sexta-feira, abril 10, 2009

"Dress codes", uma vez mais

A propósito desta notícia, algo que aqui escrevi a 12 de Maio de 2008:
"Os dress codes estão, hoje em dia, bastante aligeirados, mas independentemente de questões práticas (não dá jeito nenhum ir para a praia de fato e gravata ou jogar ténis de sobretudo), eles têm permitido, ao longo dos anos, marcar a importância e solenidade dos acontecimentos.
Vestimo-nos de modo mais formal para um casamento ou um enterro, por exemplo, porque são considerados, cada um de seu modo, acontecimentos únicos e solenes, e o próprio traje utilizado contribui para essa solenidade, conferindo-lhe, inclusivamente, um mood and tone adequado. Vestimos fato e gravata para trabalhar em certas profissões, porque estamos num terreno de relações formais, mas se essa profissão se exercer numa área onde o relacionamento é mais informal (nas áreas “criativas”, por exemplo) o nosso dress code acompanha essa maior informalidade, dispensando o fato completo e gravata. Do mesmo modo, o dress code é mais conservador e formal na banca e na advocacia, porque estamos em terrenos tradicionalmente considerados mais “sérios”, onde os negócios têm a ver com o dinheiro e a liberdade (ou a sua restrição) e onde, por isso mesmo, devemos inspirar confiança e “solidez” e não “ir com a moda do momento”.
Noutra vertente, é um valor assumido que a solenidade dos acontecimentos aumenta com o decorrer do dia. Por isso, em termos gerais, é comum um dress code mais formal para um jantar do que para um almoço, o mesmo acontecendo para uma festa à noite se comparada com um cocktail ao fim da tarde.

Tendo dito isto, e mesmo correndo o risco de me chamarem conservador ou elitista, até talvez arrogante que é o pior insulto que pode vitimizar um português, alguém me explica porque fui hoje atendido na Repartição de Finanças aqui do bairro por um funcionário de jeans? Eficiente, até mesmo simpático e colaborante, mas envergando uma muito proletária camisa aos quadrados e um algo coçado par de jeans? Será assim tão difícil, já não digo exigir fato e gravata, um casaquito de tweed, vá lá, que os há a preço bem módico, pedir aos senhores das Finanças que, se não se importarem, deixem os jeans para os seus fins de semana em família, com sogra, canário e cão?
Pois é, eu sei, sou isso tudo que disse e ainda por cima um empedernido reaccionário. Um careta, claro! Mas, humilde contribuinte, quer queiram quer não, não vou tratar de assuntos com o fisco vestindo um par... de jeans! Dignidade e respeito por quem me cobra e representa: o Estado... Importam-se de retribuir?"

2 comentários:

Rato disse...

Não estou nada de acordo, caro JC. Ainda por cima neste País, que sempre teve a tendência de "julgar" as pessoas pela aparência. É que se pode parecer um "carroceiro" em fato e gravata e, pelo contrário, um autêntico gentleman em jeans. É tudo uma questão de "saber-se estar".
Um abraço

JC disse...

De acordo, Rato. Mas, como explico, existem códigos consoante as ocasiões e profissões. Como existem para o modo como nos comportamos em público, como nos dirigimos aos outros, dependendo do n/ grau de intimidade e confiança ou qualquer outra convenção, etc, etc. Caso contrário, caía-se na anarquia total. Por exemplo, uma vez tive que explicar a um colega meu, francês (mais propriamente, meu subordinado, hierarquicamente falando)porque tratava o presidente da companhia (um inglês) pelo 1º nome, entre nós por "tu" (em francês) e ao empregado da cantina por senhor fulano, para que ele não se sentisse, de algum modo, desrespeitado. Para que tem por função atender pessoas de raças, gostos, credos e opções de vida diferentes, o melhor é optar por uma indumentária e atitude sóbrias, que não seja susceptível de desagradar a alguém. Como disse no "post", eu não vou a uma repartição pública de "jeans", embora os use c/ alguma frequência. Posso não ir de gravata, mas visto um casaco e umas calças mais clássicas. Por educação, por tradição que me foi legada de respeito por quem me representa: o estado. Admito ser um pouco radical, mas foi herdado. Conto-te uma pequena história. Quando, no final dos anos 50 o meu pai foi pela 1ª vez à Madeira, de hidrovião!!!, ficou instalado no Savoy. Quando desceu para jantar, viu que estava toda a gente de "smoking", embora não fosse obrigatório. Como não tinha levado "smoking", para não se sentir deslocado nem arriscar-se a incomodar os outros por estar vestido de modo diferente, deu meia volta e foi jantar a outro lado!
De certeza que não vais a um casamento de "jeans", um acessório desportivo. Eu apenas peço a quem me atende no seu horário de trabalho que não o faça, retribuindo o respeito que ele, como representante do Estado, me merece! Nada disto tem que ver com o que dizez - e é verdade - de poder-se ser um gentleman de "jeans" ou um carroceiro de fraque!
Abraço.