Eu sou o Gato Maltês, um toque de Espanha e algo de francês. Nascido em Portugal e adoptado inglês.
terça-feira, setembro 30, 2008
A Guerra Aqui (Mesmo) Ao Lado (36)
[What are you doing to stop this? Esperantists of the World, Pit Your Strength against International Fascism!].
"In this poster, two red clenched fists prepare to stab bloodied daggers into the Iberian Peninsula. The two fists are emerging out of Italy and Germany and they bear the symbols of the fascist movements in those countries on their wrists. The image serves as a graphic representation of the role of Italy and Germany in the Spanish Civil War through their support of Franco and Nationalist Spain. It also reflects the fear that the battle for Spain was merely the next step in a fascist take over of Europe.
This poster also reflects one of the many attempts to internationalize the Spanish conflict. The text on the poster is written in Esperanto, an artificial language created by Lazar L. Zamenhof in 1887 in an attempt to develop a truly international language that belonged to no one people or nation. Given the presence of groups of soldiers and volunteers from other European nations, this poster, in using Esperanto, may have been an attempt to create solidarity among the various international groups contributing to the defense of the Spanish Republic. The use of Esperanto may have also helped to mediate between the different language groups within Republican Spain, which initially included much of Cataluña where Catalan is spoken, in order to motivate people in the struggle against fascism in Spain."
Ideologia e remunerações dos executivos
Tudo, ou quase tudo, já foi dito sobre as justificações para as altas remunerações auferidas por muitos executivos de topo, a nível internacional, todas elas com a sua parte de verdade e com as quais, basicamente concordo: compensação por um investimento na sua própria formação efectuado nas melhores escolas mundiais, conhecimentos profissionais adquiridos por anos de trabalho nas melhores empresas, rede de conhecimentos e contactos políticos, capacidade para compreender o mundo para além da sua área profissional específica, influência, carisma, etc, etc. Tudo isto constitui, no seu conjunto, razão para aquilo que se poderia designar por uma escassez de profissionais qualificados no mercado, o que justifica o seu valor e, logo, a sua remuneração compensatória condizente. Se tudo isto é ou não confirmado pela sua performance no terreno, será questão importante; mas, de momento, não é essa a análise a que me proponho. De qualquer modo, não deixo sempre de me lembrar de uma frase que o meu pai utilizava para calar os que criticavam o ordenado do Eusébio, na altura elevado mas comparado com os que auferem, hoje em dia, as “estrelas da bola” ridículo: “pois é, será quase analfabeto, mas ninguém no mundo joga à bola como ele!”.
Mas existe, de facto, algo que ainda não vi por aí escrito ou mencionado por defensores ou inimigos: os salários dos executivos de topo contêm também, na sua formação, uma componente ideológica. As suas remunerações elevadas permitem enviar sinais de poder para a sociedade e para o mundo da política, valorizando um determinado modelo de organização social e económico ao mesmo tempo que ajudam a construir a imagem da empresa que se permite praticá-las. Por alguma razão, terá sido durante estes últimos anos de dominação ideológica da ortodoxia ultra-liberal, com um quase endeusamento do mercado após a derrota da URSS e a emergência de um certo novo-riquismo subsequente, que o assunto se tornou mais notório e chegou aos mais altos níveis de discussão pública. No fundo, nada disto é muito diferente, na sua essência que não na forma, das benesses concedidas aos membros das burocracias dos países comunistas ou o modo como eram, e são, apresentados “à cidade e ao mundo” os diversos “queridos líderes” ou “pais dos povos”, também contendo em si uma carga ideológica evidente de modo a acentuar a superioridade de um sistema. Felizmente, num dos casos, temos oportunidade de escolher e contribuir com a nossa actuação, enquanto cidadãos, para a melhoria das que achamos possam ser as imperfeições de um sistema.
Das concepções de casamento e divórcio
Na questão do casamento, a direita, herdeira natural, mas não exclusiva, dos valores aristocráticos e com uma ligação tradicional à Igreja Católica, tende a privilegiar a instituição, a ligação entre as grandes famílias, por vezes mesmo reinantes, que o casamento representava. Era uma ligação essencialmente política e patrimonial, pelo que a sua dissolução acarretava perigos e danos evidentes. Daí a sua concepção de ser algo para a vida, uma benção de Deus que deveria permanecer muito para além de quaisquer afectos, normalmente inexistentes, e, também, a sua resistência à eliminação da questão da “culpa”, já que esta era questão relevante na partilha patrimonial e na regulação dos jogos de poder políticos. Era essa substituição dos afectos pelos interesses - e, por vezes, pelas razões de Estado - que conduzia a um mundo em que o adultério, consentido ou tolerado, era um modo de ultrapassar frustrações ou sublimações. Já para esquerda, herdeira das revoluções burguesas que geraram o romantismo novecentista, os afectos estarão em primeiro lugar, pelo que existe a convicção, apesar da influência do pensamento aristocrático ter impregnado todos um pouco e as questões patrimoniais ou políticas estejam longe de estar ausentes, de que a ausência de afectos determina inexoravelmente o fim do casamento. E, já agora, assumindo os afectos o papel central e a sua ausência causa principal para a dissolução do casamento, deixa de fazer qualquer sentido procurar ou definir um culpado, já que ninguém comanda os seus sentimentos.
Temo estarem ambos longe da realidade, já que, mesmo nos dias de hoje, não só muitos casamentos nunca tiveram nada a ver com os afectos ou continuam muito para além da sua perda, muitas vezes para sempre, como podem continuar a existir afectos ou manter-se a sua ausência de sempre e o casamento terminar, quaisquer que sejam as razões invocadas para o facto, por um ou ambos os cônjuges, mesmo que os deveres e direitos de ambos não tenham sido sujeitos a violação culposa e/ou persistente. Quero com isto dizer, alertando desde já para o facto de não ser jurista, que na vida real o casamento acaba, será talvez o único contrato em que isso acontece, quando, pura e simplesmente, um dos cônjuges manifesta reiteradamente vontade inequívoca nesse sentido. É esta a realidade do mundo e da vida, mesmo que nos digam as estatísticas que o divórcio litigioso representa apenas uma percentagem inferior a 8% (salvo erro: se erro é por muito pouco). Claro, mas o que as estatísticas não podem mostrar é que dos restantes 92% uma grande maioria, esmagadora mesmo, são falsos divórcios por mútuo consentimento, em que o cônjuge que, em princípio, não deseja o divórcio acaba por com ele com concordar para que este não se eternize, arrastando sofrimento, para ambos e eventuais filhos, adiamento de decisões patrimoniais e de pensão de alimentos, etc (penso não valerá a pena continuar, pois a lista das penalizações seria longa).
Bom, que quero eu concluir com isto? Apenas que qualquer posição realista e não hipócrita perante o casamento e a sua dissolução, vulgo divórcio, terá de se centrar nesta questão, demasiado pertinente para ser evitada por questões de oportunismo ou cobardia ideológica ou política: o “divórcio a pedido” - isso mesmo, sem medo de dar o nome às palavras - centrando-se a missão do Estado e dos Tribunais naquilo que é realmente importante: a defesa dos filhos e da equidade entre os cônjuges face à contribuição de cada um durante o tempo de vida em comum e em perspectiva da sua vida futura após o divórcio. O resto é passar um pouco ao lado da realidade, mesmo que se avance, aqui e ali, num sentido considerado positivo.
segunda-feira, setembro 29, 2008
domingo, setembro 28, 2008
Lazy day; sunday afternoon
- Com Quique Flores o Benfica tem, ao fim de muitos anos, um treinador respeitado um pouco por todos: sócios, adeptos, imprensa, críticos, colegas de profissão e jogadores. Que o meu clube saiba dar valor a esta quase unanimidade.
- Não sou um “fanático” da Fórmula Um. Sigo o campeonato com atenção q.b. e, ao todo, assisti ao vivo a três corridas: em Monsanto em 1959, ainda pré-adolescente e pela mão do meu pai, e no Estoril em 1991 e 1992 (salvo erro), por convite irrecusável para a chamada área VIP, com almoço e visita às “boxes”. Pela televisão, “deito um olho” se acontece estar em casa, ter a TV ligada e não ter nada de mais interessante para fazer. Excepção é o Grande Prémio de Mónaco, onde aquela comunhão entre os carros e as ruas da cidade com os seus, e meus, locais de culto, confesso me diz alguma coisa. Por isso achei ridículo que um dos comentadores da Sport TV tentasse encontrar algumas semelhanças entre o G. P. de Mónaco e o G. P. de Singapura, acho que por serem ambos circuitos citadinos. O problema, o pequeno/grande problema, é que em Singapura os carros não curvam junto ao Rascasse, não sobem perto do Hermitage, não passam frente ao Casino e ao Café de Paris, não descem para o Hotel Lowe’s e não têm de fazer uma chicane junto ao porto. Para o caso de o dito comentador não ter reparado, é isso que faz toda a diferença.
Paul Newman (1925-2008)
sábado, setembro 27, 2008
Ferreira Leite e a crítica política
sexta-feira, setembro 26, 2008
As capas de Cândido Costa Pinto (49)
Medos...
O "Gato Maltês" faz dois anos!
quinta-feira, setembro 25, 2008
Pergunta à CML
quarta-feira, setembro 24, 2008
"Lipstick On Your Collar" (1)
É a Inglaterra (e a Londres, muito particularmente) dos anos cinquenta vista e vivida através da música popular e do quotidiano de dois funcionários administrativos do "Foreign Office" durante a crise do Suez (segunda metade dos anos 50; mais propriamente, 1956), isto é, no estertor do Império, quando se conclui que a Inglaterra já não tem capacidade para aventuras neocoloniais e o mundo já não lhe pertence. Em certa medida, é o fim da mentalidade, usos e costumes, herdados dos anos pré-guerra. É o fim de uma época e o início de outra que se aproxima, da swinging London dos sixties, radicalmente diferente e revolucionária nos usos e costumes. Por alguma razão, e se estou bem lembrado, uma das últimas sequências da série é uma panorâmica sobre o "2I's Coffee Bar", no Soho, onde Cliff Richard, então o émulo britânico de Elvis Presley e ainda na sua fase de "rock & roll", se deu a conhecer "à cidade e ao mundo". É o retrato de uma geração - a imediatamente anterior à minha - que, em certa medida, se descobriu, fez adulta e formou a sua personalidade através das novas formas da música popular, que projectou a emancipação das gerações seguintes.
É também a primeira aparição na TV de Ewan Mc Gregor, no papel do "Private" Mick Hopper, numa série que passou na RTP (na 2, salvo erro) nos anos 90. O “Gato Maltês”, que já teve oportunidade de passar alguns “clips” na sua rubrica “Grandes Séries”, irá apresentar aqui no blog, hoje e nos próximos dias, um número bem mais alargado de ""clips, começando, claro está, pelo genérico. Divirtam-se, pois é bem caso para isso!
Sobre o casamento homossexual
Mas subitamente, e utilizando o calão do momento, uma eventual posição do PSD dando liberdade de voto aos seus deputados, conforme já foi sugerido por alguns dos seus dirigentes, parece abrir uma “janela de oportunidade” para o PS fazer o mesmo e, eventualmente, conseguir aprovar a lei sem danos de maior para os seus objectivos eleitorais ou de convivência presidencial. É algo a que o PS deve estar bem atento e que, ao confirmar-se, poderia transformar o partido, nesta questão, de patinho feio em cisne emplumado, conduzindo-o de uma posição desconfortável até uma saída airosa. Que esteja atento, pois.
Duas notas finais:
- Uma para o PCP, que trata de se esconder numa posição de cobardia e conservadorismo político atrás dos “Verdes”, ninguém tendo dúvidas de que votará a favor. Assim, qual doutor Frankenstein, concede alguns momentos de glória ao “monstro” político por si criado.
- Outra para expressar que a aprovação da lei terá efeitos políticos e sociais muito para além dos evidentes. Permitirá dar sinais à sociedade sobre o que se deseja para o futuro: um país conservador, isolado, bisonho, tutelado; ou uma sociedade mais livre, mais responsável, mais aberta, mais democrática, mais igual e, simultaneamente, plural. Mais próxima das civilizações mais avançadas.
Pacheco Pereira e Sousa Tavares
terça-feira, setembro 23, 2008
Paços de Ferreira - Benfica
Duas notas sobre o jogo de ontem :
- A equipa joga em transições ofensivas muito rápidas, como sempre jogaram as grandes equipas do Benfica, mas por isso tem dificuldade em gerir a posse de bola e controlar o jogo, perdendo a bola com frequência, em passes de risco, e desequilibrando-se demasiadas vezes porque joga com a baliza nos olhos. Para agravar, Yebda (um tipo de jogador que há muito fazia falta ao Benfica, uma espécie de Sromberg menos exuberante) não é um “6” posicional clássico, percorrendo muito terreno e ocupando grandes espaços. Com a capacidade táctica de Katsouranis o equilíbrio será outro (já o é com Ruben Amorim), bem como com uma defesa mais estabilizada e com uma melhor participação dos avançados nas acções defensivas o que, no entanto, nunca será um ponto forte da equipa com estes jogadores e este modelo de jogo. Digamos que há uma ideia; mas é preciso consolidá-la.
- De qualquer modo, há que ter em atenção que alguns dos golos sofridos nos últimos jogos tiveram a sua origem em situações casuísticas, tal como o "penalty" despropositado de Katsouranis contra o FCP, o 3º golo, “por tabela”, do Nápoles, o “frango de Quim e outro golo “de tabela” ontem. Não dura sempre...
Grandes Séries (28)
segunda-feira, setembro 22, 2008
Santana Lopes: o "Grande Sedutor"
37th Ryder Cup - final
domingo, setembro 21, 2008
Willie Dixon's Blues Dixonary (10)
No intervalo do Chelsea-Manchester United
Uma outra questão que nada tem a ver com esta. Defender tem também a sua técnica, que não passa pela habilidade demonstrada em “dribles” e “fintas”, ou em “chapéus” ao gurda-redes. Com uma deficiente técnica defensiva e também uma falta de convicção na hora do “um para um” (quem jogou rugby, mesmo a brincar, percebe melhor o que estou a dizer), para ganhar a bola, Bosingwa “ofereceu” o golo ao Man. United. Pois é, em Portugal a intensidade de jogo é outra...
37th Ryder Cup - sábado
sábado, setembro 20, 2008
Pinho e Sebastião: apenas uma questão de Manuéis?
Mas o assunto levanta outras questões mais profundas e que julgo pertinentes. Deve o responsável pela AdC, um organismo que faz da independência a sua razão de existência, ser nomeado apenas por iniciativa e decisão governamental? Mais ainda. Toda esta trama indicia um relacionamento próximo, uma amizade entre actual ministro e Manuel Sebastião que já virá de longa data e que julgo incompatível com um relacionamento “saudável” entre os cargos que ocupam. Pergunta: o “Público” e o “CM” conheciam esse relacionamento? Investigaram-no na altura em que o seu conhecimento público poderia ter evitado a nomeação do actual responsável pela AdC? Ou apenas o fazem agora por questões de oportunidade política (de luta política, será mais adequado afirmar) e não jornalísticas, se é que ainda existe uma thin red line a separá-las?
37th Ryder Cup - ontem
sexta-feira, setembro 19, 2008
37th Ryder Cup - Hoje
Hinos Nacionais (5)
De qualquer modo, optei por apresentar uma versão de estúdio dessa mesma interpretação, com melhor qualidade de captação de som embora não perdendo as características da versão de Woodstock. Acrescento que “Stars Spangled Banner” é uma composição de Francis Scott Key (letra) e John Stafford Smith (música), sendo oficialmente o hino dos USA desde 1931.
Ortodoxia ultra-liberal e as próximas eleições
Quando os ortodoxos ultra-liberais reafirmam as suas convicções, contrariando as evidências, estamos a entrar no campo do mais puro e intransigente domínio da fé, algo a que alguns deles, cá do “rectângulo”, não se têm mostrado de todo hostis na sua já longa vida política, desde que a fé era bem outra e os deuses tinham nomes da longínqua China ou da mais próxima Albânia. Não admira, portanto, que em alguns países como os USA ortodoxia ultra-liberal e radicalismo religioso andem frequentemente de mãos dadas, partilhando até “tickets” presidenciais. Por cá, mais modestos e humildes nas consequências, aposto apenas que haverá alguns temas que não serão discutidos nas próximas eleições legislativas, a saber:
- A privatização da Caixa Geral de Depósitos.
- A alteração do modelo da Segurança Social, substituindo-o ou complementando-o por um outro baseado em fundos de pensões privados.
- A eventual reformulação (o que é diferente da sua reforma) progressiva do Serviço Nacional de Saúde, substituindo-o por um sistema privado de seguros.
Ainda bem: mais tempo e espaço fica para o que efectivamente importa! A fé ultra-liberal, essa, por certo continuará, pois, tal como também o PCP, pertence ao domínio do sagrado. Os outros – liberais, sociais-democratas, conservadores – não terão outro remédio senão entender-se ou divergir no governo do profano.
Será que um vírus do "Gato Maltês" infectou José Pacheco Pereira?
quinta-feira, setembro 18, 2008
História(s) da Música Popular (100)
Bom, o tema chegou a #8 na interpretação das Shirelles, de Sherley Owens, grupo formado em New Jersey no ano de 1958, e uma versão “live” dos Beatles viu a luz do dia em 1994 incluída no álbum “Live at The BBC” (não é assim, LT?). Também Cilla Black, que partilhava com os Beatles Brian Epstein como manager, e Dave Berry (o de “Crying Game”) gravaram o tema pouco depois do grupo de Liverpool.
Hinos Nacionais (4)
A interpretação aqui apresentada é a da soprano americana Jessye Norman.
Constança Cunha e Sá, o casamento homossexual e o PS
quarta-feira, setembro 17, 2008
Hinos Nacionais (3)
A música foi composta logo em 1822 por Francisco Manuel da Silva e a letra actual é de Joaquim Estrada, escrita em 1922 data em que o hino se tornou digamos que oficioso, pois apenas desde 1971 é considerado “oficial”.
Preço dos combustíveis: e o lado da procura?
Outra questão é que, mesmo num regime de preços livres, não estamos perante um bem em que várias marcas vendam os seus produtos, a preços diferenciados, no mesmo local; não estamos perante algo que se venda na prateleira do supermercado e cuja decisão do consumidor seja tomada nesse mesmo espaço perante o leque de opções oferecido. Optar pelo fornecedor “A” em vez do fornecedor “B” exige uma deslocação, que consome tempo e custa dinheiro, implica planeamento e mudança de hábitos, sendo a diferença medida por poucos cêntimo por litro, o que contribui para criar a ilusão (ou a convicção) de que “não vale a pena”. Estamos, uma vez mais, num terreno em que as emoções ocupam um espaço importante. Um exemplo deste caso é dado pelo preço dos combustíveis nas auto-estradas, mais elevado na generalidade dos países europeus, já que é assumido ninguém se dará ao trabalho de sair dessa mesma auto-estrada para meter gasolina ou gasóleo. Quando essa diferença de preço se acentua, em regiões fronteiriças, a concorrência entre fornecedores tende de facto a funcionar, pois essa ilusão (de que não vale a “maçada”) desvanece-se perante a evidência.
Isto não significa, claro está, que não existam distorções à concorrência do lado da oferta, chamem-se elas cartelização ou quaisquer outras, mas sim que talvez seja tempo de, em vez de clamar apenas pela solução fácil da fixação governamental dos preços, procurar também resolver, pelo lado da procura, alguns dos problemas que afectam o normal funcionamento do mercado. Eis um campo onde o Estado pode ter um papel bem importante.
terça-feira, setembro 16, 2008
O discurso do PR no Supremo Tribunal
A propósito do discurso do Presidente da República na cerimónia comemorativa dos 175 anos do Supremo Tribunal de Justiça, que subscrevo top to bottom sem qualquer hesitação, repito um post recente e bem a propósito, publicado no dia 3 de Setembro último.
"Por alguma razão os julgamentos adoptam um certo ritual e não se realizam, por exemplo, sentando todos os intervenientes à volta de uma mesa redonda, cada um pedindo a palavra quando lhe aprouver. A disposição da sala está sujeita a um planeamento pré-definido, concedendo aos juizes, que administram a justiça em nome do Estado, única entidade que o pode fazer, um lugar de proeminência face a todos os outros intervenientes; sujeitando estes e advogados a um dress code específico (“toga” e “”beca”); todos os presentes a um grau elevado de decoro e respeito, que vai desde as formas de tratamento à ocasião própria para usar da palavra passando pela atitude de respeito, levantando-se, quando se inicia e encerra a sessão com a entrada e saída dos juizes, etc, etc. Tudo isto não acontece por acaso ou meramente por tradição, mas no sentido de conceder solenidade a um acto em que o Estado administra justiça em nome de todos os cidadãos, podendo dispor, em nome desses mesmos cidadãos, de todos nós, do indivíduo, da sua liberdade, do seu património, julgando da licitude ou ilicitude dos actos praticados.
Por isso me interrogo - se queremos, enquanto cidadãos, que tudo o que acima descrevi tenha de facto um conteúdo (e eu acho que deve ter) e não se trate apenas de mero folclore justificado pela tradição – se, para lá da sala de um tribunal, estas normas, relativamente restritivas, que contribuem para conceder aos juizes a necessária respeitabilidade enquanto administradores da justiça em nome de todos nós e a necessária solenidade ao acto de julgar devem dar lugar a uma total ausência de regras acabando isso, na actual sociedade mediatizada, por anular ou minimizar o objectivo pretendido com a ritualização dos julgamentos.
Tudo isto, claro está, vem a propósito de algumas imagens que me foram ontem dadas a ver pelas televisões a propósito do caso Paulo Pedroso. A primeira pergunta será esta: deve um jornalista estar autorizado a perseguir um juiz (estou a falar de Rui Teixeira), de microfone em punho, á porta do tribunal ou em qualquer outro local? Deve este, ou qualquer outro juiz, estar autorizado a apresentar-se de "t-shirt", ténis, jeans e camisa desportiva aos quadrados durante o seu dia de trabalho (mesmo que na pausa para almoço) e não estar sujeitos a um dress code específico (fato e gravata, por exemplo)? Deve um juiz estar autorizado (estou neste caso a referir-me a Rui Rangel) a estar presente num estúdio de televisão comentando com o pivot de serviço o “tema do dia” (uma decisão de um tribunal) mesmo que sem se referir a casos concretos?
Sim, eu sei que vão dizer que se tratam apenas de pormenores, faits divers, se comparados com o facto dos juizes, orgão de soberania, terem o seu próprio sindicato e exporem publicamente as suas reivindicações. Certo. Mas... o rigor e a seriedade começam e acabam, na maioria das vezes, por se verem nas muito pequenas coisas. Perguntem, por favor, a Elizabeth II e ao pessoal do Palácio de Buckingham."
Hinos Nacionais (2)
A letra do hino foi escrita em 1847 por Goffredo Mameli (é também conhecido como “Hino de Mameli”) no período que precedeu a guerra contra a Áustria tão bem descrita por Luchino Visconti no seu genial “Senso” e que culminou na unificação italiana (Risorgimento) em 1860. A música é de Michele Novaro. A interpretação aqui apresentada, que exprime bem o acima referido ar de festa popular, é da orquestra e coro de André Rieu. Só foi adoptado como Hino Nacional em 1946, depois da vitória da república no referendo com a subsequente abdicação de Victor Emmanuel III e da Casa de Sabóia.
segunda-feira, setembro 15, 2008
A 37ª edição da Ryder Cup
Hinos nacionais (1)
Bom, tendo dito isto existem alguns hinos nacionais que, dentro do género, são peças musicais estimáveis, sendo igualmente conhecidas algumas interpretações que se tornaram de referência ou incontornáveis por vários motivos, nem sempre os melhores no que à sua função original dizia respeito. O “Gato Maltês” propõe, por isso, durante esta semana, um pequeno percurso por cinco deles, dos mais conhecidos e que se situam, certamente, entre aqueles que mais gosta, sempre procurando apresentar algumas interpretações dentro do conceito acima expresso. Para começar, não propriamente um hino, mas o 2º andamento do quarteto do Imperador (Kaiser Quartet), de Joseph Haydn, em cujo tema se baseia “Das Lied der Deutschen” (a Canção dos Alemães”), hino nacional alemão que por algumas vicissitudes passou na atribulada vida da Alemanha do século XX.
domingo, setembro 14, 2008
Paulo Catarro e a mãe de Cristiano Ronaldo
Ontem, na RTP, a mãe de Cristiano Ronaldo deu uma autêntica lição de dignidade a um sempre medíocre Paulo Catarro. Interrogada sobre o prémio que o seu filho acabava de receber, a Srª Dona Dolores Aveiro (e não apenas “dona” como insistiu em chamar-lhe Paulo Catarro utilizando um brasileirismo despropositado que parece ter-se tornado norma – será que não ensinam estas coisas na TV?), de origem humilde e com uma formação escolar por certo limitada, como se sabe e reconhece pelas imagens, foi de uma contenção e de uma sobriedade exemplares, dizendo o essencial sem qualquer espécie de deslumbramento perante um mundo que somente se lhe abriu há bem pouco tempo. Uma lição de boa educação e "saber estar" para quem estiver interessado ou na disposição de aprender.
Willie Dixon's Blues Dixonary (9)
Doors - "Don't Go No Further " (Willie Dixon)
sábado, setembro 13, 2008
Notas, classificações e um sábado à tarde
Mas penso isto das notas altas é história bem mais recente, já que nos meus anos de Liceu um 14 ou um 15 só estavam ao alcance de bons alunos (17 ou 18 tinham os excepcionais) e na universidade poucas ou raras vezes subi acima do 14, sendo que a moda estatística era normalmente bem abaixo. Neste último caso, 17 ou 18 eram para as avis raras...
Mas comecei a verificar as coisas eram diferentes quando o “Professor Marcelo” zurzia na TSF, e depois de deixar alguém mais de rastos que uma cascavel pronta a morder ainda encontrava maneira de lhe oferecer um 12. Mais tarde, aqui há bem poucos anos, esta minha mania de que notas e classificações eram recurso escasso a distribuir parcimoniosamente quase me fez passar por situação achincalhante. O caso conta-se em poucas palavras. Tendo decidido a empresa onde então trabalhava admitir duas estudantes universitárias para um estágio curricular, havia que lhes dar uma nota e comunicá-la à universidade respectiva. Sorte a minha, a dita estagiária que me calhou na dita "sorte" (aqui bem se aplica) era pessoa competente, profissionalmente cumpridora, inteligência que prenunciava uma futura carreira profissional sem grandes problemas. Quando me perguntaram que nota propunha achei 15 seria merecido. Revolta no escritório: 14 tinha sido a nota que colega meu tinha dado a uma outra estagiária, reconhecidamente pessoa de méritos pouco acima do medíocre, o que me “obrigou” a rever a nota para um, achei, muito exagerado 17. Não falo já das notas atribuídas aos jogadores de futebol pelos jornais desportivos, já que aqui outros interesses se revelam, mas, por exemplo, das atribuídas pelos críticos de vinhos aos ditos. Devo dizer, pessoa avisada, que cá por casa não entra, por princípio, nada inferior a 15,5 ou a 5,5 na escala de 0 a 8. São o meu suficiente menos, e bem se encontram por aí vinhos nessas contas a preços até 5€.
Mas pronto, o que português gosta mesmo é de dizer mal, das “verónicas” e “chicuelinas”, talvez alguns “derechazos”, mas quando chega a hora da “sorte suprema”, frente a frente com o cornúpeto, onde se vê quem os... (pi), aí é que a porca torce ainda mais o rabo! Pois se até o boi está embolado e lhe serraram os cornos!
quinta-feira, setembro 11, 2008
Grandes Séries (27)
Fica uma sinopse sobre “Judge John Deed” retirada da informação da BBC Prime, bem como "trailer" da série. Divirtam-se.
“Created by one of Britain’s most eminent writers, Judge John Deed is compelling television with a charismatic central figure, strong storylines and a tremendous cast. The series aired to great success in Britain, with audiences just below the soaps and beating many popular long-running series in the ratings.
An idealist at heart, the Judge’s more traditional colleagues regard him as something of a renegade. He’s made it to the top of his profession on his own terms, armed with a sharp intellect, a rakish charm, keen wit and passionate belief in justice. Fearless and independent, he is sworn to serve state and sovereign, not the government hacks that constantly try to influence his decisions.
In the first episode, Deed must deal with corruption within the jury, the suspected murder of a barrister and a case connected to a lucrative Government deal with a foreign country during which finalising the contract seems to some more important than seeing justice is done.
Subsequent episodes raise other important questions of justice: a man with the mental age of 13 on trial for murder; the uncovering of a massive mortgage fraud perpetrated by lawyers with the connivance of a judge; children accused of conspiring to murder their parents; and the rights of a 15-year-old boy refusing a heart transplant.
There are problems too away from the courtroom: his tempestuous relationships with Jo Mills and the Rochesters; his student daughter’s pregnancy by a married tutor; and his ex-wife’s engagement to Cabinet Minister Neil Haughton, a man with whom Deed is destined not to see eye to eye.”
Ainda a esquadra de Portimão
Queiroz e Scolari a propósito de uma derrota
Se algo não me agradava em Scolari era o seu populismo sul-americano, das bandeiras à janela e dos banhos de multidão, com Roberto Leal e tudo, à mistura com uma religiosidade primitiva paredes meias com a crendice. O futebol sofrido da selecção era um pouco expressão de tudo isso, espelho de uma personalidade assim vivida por quem sempre terá considerado o sucesso e as conquistas como uma luta contra o destino, como algo contra-natura. Mas, nos antípodas, confesso que a total falta de carisma do seleccionador Carlos Queiroz, uma certa ausência expressa de espírito de conquista que transcenda o valor circunstancial das palavras, um "tanto me faz" que acredito não sinta mas não consegue evitar transmitir, me deixam com algumas saudades. É que – acho – foi com Scolari, talvez não em seu favor mas contra os seus e meus inimigos, que finalmente encontrei um forte motivo para torcer pela selecção portuguesa.
Nota: os 2-3 de ontem não deixaram de me fazer recordar os 3-6 que deram o penúltimo título de campeão ao meu SLB. Demasiadas coincidências ou apenas e só as saudades?...
quarta-feira, setembro 10, 2008
História(s) da Música Popular (99)
Onde se fala do país a propósito da selecção de futebol de "sub-21"
Nessa ânsia de se mostrar, o desporto e os recordes têm frequentemente assumido o papel que na sociedade afluente cabe aos carros espampanantes, à roupa de marca, aos condomínios “ditos” de luxo, ao Dom Pérignon e às férias exóticas. Épater le bourgeois é objectivo primeiro, mesmo que os únicos que se deixem, de facto, entusiasmar com tal trompe d’oeil sejam eles próprios e os que com eles partilham alguma similitude. Mas adiante.
Primeiro, ainda no tempo em que o país era “pobre, pobre”, foi o hóquei em patins, desporto desconhecido no mundo e jogado por veraneantes em recreio pelos lados de Herne Bay e Montreux, das praias da Catalunha, transformado em “hóquei patriótico” por obra e graça do chico-espertismo nacional e dos interesses da ditadura. Teve a sua época e por lá se ficou nas “brumas da memória”. Depois, já o país assomava à porta do dinheiro fácil, foram os recordes do Guiness, enquanto o futebol juvenil, pela mão de Carlos Queiroz, conquistava o lugar de símbolo do orgulho pátrio dantes ocupado pelo hóquei em patins das pelejas ibéricas. Espero – espero mesmo – que o mesmo não se esteja a passar com a "medalhite" aguda dos Jogos Paralímpicos. Seria demasiado cruel.
Mas voltemos ao futebol juvenil e às razões pelas quais a selecção de futebol de sub-21 se mostra avessa a igualar, ou aproximar-se, das suas irmãs mais novas, e veremos como este longo intróito não está aqui por acaso. O que Carlos Queiroz e a FPF fizeram nos idos de oitenta e noventa não foi muito diferente, ou muito mais, do que, por via de estágios prolongados que chegavam a retirar os jogadores aos clubes durante meio ano, realizaram alguns países sul-americanos e africanos: levar esses jogadores, por via de um profissionalismo assumido na adolescência, a atingir a sua maturidade futebolística mais cedo, retirando daí vantagens competitivas face aos seus congéneres europeus nas competições juvenis. Por alguma razão, se consultarmos as listas de vencedores das competições mundiais de selecções jovens facilmente encontramos como vencedores e finalistas países que estão longe de ser potências reconhecidas no futebol sénior, e dificilmente de lá constarão países como a Alemanha, por exemplo. Quando finalmente chegam à idade sénior (muitos dos jogadores das selecções sub-21 têm, na realidade, 22 e 23 anos), os atletas já têm um contrato profissional, jogam nos respectivos clubes, não sendo mais possível realizar o mesmo tipo de estágios, e a maturidade dos seus colegas europeus, programada para ser atingida já na idade adulta, está agora já equiparada. Para mais, alguns deles, mesmo que em equipas pequenas, jogam com regularidade em campeonatos de futebol bem mais “rasgadinho”, não sendo suplentes do Inter ou da Fiorentina, o que ajuda a fazer a diferença em termos de ritmo e interpretação do jogo. O resultado é uma maior dificuldade competitiva desta selecção face às mais jovens, mais dependente da forma e da qualidade extra de alguns jogadores, dos seus ups and downs competitivos; da “fornada”, como dizem os jornalistas desportivos. Drama? Nenhum, se considerarmos as selecções de jovens como categorias de formação e não como salvadoras da pátria. Não como badge brands para se mostrar que também se “pode” e “tem”.
terça-feira, setembro 09, 2008
Reparo à TVI
Quem pede responsabilidades à PSP?
É que não basta pedir mais meios (dinheiro, policias, armas, etc). Não basta pedir leis mais repressivas e carta branca para esquecer, por uns momentos e quando dá jeito, esse “pequeno empecilho” à actuação das forças policiais que dá pelo nome de estado de direito democrático com os respectivos direitos, liberdades e garantias do cidadão. Também não basta pressionar os juizes e tribunais. Por último, não basta pedir autorização para disparar por “dá cá aquela palha”. É preciso também provar saber cumprir com os seus deveres, o que passa por ter uma organização adequada e saber gerir, de acordo com as leis da República, os meios e recursos colocados pela sociedade ao seu dispor para assegurar a segurança de todos. Pelo menos dentro de uma esquadra, por favor!
"Nunca é tarde para aprender", ou José Pacheco Pereira e a WWII
Outra questão tem a ver com o facto de, como escreve JPP, “quando o primeiro soldado americano colocou os pés no extremo sul do continente, na Sícilia, já o exército alemão perdera toda a capacidade ofensiva face aos soviéticos, ou seja, já tinha, para todos os efeitos, perdido a guerra”. Uma incontestável verdade. Mas JPP esquece que muito antes do desembarque na Sicília (Julho de 1943) já tinha existido Al Alamein (Outubro/Novembro de 1942), essencial para impedir o acesso alemão ao petróleo do médio-oriente e com tremendo efeito moralizador nos britânicos (é a sua primeira vitória). Não refere também que a efectiva contra-ofensiva soviética no leste, depois da rendição de Von Paulus em Estalinegrado no final de Janeiro de 1943 e de o exército vermelho ter impedido o avanço nazi sobre o Cáucaso e, assim, o acesso às respectivas jazidas petrolíferas, teve essencialmente lugar a partir de Janeiro/Fevereiro de 1943, também já depois da vitória britânica em Al Alamein...
Nada disto serve para desvalorizar a importância da guerra a leste para a derrota nazi ou para pôr em causa, no seu todo, a teoria de JPP. O objectivo é apenas introduzir mais alguns dados que possam contribuir para uma percepção mais rigorosa dos acontecimentos que moldaram a Europa dos últimos 60 ou 70 anos. De qualquer modo, a Alemanha de Hitler acaba por perder a guerra quando “deixa de ser quem era”, ou seja, quando as suas forças armadas, concebidas e organizadas para a blitzkrieg, se envolvem numa guerra prolongada para a qual não estavam preparadas, nunca teriam recursos e, por isso, nunca poderiam vencer.