sexta-feira, abril 10, 2009

Ainda os "dress codes": o bom exemplo da Loja do Cidadão

Na maioria das grandes organizações – quando não exista a obrigatoriedade de uso de farda - existem “dress codes”, escritos ou não, explícitos ou tácitos, que tentam normalizar a imagem da organização internamente e para o exterior e dependem da sua “cultura” e tradições, da área de negócio ou actuação, do local onde se encontram as suas instalações (neste ponto, esse “dress code” pode mesmo variar dentro de uma mesma organização), do tipo de funções (por exemplo, ter ou não contacto com o público e/ou clientes), do acontecimento (pode não ser o mesmo para o trabalho interno e para quando exista necessidade de reuniões com o exterior), até do clima e dos dias da semana... Mais ainda, existe frequentemente, para além desse “dress code”, um código de conduta que, como o próprio nome indica, define os comportamentos que os colaboradores, sejam eles o director-geral ou o porteiro, devem assumir nas diversas situações, desde o modo de atender do telefone ao modo de se apresentarem em público.

Inclusivamente, naquelas organizações cujas instalações são múltiplas e se distribuem geograficamente por um ou vários países e onde existe o hábito de se efectuarem reuniões periódicas com todos esses colaboradores, é habitual, com o programa de viagem, de trabalho e social, indicar-se o “dress code” aconselhado para cada ocasião, desde o “smoking”, “fato escuro” e “fato e gravata”, até ao informal e informal elegante (“smart casual”), passando pelo intermédio “casaco e gravata”. Tudo isto tem por função conferir uma certa “unidade” ao grupo, evitar que quem não conheça tão bem as regras de etiqueta ou venha de uma região onde elas sejam diferentes se sinta deslocado, contribuir para que se gerem menos equívocos e embaraços. Também, claro, algumas indicações sobre os hábitos mais comuns do país onde se efectua a reunião, com o objectivo de se evitarem mal entendidos ou atitudes consideradas ofensivas para a cultura e hábitos locais.

No caso de funcionários que tenham contacto com o público, o “dress code”, normalmente sóbrio e tanto quanto possível elegante ou normalizado com recurso a farda, acentua uma imagem de seriedade e evita que se possam ferir susceptibilidades naqueles com quem se contacta: brancos, pretos e mestiços; portugueses ou estrangeiros; católicos, hindus ou muçulmanos; ricos ou pobres; bem ou mal nascidos; cultos ou analfabetos; da cidade ou da província. Um pouco como a tão mal afamada comida dos aviões, normalmente pouco condimentada e sensaborona para que, independentemente de existirem opções vegetarianas ou kosher, seja “tragável” pela grande maioria, evitando reclamações e problemas.

Que algo deste tipo, que se pretende implementar numa loja destinada a servir os cidadãos, visitantes e imigrantes que acolhemos e que sempre tem sido apontada – e bem – como um caso de sucesso, possa ser considerado como notícia relevante para os “media”, objecto de comentários chocarreiros para certos comentadores, apenas revela o provincianismo e atraso civilizacional ainda característicos da sociedade portuguesa e o estado deprimente, direi mesmo alarve, a que terá chegado a cena mediática.

Poupem-nos!

3 comentários:

Anónimo disse...

Boas!

Grande post!

Fez-me lembrar a pena de um Eça ou Camilo!

Lembro ainda que aconteceu, uns anos atrás, a mesma chocarreirice quando uma conhecida instituição bancária portuguesa implementou um dress code para as suas funcionárias.

Quem tenta velar pelo decoro, educação e qualidade de quem tem o dever de bem servir o público, acaba por ser vitimizado pela asneirada geral de quem confunde as regras de bem servir com o cliché, ad nauseam, de … fascista, puritano, explorador etc. . etc..

Penso que uma das etologias possíveis dessa patologia reside noutra vulgata muito difundida , segundo a qual, quem emprega e paga um salário tem de ser, necessariamente, um explorador, além do respectivo corolário, quem trabalha por contra de outrem possui, por inerência, muitos direitos e menores obrigações.

Um abraço
JR

JC disse...

Mtº obrigado.
Um abraço tb para si e uma Boa Páscoa

Anónimo disse...

Uma boa Páscoa, também para si e respectiva família - apesar do desastre da Luz perante os de luto vestidos -.
JC