terça-feira, setembro 16, 2008

Hinos Nacionais (2)

"Hino Nacional Italiano" (Goffredo Mameli- Michele Novaro). Interpretação da orquestra e coro de André Rieu
É comum considerar-se a “Marselhesa” como o arquétipo do hino nacional revolucionário, enquanto produto da Revolução Francesa e sendo esta a referência das lutas “pelo estado de todo um povo”, contra a “opressão” do ancien régime, do domínio aristocrático. Não deixa de ser verdade, mas existe um outro – pelo menos –, o italiano, bem conhecido quanto mais não seja dos estádios de futebol, que muito dele se aproxima no seu espírito, sendo que aqui a luta contra a “opressão” exercida pelo poder aristocrático está subordinada a algo que neste caso era crucial para a emancipação burguesa e, em certa medida, popular: a formação do estado nacional italiano (“Fratelli d'Italia, l'Italia s'è desta”). Por isso mesmo, abundam as referências ao passado glorioso do império romano, a Cipião Africano (o vencedor das Guerras Púnicas contra Cartago, rival da plena expressão do poderio romano no mediterrâneo), às "coortes" que substituem os batalhões da Marselhesa (“Formez vos bataillons!”), mas o mesmo espírito guerreiro e disponibilidade para morrer por uma causa patriótica (“L’Italia chiamò!") estão também bem presentes. Do ponto de vista musical, o que é extremamente curioso é que opõe um certo espírito de “festa”, de alegria de canção popular ou de coro de uma ópera de Verdi, ao ar marcial mais marcado da “Marselhesa”, o que pode não deixar de reflectir as idiossincrasias de cada um dos povos. Musicalmente, é talvez o meu favorito.

A letra do hino foi escrita em 1847 por Goffredo Mameli (é também conhecido como “Hino de Mameli”) no período que precedeu a guerra contra a Áustria tão bem descrita por Luchino Visconti no seu genial “Senso” e que culminou na unificação italiana (Risorgimento) em 1860. A música é de Michele Novaro. A interpretação aqui apresentada, que exprime bem o acima referido ar de festa popular, é da orquestra e coro de André Rieu. Só foi adoptado como Hino Nacional em 1946, depois da vitória da república no referendo com a subsequente abdicação de Victor Emmanuel III e da Casa de Sabóia.

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