segunda-feira, abril 13, 2009

LFV, Rui Costa, Quique Flores e o projecto do S. L. Benfica - 1. O processo de selecção do treinador e o perfil de Quique Flores

No futebol, quando alguma coisa corre mal com a equipa é tradição pôr-se em causa o treinador. Ora esse mesmo treinador é escolhido por alguém – normalmente a direcção do clube ou o seu director desportivo, espera-se - em função de um determinado perfil que encaixe na cultura do clube e no projecto que se pretende implementar. Também, e isso é frequentemente esquecido, do meio e “caldo de cultura” envolventes. Por exemplo, José Maria Pedroto teria sido o mesmo sem o “boom” económico da península de Setúbal no final dos anos 60 e início de 70 ou sem a “inclinação” do país a norte no período imediatamente posterior ao fim do PREC? Jaime Pacheco alguma vez teria sido campeão com o Boavista sem o maciço investimento da família Loureiro e sem que o clube dominasse sectores chave do futebol, da arbitragem ao ministro do desporto, passando pela presidência da LPFP? Acresce que, dentro de certos limites e falando de treinadores comprovadamente preparados, não existem bons e maus treinadores em si mesmos, mas treinadores que, em função do seu perfil e ideias que perfilham, encaixam melhor ou pior em determinado clube numa conjuntura dada. Ou são adequados a dirigirem uma determinada selecção, por exemplo, mas não para treinarem um clube de alto nível (Scolari, é um exemplo). Não vale a pena citar mais casos (eles são centenas) de treinadores conceituados que coleccionaram, ao longo da carreira, igual número de sucessos e fracassos consoante as circunstâncias.

Bom, tendo dito isto, encaixa Quique Flores, os seus "curriculum vitae" e perfil, no que deve ser, no actual momento, o treinador que sirva o que julgo ser, ou deveria ser, o projecto do SLB? Obedeceu a sua escolha a um método criterioso? Vejamos...

Digamos que no que diz respeito ao processo de selecção (e aqui estamos ainda a falar apenas de Luís Filipe Vieira e Rui Costa), algo me deixa um pouco preocupado sobre a consistência da escolha e, subsequentemente, do projecto que lhe deveria estar na base. Tanto quanto se sabe, a primeira opção terá sido Eriksson, neste momento e circunstâncias uma clara cedência e apelo a um sebastianismo messiânico. Felizmente que tal se não consumou. A segunda hipótese terá sido Queiroz, alguém indiscutivelmente preparado, que conhece bem e por dentro o grande futebol, mas que nunca conseguiu nenhum resultado relevante fora dos escalões de formação para os quais parece vocacionado, pese a sua já longa carreira. Assim sendo, o que me deixa preocupado não é Quique ter sido terceira escolha, mas sim o facto de nem Queiroz parecer ter nada que ver com Eriksson, nem ambos com Quique Flores. Ou seja, o que me deixa preocupado é a inconsistência de perfis e o modo como encaixam ou não num projecto que, em função dessa mesma inconsistência, parece não existir.

E Quique? Bom, não conheço pessoalmente Quique Flores e nunca assisti a um treino no Seixal. Descontando esta importante ressalva, Quique tem fama de conhecedor e rigoroso, estudioso e actualizado. É jovem, tem ainda uma carreira curta e nunca ganhou nada de importante, tendo, portanto, um caminho a percorrer se quiser chegar ao topo. Digamos que “tem de fazer pela vida” e parece ser ambicioso. Para além disso, já treinou o Valência, uma equipa da 1ª divisão europeia, com algum sucesso e num campeonato de topo. Conhece, portanto, o “grande futebol”, tem “mundo” e conhecimento do mercado mundial, o que era manifestamente uma weakness de Fernando Santos. É culto e parece inteligente, fazendo um bom “match”, em termos de perfil, com Rui Costa e com os jogadores de que dispõe, muitos deles (Aimar, Reyes, Suazo) vindos desse mesmo “grande futebol”. Alguém os imagina a serem treinados por Cajuda ou Jorge Jesus? Para além disso, tem um discurso cosmopolita, que contrasta com a linguagem da maioria dos treinadores “indígenas”, fazendo, nesse aspecto, lembrar Eriksson. Tudo parece, portanto, encaixar sem grandes problemas de princípios num clube que deveria afirmar um projecto "de contraste" com o FCP. Ah, e o modelo de jogo que perfilha, algo importante quando se selecciona o treinador? Essa é, talvez, a minha maior dúvida. Mas deixemos o assunto para o próximo “post”.

Próximo “post” sobre este tema: os princípios e modelo de jogo de Quique Flores.

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