quarta-feira, abril 01, 2009

A Índia de Fritz Lang



"Der Tiger von Eschnapur", de Fritz Lang (1959)

Digamos que são filmes relativamente mal amados de Fritz Lang, embora tenham exercido sobre mim terrível fascínio talvez porque me remetessem para as aventuras de um tal Sandokan, o “Tigre da Malásia”, companheiro de “férias grandes”. Pelo menos, assim era no meu imaginário, desde que na época das grandes aventuras vi o segundo deles, muito jovem adolescente ainda, numa matinée do antigo cinema Condes. Até o ter revisto (e finalmente ver ambos, já adulto), fiquei sempre na memória com umas terríveis imagens de grutas de leprosos, que aos treze ou catorze anos são capazes de nos tirar o sono e fazer com que adormeçamos de luz acesa.

Falo do díptico constituído por “Der Tiger von Eschnapur” (“O Tigre de Eschnapur”) e “Das Indisch Grabmal” (mal traduzido para português, pelo menos nesse tempo já longínquo, como “O Túmulo Índio”). Quem reconhecerá neles o Lang do “espressionismo”? De “M”, de “Metrópolis”, dos “Mabuse”? Quem reconhecerá neles o Lang do período americano, negro como os mais negros, de “The Big Heat”, “Clash By Night” ou “While The City Sleeps”? No entanto, como algum kitsch que também contêm (ou exactamente por isso) continuam, e continuarão sempre a fascinar-me como nenhum outro.

Vejam esta conhecida sequência da dança de Debra Paget retirada de “Der Tiger von Eschnapur” e reparem bem se a cena não algo de premonitório de Indiana Jones, de aventuras publicadas em pranchas no “Cavaleiro Andante”, de Sandokan, claro está! De quando a aventura era mesmo aventura, escapismo, emoção, exotismo, sumptuosidade! No fundo, levando-nos aos mistérios de uma Índia luxuosa e lendária dos marajás, tal como outras aventuras nos levavam a África de Tarzan e das "Minas de Salomão", à Amazónia, aos mistérios do quase desconhecido. Enfim, de um retorno à idade em que a nossa imaginação e a ingenuidade tudo nos permitiam.

Não será o maior, o grande cinema de Lang, mas... who cares?

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