"

São 23.25h, hora a que a maioria dos portugueses deveria estar a dormir, e tento desesperadamente resistir ao “Prós & Contras”, não tendo ainda percebido se as caixas de comentários dos jornais on-line ou as intervenções populares do Fórum TSF ou da “Bancada Central” invadiram o debate ou se esses mesmos comentários e intervenções populares tentam mais ou menos reproduzir o “mood & tone” dos debates políticos e futebolísticos, que parece quererem confundir-se. Papel da Europa no Mundo? Europeísmo ou Atlantismo? Tratado Constitucional? Exército europeu? Modelo social? Medidas económicas globais? Europa das pátrias ou Europa federal? Turquia? O problema da Islândia? O papel do BCE? Não, chicana política, lugares comuns sobre a política nacional e alguma discussão sobre os fundos comunitários, como qualquer corporação de bombeiros discute o acesso aos fundos públicos a que se julga com direito e pensa o Estado lhe poderá vir a disponibilizar.

Tudo demasiado mau (só?) para ser verdadeiro e um péssimo sinal sobre o resto do ano eleitoral que se avizinha. Um excelente contributo para o crescimento da iliteracia política dos portugueses e do tablóidismo mediático. Também da abstenção? Mas não, devo ser eu que estou errado.

São 23.45h. e a berraria continua, só agora interrompida pela bem vinda publicidade. Não resisto, e deito-me bem mais triste do que acordei esta manhã. Espero bem o resto do país tenha tido o bom senso de se deitar mais cedo.

História(s) da Música Popular (126)

Pino Donaggio - "Io che non vivo" (senza te)

Dusty Springfield - "You Don't Have To Say You Love Me"
"Under the Influence" - The original songs of the "British Invasion" (XIX)
Houve um tempo em que a música italiana, tal como os filmes da Cinecittà (do neo-realismo à comédia de costumes passando pelos “peplum”) quase dominavam o mundo, ou pelo menos a Europa. Estávamos no final dos anos 50 e início dos 60 e o Fiat “Cinquecento” e depois o “Seicento” eram o sonho de uma pequena burguesia e aristocracia operária em processo de afirmação social numa Itália que recuperava da guerra alicerçada do “Compromisso Histórico” entre comunistas e democrata-cristãos, entre D. Camilo e o “sindaco” Peppone. Era a época de oiro do Festival de San Remo, de Modugno, de Cinquetti, de Celentano, de Gino Paoli, Milva, Bobby Solo e tutti quanti e isso conduziu à participação de muitos intérpretes estrangeiros renomados que, em alternativa aos italianos, interpretavam uma das versões das canções concorrentes. Petula Clark, Gene Pitney, Mary Hopkin, Dionne Warwick, Bobbie Gentry e Connie Francis, esta uma ítalo-americana, foram alguns desses nomes mais conhecidos.

Um dos nomes da cena musical italiana que nunca ganhou o festival mas por lá passou várias vezes foi Pino Donaggio, mas também Dusty Springfield que interpretou em 1965 “Di fronte all’amore”, sem que tenha passado das meias-finais. A melhor classificação de uma canção de Donaggio foi o 3º lugar em 1963 (“Giovane, giovane”), mas como a vingança se serve fria o original de Donaggio e Vito Pallavicini “Io che non vivo (senza te)”, apresentado no festival de 1965, torna-se um mega-êxito na voz de Dusty e na sua versão inglesa “You Don’t Have To Say You Love Me”, provando que até mesmo a “British Invasion” não fícou indiferente ao “charme” da Riviera italiana.

Claro que prefiro a versão de Dusty, e aproveito para informar que existe uma outra de... Elvis Presley! Mas alguém terá disposição para o ouvir a cantar tal coisa? Eu não! Portanto, se a arranjar (a disposição), faça o grande favor de se aviar por outros lados.

Já 10 anos...


"Elephant", de Gus Van Sant (2003)

Não se deixe iludir pelo mediatismo do cabotino Michael Moore. Este é o filme que deve absolutamente ver, um dos melhores da última década sob qualquer ponto de vista. O massacre de Columbine foi há dez anos. Já.

As capas de Cândido Costa Pinto (56)

Capa de CCP para "O Crime do Dragão", de S. S. Van Dine, nº 97 da "Colecção Vampiro"

domingo, abril 19, 2009

Falta de seriedade...

Verdadeiramente incompreensível que a Liga Portuguesa de Futebol Profissional permita empréstimos de jogadores entre equipas que competem no mesmo campeonato. Se jogam contra a equipa que lhes paga o ordenado e com a qual têm contrato, é um contra-senso, e a sua eventual prestação negativa prestar-se-á a especulações. Se não jogam colocam a equipa adversária em vantagem face a outros competidores.

Também incompreensível que se permitam contactos antes do final da época, visando a futura contratação, com jogadores de equipas adversárias. Como se sabe, em Inglaterra isso não só não é permitido como severamente penalizado. O caso de Orlando Sá, que sendo jogador do S. C. de Braga até final da época vai ser operado sob responsabilidade da equipa médica do FCP, é sintomático.

Ambos os casos revelam a total falta de seriedade que preside ao futebol em Portugal.

J. G. Ballard (15 de Novembro de 1930 - 19 de Abril de 2009)

"Crash" de David Cronenberg (1996)
Seguramente, o meu Cronenberg preferido deve-se a Ballard. Um filme sobre os limites do prazer, ou a ausência desses mesmos limites. Subversivo.

Ónus da prova, direitos, liberdades e garantias e alguma corência (sff)

Sou dos que discordam de qualquer excepção no que refere a inversão do ónus da prova, por muito que se apresentem as boas intenções normalmente destinadas a um inferno delas bem preenchido. A presunção de inocência faz parte dos alicerces do Estado de Direito, e este é dela inseparável, e é, normalmente, com o pretexto das boas intenções que começa a sua subversão. “Primeiro vieram buscar os comunistas e eu não me importei”... Por isso, prefiro, defendo e luto para que nunca os “venham buscar”. Comunistas ou outros quaisquer...

Se um cidadão enriquece de forma que o Estado considera ilícita, convém, pois, ao próprio Estado prová-lo, como convém a esse mesmo Estado, através dos tribunais competentes, provar todo e qualquer ilícito criminal. Sem excepção, por muito que a corrupção grasse e me incomode – e grassa e incomoda-me. No caso de agitação social, desde que nos limites, também ela, da legalidade, espero bem que ninguém se lembre de proibir o direito á greve ou de manifestação. “Mal comparado”... seria algo de semelhante.

Como me incomoda que qualquer orgão do Estado, salvo em condições muito especiais e apenas com mandato judicial, venha vasculhar na minha vida privada, seja na correspondência, por onde ando, o que faço (desde que legal) ou onde gasto ou poupo o meu dinheiro ganho honestamente. Não me macem!

Mas, tendo dito isto e assim estando demarcado o meu território, que é o da democracia e do Estado de Direito, interrogo-me, no entanto, onde estavam e estão os agora tão acérrimos defensores dos direitos, liberdades e garantias quando propõem o agravamento da prisão preventiva (que, no fundo, é a prisão de presumíveis inocentes) e se escandalizam quando ela não é aplicada a qualquer pilha-galinhas, aplaudem ou ignoram as acções policiais como as assumidas quando do assalto ao BES de Campolide ou a morte às mãos das forças de segurança de inocentes (principalmente, pretos, brasileiros e ciganos), questão recorrentemente repetida nos relatórios de organizações internacionais, salivam com inúteis mega-operações de segurança no limite da legalidade democrática ou propõem, por dá cá aquela palha, a implementação de sistemas de vídeo vigilância em locais públicos das vilas e cidades.

Sim, eu sei que um grãozinho de incoerência não é nada de muito grave, e demasiada coerência junta torna os seus defensores nuns “chatos”, desinteressantes e que parecem carregar consigo o peso do mundo. Mas, que raio, não estamos a falar de quem diz gostar de morenas e casa com uma qualquer loira platinada (ou vice-versa), fraqueza (?) que facilmente se perdoa. Estamos, isso sim, a tratar de conceitos base da vida em sociedade, de assuntos tão importantes como os nossos valores essenciais. Ou será que, para alguns, no fundo, lá muito no fundo, não o são tanto assim?

sexta-feira, abril 17, 2009

O governo vai apoiar a promoção do vinho português nos mercados internacionais. Seria interessante saber mais alguma coisa...

O governo vai disponibilizar 50 milhões de euros para apoiar a promoção do vinho português nos mercados internacionais. Seria interessante que disponibilizasse também a quem vai ser entregue e de que modo vai ser empregue essa verba, para que efectivamente fosse possível avaliar antecipadamente da provável eficácia desse investimento. Mormente, se ela vai ser entregue e gerida por alguns produtores que têm efectuado um enorme esforço na promoção das suas marcas e para a melhoria da competitividade do vinho português nos mercados internacionais ou a quem, como a ViniPortugal , pauta normalmente as suas acções pelo quase total amadorismo e falta de rigor.

"Noir" (5)

"Nightmare Alley", de Edmund Goulding (1947)

Visconti e Mahler

"Morte em Veneza", de Luchino Visconti, e o "Adagietto" da 5ª Sinfonia de Gustav Mahler

quinta-feira, abril 16, 2009

"Alice In Wonderland" by Sir John Tenniel (5)

Giant Alice watching Rabbit run away

LFV, Rui Costa, Quique Flores e o projecto do S. L. Benfica - 3. Quanto tempo para construir uma equipa? Pode este "modelo de jogo" ser ganhador?

Comecemos esta última parte da análise com uma pergunta: quanto tempo demora a construir uma equipa? A interrogação tem razão de ser, já que a tenho encontrado, como crítica a Quique Flores e à demora em o SLB estabilizar o seu modelo de jogo, em diversos artigos, sites, blogs e comentários - de uma ou outra forma, implícita ou explicitamente. Digamos que a resposta é complexa e não existe um tempo nem uma receita determinada. Tudo depende de múltiplos factores, que passam pelo estado da organização/clube, pela sua “cultura”, a sua inércia ganhadora e capacidade de investimento, a pressão dos seus stockholders (accionistas da SAD) e stakeholders (sócios, adeptos), a situação do mercado e dos diversos players (quem domina instâncias como a LPFP, FPF e quem são e como se têm comportado os outros clubes – alguém domina ou esse domínio está repartido?), a cena mediática, o modelo e princípios de jogo dominantes no “mercado” e no clube, pela heritage e tradição, etc, etc.

Tendo em atenção o que acabei de dizer, e pensando agora no caso específico do SLB e do mercado em que actua (o futebol português), penso que dificilmente menos de três a cinco anos, se estivermos a falar de um projecto sustentado e não em algo de casuístico ao estilo do título de 2005, apenas possível em função de circunstâncias dificilmente repetíveis. Em que me baseio? Simples: um dominador incontestável com uma organização sólida e estável (FCP) e que domina ideologicamente o mercado, com uma capacidade de investimento pelo menos não inferior à do SLB e, fruto do domínio dos últimos anos, sofrendo de uma muito menor pressão por parte de accionistas e adeptos, ainda com considerável influência nas estruturas dirigentes, com princípios e um modelo de jogo estabilizado e uma ideologia de suporte (bandeira de uma região com um modo de vida e uma cultura próprias) consistente embora em ligeiro declínio, etc, etc, etc (nesta óptica, acrescente o que achar por bem). Some-se a isto um rival (SCP) que, embora com menor potencial, tem sabido, com inteligência, encontrar a estabilidade e coerência de gestão necessárias, a par de uma estratégia clara de investimento centrada na formação, para lhe proporcionarem nesta década resultados que o SLB já não poderá alcançar. Sabendo que dificilmente poderá liderar, escolheu os seus objectivos com critério e uma estratégia e planos de acção compatíveis com esse desiderato, beneficiando da péssima gestão do SLB.

Mas poderão dizer – e já vi escrito – que Mourinho não precisou de tal tempo para tornar o FC e o Chelsea ganhadores. Ilusão... O projecto do FCP tem trinta anos, e Mourinho apenas lhe levou o “plus” necessário da sua competência e liderança para ganhar a nível europeu. O projecto do Chelsea começou com Abramovich e Ranieri e já tinha valido uma meia-final da Champions League em 2004. Mourinho, tal como aconteceu no FCP, levou o que ainda lhe faltava. Querem outros exemplos, agora com o SLB? Gutmann não teria existido sem o projecto que começou com Otto Glória, de profissionalização do clube, e Eriksson chegou e teve êxito no clube, com todo o seu mérito, quando este ainda mantinha um lastro ganhador e um mínimo de gestão coerente - teve aqui um papel um tanto ou quanto semelhante ao de Mourinho no FCP.

Vejamos ainda outra questão. Nem todos os modelos de jogo requerem o mesmo tempo de adaptação para serem entendidos e assimilados, automatizados por uma equipa, principalmente se vão contra rotinas de muitos anos ou se confrontam com a ausência completa delas. É muito mais fácil e rápido, desde que se disponha de jogadores de habilidade e qualidade técnica de passe e “drible” acima da média, como são os que normalmente actuam no campeonato português, implementar um modelo de posse e circulação de bola, de contenção ou contra-ataque apoiado, de passe de pé para pé e com jogadores e sectores muito próximos uns dos outros, de menor risco de perda de bola e, logo, também de menor risco de emergência de desequilíbrios defensivos, do que um modelo de futebol mais amplo, com jogadores e sectores mais distantes, mais exigente nos seus equilíbrios e compensações, mais físico. Mas, em compensação, no primeiro caso ou temos jogadores de excepção, como é tradicional na selecção brasileira ou no Barça actual, ou é muito mais difícil criar rupturas que permitam marcar golos e ganhar. É, normalmente e com as excepções indicadas, um futebol pouco ganhador, principalmente quando se joga a altíssimo nível, e vejam-se as dificuldades do SCP do “losango” quando compete internacionalmente, do CSKA de Moscovo ao Real Madrid, Barça e Bayern deste ano. Podemos contestar se o modelo que Quique quer implementar no SLB o poderá levar ao sucesso; mas, indiscutivelmente, será – e é, de certeza – de mais difícil e morosa implementação.

Agora a questão principal. Pode, num campeonato em que a maioria das equipas que defronta o SLB joga num “bloco baixo”, num futebol de contenção e contra-ataque apoiado e que privilegia o povoamento do meio-campo, com pseudo avançados muito móveis, o modelo que Quique Flores ter e trazer, a prazo, sucesso ao SLB? Aqui as minhas dúvidas (só isso: dúvidas e não certezas positivas ou negativas), mas não estou nelas sozinho pois já tenho visto o tema por ai glosado e eu próprio, in illo tempore, a isso me referi. Mas essa era a questão-chave a debater quando Rui Costa e LFV optaram pela sua contratação e que terão agora que analisar com o treinador. Com uma pequena chamada de atenção: contrariamente ao que por aí (“A Bola”) já vi escrito, não valerá a pena manter o treinador e “obrigá-lo” a mudar o seu “modelo de jogo” e princípios de gestão; forçá-lo a agir contra as suas convicções, tornando-o num “peixe fora de água”, seria, então, emendar um erro com outro ainda maior. Pequenos ajustamentos são algo que a própria inteligência de Quique saberá ditar; modificações radicais, forçosamente “contra-natura”, acabarão por se chocar contra essa sua própria inteligência e conduzir ambos – Quique e o projecto - ao naufrágio. Veremos o que acontece.

O candidato europeu Paulo Castro Rangel e a retórica parlamentar

Tenho lido insistentemente que a nomeação de Paulo Rangel como cabeça de lista do PSD para as eleições europeias significa o colocar do foco nas questões de política interna, o terreno que mais convém ao PSD. Certo, e dificilmente se esperaria que acontecesse de outro modo, como seria de espantar que o PS não tentasse que a discussão se fizesse em torno das questões europeias. Federalista e europeísta convicto, que sou, preferiria esta última hipótese, mas reconheço inteira legitimidade a quem, com alguma razão, espera tirar dividendos actuando de outro modo. Penso, no entanto, todos perderemos assim uma oportunidade.

Algo, no entanto, quero acrescentar. Pelo que tenho lido e ouvido das suas intervenções pós-nomeação, o agora candidato europeu Paulo Rangel parece querer transpor para o debate a tradicional retórica e chicana política da Assembleia da República, o seu terreno de eleição. Seria de espantar o não fizesse, potenciando aquele que é reconhecidamente o seu ponto forte. Mas devo também dizer que já não estarei assim tão certo isso lhe traga dividendos eleitorais. Além de que perderemos duas vezes.

quarta-feira, abril 15, 2009

Tudo está bem quando acaba bem!

Deve o governo falar verdade ao país?

Ouvimos frequentemente, aos vários partidos, associações, comentadores, politólogos, “povo da SIC”, etc, etc, que o governo deve falar verdade ao país. Pergunta: pode, e deve, na actual conjuntura, o governo (este ou hipoteticamente um qualquer outro) falar verdade ao país, por muito louvável que isso pudesse ser e por muito que calasse fundo no coração dos portugueses? Vejamos.

A actual crise tem uma enorme componente emocional, de confiança, o que torna extremamente difícil calcular e, principalmente, quantificar reacções. Por alguma razão as emoções, contendo também a sua componente racional, baseiam-se fundamentalmente nos instintos, no irracional. Por outro lado, qualquer previsão e respectiva quantificação tornam-se mais rigorosas quando existe um registo passado fiável, de comportamentos em situações semelhantes, o que está muito longe de ser o caso actual. Parece pois, portanto, que a primeira dificuldade na situação actual consiste exactamente em saber o que é a verdade ou, como diria aquele dirigente futebolístico de má memória (Pimenta Machado), o facto de estarmos exactamente perante um caso típico de que “o que é verdade hoje será mentira amanhã” (ou inversamente, não me lembro).

Posto isto, e partindo do chamado “método de redução ao absurdo” de que é possível aproximarmo-nos (pelo menos isso) da verdade, deve ela ser dita assim, nua e crua? Sem o seu manto diáfano de fantasia?

Bom, como vimos a crise tem na sua componente muito de emocional, de uma crise de confiança. As famílias não consomem temendo o pior, as empresas não investem, produzem e compram menos porque as famílias e as outras empresas consomem menos, admitem assim menos empregados temendo o futuro, o crédito é escasso e o dinheiro não circula porque o sistema financeiro desconfia. Vêm os despedimentos, o lay-off e entra-se num círculo vicioso. Pode, neste quadro, qualquer governo ter um discurso “de verdade” alimentando esta espiral de pessimismo e contribuindo, assim, para o agravamento da crise? Quer-me bem parecer que não; que estará a prestar um mau serviço ao país e será bem melhor moderar optimisticamente, desde que no grau adequado, o seu discurso contribuindo desse modo para o aligeirar das pressões. Falar verdade pode ser socialmente bem visto (será mesmo?), poderá sensibilizar os mais tementes a Deus, as almas piedosas e contribuir para a salvação dos crentes. Mas nem sempre é remédio que aligeire os males ou cure a maleita. Por vezes acontece mesmo o contrário, e a hipotética mezinha tende mais a agravar o padecimento. Estou certo de que mal a situação dê um pequeno sinal de que começa a inverter-se, o governo (este ou qualquer que seja o seguinte) rapidamente tenderá a dizer aos portugueses algo de mais próximo com o que possa ser a verdade, contribuindo assim positivamente para o apressar do fim da crise. Aposto, mesmo, que as previsões mais optimistas tomarão então de si conta, esfuziantes. E ainda bem, porque também então alguma euforia contribuirá para apressar o fim da crise!

terça-feira, abril 14, 2009

Songs of the WW II (1)

Vera Lynn - "The White Cliffs Of Dover" (Walter Kent - Nat Burton, 1941)
"The White Cliffs Of Dover” eram, frequentemente, os primeiros sinais de alívio, de satisfação pelo regresso a Inglaterra, avistados pelas tripulações dos bombardeiros, ingleses e americanos, depois de mais uma missão sobre a Europa ocupada. Também muitos combates durante a “Battle Of Britain” foram travados no céu sobre eles. São um símbolo da inexpugnabilidade da Inglaterra, durante muito anos significando um bastião contra possíveis invasões. Tal como os Spitfire o foram.

LFV, Rui Costa, Quique Flores e o projecto do S. L. Benfica - 2. A filosofia de gestão de Quique e o seu "modelo de jogo"

Nota prévia: quem estiver à espera de ouvir falar sobre arbitragens, golos falhados, substituições bem ou mal feitas, "entrega ao jogo" e coisas semelhantes é favor não ler este "post".

Não assim há tanto tempo como isso, a direcção dos clubes de futebol contratava jogadores - que aliás se mantinham no clube anos a fio - e, posteriormente, sabe-se lá com que critérios mas penso que variáveis, contratava um treinador, normalmente um antigo jogador, que tinha por missão “dar” a preparação física e “armar” a equipa. Mais coisa menos coisa, em épocas em que o empirismo ainda dominava num desporto – o futebol – ao qual a ciência desportiva chegou tarde, em que o “cheiro do balneário” fazia as vezes de ideologia corporativa, era assim que as coisas se passavam. Nos principais clubes portugueses, como as grandes referências enquanto jogadores eram na maioria das vezes pouco mais do que analfabetos funcionais, contratava-se um treinador estrangeiro, com outra mundividência e que, assim, mais facilmente se poderia impor ao tal mitológico balneário. Era o “mister”.

Como sabemos, hoje não é assim. Ao contratar-se um treinador contrata-se também uma equipa técnica, uma concepção e uma filosofia de gestão que deve ligar com a “cultura” do clube (a tal mística), uma ideia, princípios e modelo de jogo que devem ser compatíveis com os objectivos que se querem atingir em determinada realidade competitiva (as competições a disputar), que constitui o mercado onde os diferentes clubes (players) vão competir. Quem se quiser dar ao trabalho de ler o livro “Mourinho, Porquê Tantas Vitórias?”, de Bruno Oliveira, Nuno Amieiro, Nuno Resende e Ricardo Barreto (Gradiva), que é, muito mais do que um livro sobre futebol e sobre José Mourinho, um excelente texto sobre gestão, entenderá bem melhor o que estou a dizer e o que está em causa.

Ora foi exactamente este “pacote” que o SLB contratou ao admitir Quique Flores como treinador e, logo, a primeira pergunta a fazer será: em que medida e até que ponto as duas filosofias de gestão – da equipa de Quique e do SLB – se casam? Em que medida as ideias de Quique cabem na “cultura” (mística) do SLB? Estas deveriam ter sido – e deverão ser hoje – duas questões essenciais que Rui Costa deverá colocar a si próprio, não sem que antes devesse ter colocado uma outra fundamental: em que medida as suas próprias concepções e as de ambos (Rui Costa e Quique) são compatíveis com as de LFV, partindo do princípio que estas últimas são dominantes? Não estando por dentro, não conhecendo os intervenientes a não ser pela sua intervenção pública, deixo a interrogação sem resposta. Mas, conhecendo o “way of doing the things” de muita gente onde encontro, infelizmente, bastantes semelhanças com o que me é dado a observar em LFV, permito-me ter fundamentadas dúvidas, o que remete de imediato para a determinação de qual o elo fraco de todo este complexo processo.

Vem de seguida a questão do “modelo de jogo” e da sua compatibilidade. O SLB joga num chamado “bloco baixo” (defesa e meio-campo recuados) com transições ofensivas rápidas efectuadas pelos extremos ou através de passes longos para as costas da defesa contrária. Um modelo que, contrariamente ao que é comum no futebol português onde tem predominado, a partir do fim da era do grande Benfica dos anos 60, o futebol de contenção (excepção o FCP de Mourinho e, agora, de Jesualdo - daí o seu sucesso), circulação e posse de bola, de contra-ataque “apoiado”, privilegia o passe longo, de risco e onde não se dá especial importância ao domínio do jogo mas sim ao respectivo controlo. Com excepção notória do Barça, é o modelo vigente em Espanha e no Liverpool de Rafa Benitez, e ainda no passado domingo vi o Real Madrid jogar desse modo procurando as transições rápidas através das correrias de Roben ou dos passes longos para Gonzalo Higuaín. No SLB este modelo expressa-se, e exprime-se, através de um 4X4X2 clássico e de ambos, modelo e sistema, resultam as seguintes consequências a nível de perfil de jogadores:

  • A não necessidade de um nº10 clássico, tão do agrado da crítica indígena. Mesmo jogando com alguém nessas funções, será sempre um “híbrido” como Carlos Martins, mais perto (nas características, que não na categoria) de um Deco ou de um Frank Lampard do que de um Rui Costa.
  • A importância de um “ponta de lança” rápido e móvel, mas também poderoso, que recolha as bolas enviadas para trás da defesa contrária e aguente o corpo a corpo em velocidade (David Suazo). Cardozo, neste modelo, é um corpo estranho.
  • Extremos que possam executar diagonais e, assim, aparecerem na área e rematarem, em vez de efectuarem o tradicional movimento “ir à linha e centrar” para um qualquer “poste” (já ninguém joga assim no primeiro mundo futebolístico e veja-se a dificuldade de um Peter Crouch em se impor). Simão já jogava desse modo no “losango” de Fernando Santos e assim continua a fazê-lo no Atlético, tal como Arjen Roben no Madrid e Kalou e Malouda no Chelsea. Por isso, muitas vezes jogam no “lado contrário”. Simão e Roben (novamente o mesmo exemplo) fazem-no; Di Maria tem imensa dificuldade em consegui-lo. Daqui se depreende também a lógica de utilização de Pablo Aimar no lado esquerdo.
  • O modelo de passe longo, de maior risco, e a existência de extremos que “forçam” o “um para um” tornam indispensável a preferência por laterais mais defensivos, frequentemente centrais de origem o que lhes permite complementar os centrais e tornar a equipa, sem “pontas de lança” do tipo “poste”, mais alta nas bolas paradas, ao contrário do que acontece nos modelos de posse e circulação de bola expressos no 4X4X2 em losango que requerem laterais mais ofensivos dada a inexistência de extremos clássicos. David Luiz é o exemplo no Benfica, mas Jamie Carragher joga muitas vezes a lateral no Liverpool e Sérgio Ramos no Madrid. Também a lesão de Bosingwa trouxe á evidência a utilidade de Ivanovic, um central de origem com 1,88m que foi autor de dois golos no jogo da Champions contra o Liverpool. Veja-se também como Quique, na ausência de um extremo direito (Balboa foi um flop), prefere utilizar do lado onde existe um lateral com maior vocação atacante (Maxi) alguém como Ruben Amorim.
  • Voltando especificamente ao SLB, Luisão e Sidnei são centrais lentos, que não podem marcar muito á frente e têm dificuldade perante quem lhes aparece embalado. Daí Quique, no seu modelo, recorrer a jogadores de meio-campo mais “pressionantes”, como Yebda. Essa lentidão explica também a opção frequente por Miguel Vítor, mais rápido e, assim, também mais capaz de cobrir as laterais e marcar mais á frente. Perde na "força aérea" o que ganha em rapidez.

Este é o “modelo” e o perfil de jogadores que o servem. Como se pode verificar existe uma lógica, uma coerêcia entre o modelo e os jogadores (melhores ou piores) existentes. Será essa lógica, essa ideia e modelo de jogo compatível com os objectivos a que o SLB se propõe nas provas que disputa, no “mercado” em que quer ser competitivo?

Tenho algumas dúvidas (o que significa apenas isso – dúvidas – e não a sua negação), mas veremos o porquê delas no próximo “post”.

Próximo "post" sobre este tema: o modelo de jogo do SLB e a sua compatibilidade com os objectivos e as provas que disputa.

segunda-feira, abril 13, 2009

História(s) da Música Popular (125)

The Drifters - "Sweets For My Sweet"
"Under The Infuence" - The original songs of the "British Invasion" (VIII)
Um passo atrás, conforme prometido. Em 1963, este tema de Doc Pomus e Mort Shuman, nomes já por aqui bem glosados, tornou-se no primeiro "single" dos Searchers, também por aqui já suficientemente mencionados. Originalmente uma gravação dos norte-americanos Drifters - os tais que fizeram os seus homónimos britânicos tornarem-se Shadows - de 1961, para a Atlantic Records de Ahmet Ertegün, a versão do grupo do Merseyside chegou a #1 no UK e aí se manteve durante duas semanas, tendo-se tornado no seu maior sucesso.

O grupo alcançou ainda mais dois #1, na sua história: o original de Sony Bono e Jack Nietzsche (e de Jackie DeShannon) “Needles And Pins” e “Don’t Throw Your Love Away”, o único #1 original do grupo.

Lima de Freitas e Vergílio Ferreira (3)

Desenho de Lima de Freitas para "A Face Sangrenta", de Vergílio Ferreira. Edição especial
"Contraponto" (1953) de 500 exemplares numerados e rubricados pelo autor e 5 desenhos "hors text" em papel L1. Esta gravura foi digitalizada do exemplar nº 376.

LFV, Rui Costa, Quique Flores e o projecto do S. L. Benfica - 1. O processo de selecção do treinador e o perfil de Quique Flores

No futebol, quando alguma coisa corre mal com a equipa é tradição pôr-se em causa o treinador. Ora esse mesmo treinador é escolhido por alguém – normalmente a direcção do clube ou o seu director desportivo, espera-se - em função de um determinado perfil que encaixe na cultura do clube e no projecto que se pretende implementar. Também, e isso é frequentemente esquecido, do meio e “caldo de cultura” envolventes. Por exemplo, José Maria Pedroto teria sido o mesmo sem o “boom” económico da península de Setúbal no final dos anos 60 e início de 70 ou sem a “inclinação” do país a norte no período imediatamente posterior ao fim do PREC? Jaime Pacheco alguma vez teria sido campeão com o Boavista sem o maciço investimento da família Loureiro e sem que o clube dominasse sectores chave do futebol, da arbitragem ao ministro do desporto, passando pela presidência da LPFP? Acresce que, dentro de certos limites e falando de treinadores comprovadamente preparados, não existem bons e maus treinadores em si mesmos, mas treinadores que, em função do seu perfil e ideias que perfilham, encaixam melhor ou pior em determinado clube numa conjuntura dada. Ou são adequados a dirigirem uma determinada selecção, por exemplo, mas não para treinarem um clube de alto nível (Scolari, é um exemplo). Não vale a pena citar mais casos (eles são centenas) de treinadores conceituados que coleccionaram, ao longo da carreira, igual número de sucessos e fracassos consoante as circunstâncias.

Bom, tendo dito isto, encaixa Quique Flores, os seus "curriculum vitae" e perfil, no que deve ser, no actual momento, o treinador que sirva o que julgo ser, ou deveria ser, o projecto do SLB? Obedeceu a sua escolha a um método criterioso? Vejamos...

Digamos que no que diz respeito ao processo de selecção (e aqui estamos ainda a falar apenas de Luís Filipe Vieira e Rui Costa), algo me deixa um pouco preocupado sobre a consistência da escolha e, subsequentemente, do projecto que lhe deveria estar na base. Tanto quanto se sabe, a primeira opção terá sido Eriksson, neste momento e circunstâncias uma clara cedência e apelo a um sebastianismo messiânico. Felizmente que tal se não consumou. A segunda hipótese terá sido Queiroz, alguém indiscutivelmente preparado, que conhece bem e por dentro o grande futebol, mas que nunca conseguiu nenhum resultado relevante fora dos escalões de formação para os quais parece vocacionado, pese a sua já longa carreira. Assim sendo, o que me deixa preocupado não é Quique ter sido terceira escolha, mas sim o facto de nem Queiroz parecer ter nada que ver com Eriksson, nem ambos com Quique Flores. Ou seja, o que me deixa preocupado é a inconsistência de perfis e o modo como encaixam ou não num projecto que, em função dessa mesma inconsistência, parece não existir.

E Quique? Bom, não conheço pessoalmente Quique Flores e nunca assisti a um treino no Seixal. Descontando esta importante ressalva, Quique tem fama de conhecedor e rigoroso, estudioso e actualizado. É jovem, tem ainda uma carreira curta e nunca ganhou nada de importante, tendo, portanto, um caminho a percorrer se quiser chegar ao topo. Digamos que “tem de fazer pela vida” e parece ser ambicioso. Para além disso, já treinou o Valência, uma equipa da 1ª divisão europeia, com algum sucesso e num campeonato de topo. Conhece, portanto, o “grande futebol”, tem “mundo” e conhecimento do mercado mundial, o que era manifestamente uma weakness de Fernando Santos. É culto e parece inteligente, fazendo um bom “match”, em termos de perfil, com Rui Costa e com os jogadores de que dispõe, muitos deles (Aimar, Reyes, Suazo) vindos desse mesmo “grande futebol”. Alguém os imagina a serem treinados por Cajuda ou Jorge Jesus? Para além disso, tem um discurso cosmopolita, que contrasta com a linguagem da maioria dos treinadores “indígenas”, fazendo, nesse aspecto, lembrar Eriksson. Tudo parece, portanto, encaixar sem grandes problemas de princípios num clube que deveria afirmar um projecto "de contraste" com o FCP. Ah, e o modelo de jogo que perfilha, algo importante quando se selecciona o treinador? Essa é, talvez, a minha maior dúvida. Mas deixemos o assunto para o próximo “post”.

Próximo “post” sobre este tema: os princípios e modelo de jogo de Quique Flores.

domingo, abril 12, 2009

Não!

Para que não restem dúvidas: não quero sequer sonhar ver este senhor presidente do meu clube. Já basta de populismos e de pseudo-salvadores da pátria benfiquista!

A propósito de Fernanda Câncio

A jornalista Fernanda Câncio apresenta uma vantagem sobre muitos dos seus pares: o seu relacionamento com o primeiro-ministro José Sócrates é público e conhecido. Se nunca o confirmou, também nunca o desmentiu nem teria que o fazer. Por isso, não estando em causa a sua qualidade profissional, reconhecida, ao lermos o que escreve todos podemos considerar que pode, ou não, estar a ser influenciada por esse seu relacionamento e equacionar o modo como ele poderá, eventualmente, estar na base dos interesses e objectivos que defende. Mesmo no seu trabalho puramente jornalístico. Está pois, abertamente, sujeita a escrutínio público.

Num campo de relacionamento absolutamente diferente, mas inserindo-se na mesma lógica, está Marcelo Rebelo de Sousa: é conhecido e reconhecido como militante do PSD e já foi seu presidente. Ao escutarmos (quem se der ao trabalho) os seus comentários, sabemos que poderá ter uma agenda política própria e de que modo as suas lealdades políticas e partidárias poderão, ou não, influenciar o que afirma. Também aqui, no seu caso, tudo é claro.

Pelo contrário, relacionamentos e interesses vários de muitos jornalistas e comentadores não são conhecidos por quem os lê, mantendo-se o desconhecimento ou a dúvida sobre os reais interesses e objectivos que os movem e efectivamente prosseguem. Sobre o que, na realidade, determina as suas convicções de momento. Convém, para maior eficácia da sua acção, que esse secretismo assim se mantenha, que as suas ligações assim se estabeleçam. Alguns, mesmo, trabalham simultaneamente em orgãos de informação e, na sombra, mantêm ligações com agências de comunicação e outros, como Sandra Felgueiras, saltitam alegremente entre a assessoria (neste caso de sua mãe) e a televisão pública. Curiosamente, não me lembro de ver alguém pôr isso em causa.

Hymns (5)

"Abide With Me"

Apesar de se tratar de um hino religioso, "Abide With Me" é tradicionalmente cantado nas finais da FA Cup. Aqui, precedendo a final de 2006 entre o West Ham United e o Liverpool F.C., é interpretado por Becky Jane Taylor, Lesley Garrett e a assistência no Millenium Stadium, Cardiff

sábado, abril 11, 2009

As opções de Luís Filipe Vieira e Rui Costa

Luís Filipe Vieira e Rui Costa têm duas opções no final da época, perante um terceiro lugar que se avizinha. E ambas para demonstrarem uma vontade de ruptura com um passado que, a repetir-se, dificilmente e só por uma conjugação de factores extraordinários não conduzirá aos mesmos resultados catastróficos.

A primeira é manterem Quique Flores demonstrando que a sua escolha não foi aposta cega mas pensada em face da adequação do seu perfil ao clube e a um projecto de médio prazo que possa levar o SLB a reconquistar a hegemonia no futebol português. Demonstrarão assim que o clube não é dirigido casuisticamente, que a sua política de recursos humanos tem alguma consistência e não voga ao sabor dos ventos da “rua benfiquista” e de uma imprensa por interesses, opções ou seguidismo, maioritariamente “companheira de estrada” do FCP. Conquistarão o respeito de ambos, actualmente perdido.

A segunda é assumirem o falhanço do seu projecto, principalmente LFV na verificação dos fracos resultados da sua política desportiva num mandato já longo, e apresentarem a sua demissão abrindo o caminho para eleições antecipadas e uma nova equipa de gestão com diferentes métodos e imagem.

Fico a aguardar...

Hymns (4)

"Praise My Soul The King Of Heaven"

O "Gato Maltês"

O "Gato Maltês" agradece ao "Público" a transcrição de um excerto deste seu post.

sexta-feira, abril 10, 2009

Parabéns, Joaquim Furtado!

Na sua sobriedade, independência, no seu low profile, no seu rigor histórico, no seu despojamento e no modo como não cede a modas em questões formais, a segunda série de episódios de “A Guerra” (Colonial, de Libertação, do Ultramar), de Joaquim Furtado e da RTP, quase parece deslocada numa cena mediática onde a crítica se transformou em má-língua, a análise em sound byte, o fait divers em notícia de fundo e a parcialidade e o empenhamento politicos tomaram o lugar do jornalismo sério e isento. Um exemplo de profissionalismo, em suma.

Mas sobre ela parece ter caído o pesado silêncio destinado a fazer esquecer rapidamente o que incomoda mas não existe capacidade para enfrentar e, um dia destes, talvez cheguem os epítetos do costume; talvez digam que é demasiado intelectual, que parte de uma posição arrogante, que é demasiado elitista. Demasiado tudo, direi eu, mas para um Portugal “poucochinho”, invejoso, provinciano, inculto e mesquinho.

Parabéns, Joaquim Furtado!

Hymns (3)

"The Lord Is My Shepherd"

Ainda os "dress codes": o bom exemplo da Loja do Cidadão

Na maioria das grandes organizações – quando não exista a obrigatoriedade de uso de farda - existem “dress codes”, escritos ou não, explícitos ou tácitos, que tentam normalizar a imagem da organização internamente e para o exterior e dependem da sua “cultura” e tradições, da área de negócio ou actuação, do local onde se encontram as suas instalações (neste ponto, esse “dress code” pode mesmo variar dentro de uma mesma organização), do tipo de funções (por exemplo, ter ou não contacto com o público e/ou clientes), do acontecimento (pode não ser o mesmo para o trabalho interno e para quando exista necessidade de reuniões com o exterior), até do clima e dos dias da semana... Mais ainda, existe frequentemente, para além desse “dress code”, um código de conduta que, como o próprio nome indica, define os comportamentos que os colaboradores, sejam eles o director-geral ou o porteiro, devem assumir nas diversas situações, desde o modo de atender do telefone ao modo de se apresentarem em público.

Inclusivamente, naquelas organizações cujas instalações são múltiplas e se distribuem geograficamente por um ou vários países e onde existe o hábito de se efectuarem reuniões periódicas com todos esses colaboradores, é habitual, com o programa de viagem, de trabalho e social, indicar-se o “dress code” aconselhado para cada ocasião, desde o “smoking”, “fato escuro” e “fato e gravata”, até ao informal e informal elegante (“smart casual”), passando pelo intermédio “casaco e gravata”. Tudo isto tem por função conferir uma certa “unidade” ao grupo, evitar que quem não conheça tão bem as regras de etiqueta ou venha de uma região onde elas sejam diferentes se sinta deslocado, contribuir para que se gerem menos equívocos e embaraços. Também, claro, algumas indicações sobre os hábitos mais comuns do país onde se efectua a reunião, com o objectivo de se evitarem mal entendidos ou atitudes consideradas ofensivas para a cultura e hábitos locais.

No caso de funcionários que tenham contacto com o público, o “dress code”, normalmente sóbrio e tanto quanto possível elegante ou normalizado com recurso a farda, acentua uma imagem de seriedade e evita que se possam ferir susceptibilidades naqueles com quem se contacta: brancos, pretos e mestiços; portugueses ou estrangeiros; católicos, hindus ou muçulmanos; ricos ou pobres; bem ou mal nascidos; cultos ou analfabetos; da cidade ou da província. Um pouco como a tão mal afamada comida dos aviões, normalmente pouco condimentada e sensaborona para que, independentemente de existirem opções vegetarianas ou kosher, seja “tragável” pela grande maioria, evitando reclamações e problemas.

Que algo deste tipo, que se pretende implementar numa loja destinada a servir os cidadãos, visitantes e imigrantes que acolhemos e que sempre tem sido apontada – e bem – como um caso de sucesso, possa ser considerado como notícia relevante para os “media”, objecto de comentários chocarreiros para certos comentadores, apenas revela o provincianismo e atraso civilizacional ainda característicos da sociedade portuguesa e o estado deprimente, direi mesmo alarve, a que terá chegado a cena mediática.

Poupem-nos!

"Dress codes", uma vez mais

A propósito desta notícia, algo que aqui escrevi a 12 de Maio de 2008:
"Os dress codes estão, hoje em dia, bastante aligeirados, mas independentemente de questões práticas (não dá jeito nenhum ir para a praia de fato e gravata ou jogar ténis de sobretudo), eles têm permitido, ao longo dos anos, marcar a importância e solenidade dos acontecimentos.
Vestimo-nos de modo mais formal para um casamento ou um enterro, por exemplo, porque são considerados, cada um de seu modo, acontecimentos únicos e solenes, e o próprio traje utilizado contribui para essa solenidade, conferindo-lhe, inclusivamente, um mood and tone adequado. Vestimos fato e gravata para trabalhar em certas profissões, porque estamos num terreno de relações formais, mas se essa profissão se exercer numa área onde o relacionamento é mais informal (nas áreas “criativas”, por exemplo) o nosso dress code acompanha essa maior informalidade, dispensando o fato completo e gravata. Do mesmo modo, o dress code é mais conservador e formal na banca e na advocacia, porque estamos em terrenos tradicionalmente considerados mais “sérios”, onde os negócios têm a ver com o dinheiro e a liberdade (ou a sua restrição) e onde, por isso mesmo, devemos inspirar confiança e “solidez” e não “ir com a moda do momento”.
Noutra vertente, é um valor assumido que a solenidade dos acontecimentos aumenta com o decorrer do dia. Por isso, em termos gerais, é comum um dress code mais formal para um jantar do que para um almoço, o mesmo acontecendo para uma festa à noite se comparada com um cocktail ao fim da tarde.

Tendo dito isto, e mesmo correndo o risco de me chamarem conservador ou elitista, até talvez arrogante que é o pior insulto que pode vitimizar um português, alguém me explica porque fui hoje atendido na Repartição de Finanças aqui do bairro por um funcionário de jeans? Eficiente, até mesmo simpático e colaborante, mas envergando uma muito proletária camisa aos quadrados e um algo coçado par de jeans? Será assim tão difícil, já não digo exigir fato e gravata, um casaquito de tweed, vá lá, que os há a preço bem módico, pedir aos senhores das Finanças que, se não se importarem, deixem os jeans para os seus fins de semana em família, com sogra, canário e cão?
Pois é, eu sei, sou isso tudo que disse e ainda por cima um empedernido reaccionário. Um careta, claro! Mas, humilde contribuinte, quer queiram quer não, não vou tratar de assuntos com o fisco vestindo um par... de jeans! Dignidade e respeito por quem me cobra e representa: o Estado... Importam-se de retribuir?"