Portugal, qual pobre subitamente endinheirado e cujo verniz não é suficiente para não deixar de denunciar as origens, tem vivido nos últimos anos sob um certo síndroma de novo-riquismo, pretendendo, tal como qualquer membro da sociedade emergente que se preze, mostrar que “tem”, que “pode”. Claro que, como em todas as situações do género, o resultado é quase sempre desastroso, faltando-lhe, como dizia o bom do Eça, as "basesinhas", o berço, a “patine”. Acreditemos que virá com o tempo, como sempre nestas circunstâncias acaba por se verificar, já que assim também aconteceu no passado.
Nessa ânsia de se mostrar, o desporto e os recordes têm frequentemente assumido o papel que na sociedade afluente cabe aos carros espampanantes, à roupa de marca, aos condomínios “ditos” de luxo, ao Dom Pérignon e às férias exóticas. Épater le bourgeois é objectivo primeiro, mesmo que os únicos que se deixem, de facto, entusiasmar com tal trompe d’oeil sejam eles próprios e os que com eles partilham alguma similitude. Mas adiante.
Primeiro, ainda no tempo em que o país era “pobre, pobre”, foi o hóquei em patins, desporto desconhecido no mundo e jogado por veraneantes em recreio pelos lados de Herne Bay e Montreux, das praias da Catalunha, transformado em “hóquei patriótico” por obra e graça do chico-espertismo nacional e dos interesses da ditadura. Teve a sua época e por lá se ficou nas “brumas da memória”. Depois, já o país assomava à porta do dinheiro fácil, foram os recordes do Guiness, enquanto o futebol juvenil, pela mão de Carlos Queiroz, conquistava o lugar de símbolo do orgulho pátrio dantes ocupado pelo hóquei em patins das pelejas ibéricas. Espero – espero mesmo – que o mesmo não se esteja a passar com a "medalhite" aguda dos Jogos Paralímpicos. Seria demasiado cruel.
Mas voltemos ao futebol juvenil e às razões pelas quais a selecção de futebol de sub-21 se mostra avessa a igualar, ou aproximar-se, das suas irmãs mais novas, e veremos como este longo intróito não está aqui por acaso. O que Carlos Queiroz e a FPF fizeram nos idos de oitenta e noventa não foi muito diferente, ou muito mais, do que, por via de estágios prolongados que chegavam a retirar os jogadores aos clubes durante meio ano, realizaram alguns países sul-americanos e africanos: levar esses jogadores, por via de um profissionalismo assumido na adolescência, a atingir a sua maturidade futebolística mais cedo, retirando daí vantagens competitivas face aos seus congéneres europeus nas competições juvenis. Por alguma razão, se consultarmos as listas de vencedores das competições mundiais de selecções jovens facilmente encontramos como vencedores e finalistas países que estão longe de ser potências reconhecidas no futebol sénior, e dificilmente de lá constarão países como a Alemanha, por exemplo. Quando finalmente chegam à idade sénior (muitos dos jogadores das selecções sub-21 têm, na realidade, 22 e 23 anos), os atletas já têm um contrato profissional, jogam nos respectivos clubes, não sendo mais possível realizar o mesmo tipo de estágios, e a maturidade dos seus colegas europeus, programada para ser atingida já na idade adulta, está agora já equiparada. Para mais, alguns deles, mesmo que em equipas pequenas, jogam com regularidade em campeonatos de futebol bem mais “rasgadinho”, não sendo suplentes do Inter ou da Fiorentina, o que ajuda a fazer a diferença em termos de ritmo e interpretação do jogo. O resultado é uma maior dificuldade competitiva desta selecção face às mais jovens, mais dependente da forma e da qualidade extra de alguns jogadores, dos seus ups and downs competitivos; da “fornada”, como dizem os jornalistas desportivos. Drama? Nenhum, se considerarmos as selecções de jovens como categorias de formação e não como salvadoras da pátria. Não como badge brands para se mostrar que também se “pode” e “tem”.
Nessa ânsia de se mostrar, o desporto e os recordes têm frequentemente assumido o papel que na sociedade afluente cabe aos carros espampanantes, à roupa de marca, aos condomínios “ditos” de luxo, ao Dom Pérignon e às férias exóticas. Épater le bourgeois é objectivo primeiro, mesmo que os únicos que se deixem, de facto, entusiasmar com tal trompe d’oeil sejam eles próprios e os que com eles partilham alguma similitude. Mas adiante.
Primeiro, ainda no tempo em que o país era “pobre, pobre”, foi o hóquei em patins, desporto desconhecido no mundo e jogado por veraneantes em recreio pelos lados de Herne Bay e Montreux, das praias da Catalunha, transformado em “hóquei patriótico” por obra e graça do chico-espertismo nacional e dos interesses da ditadura. Teve a sua época e por lá se ficou nas “brumas da memória”. Depois, já o país assomava à porta do dinheiro fácil, foram os recordes do Guiness, enquanto o futebol juvenil, pela mão de Carlos Queiroz, conquistava o lugar de símbolo do orgulho pátrio dantes ocupado pelo hóquei em patins das pelejas ibéricas. Espero – espero mesmo – que o mesmo não se esteja a passar com a "medalhite" aguda dos Jogos Paralímpicos. Seria demasiado cruel.
Mas voltemos ao futebol juvenil e às razões pelas quais a selecção de futebol de sub-21 se mostra avessa a igualar, ou aproximar-se, das suas irmãs mais novas, e veremos como este longo intróito não está aqui por acaso. O que Carlos Queiroz e a FPF fizeram nos idos de oitenta e noventa não foi muito diferente, ou muito mais, do que, por via de estágios prolongados que chegavam a retirar os jogadores aos clubes durante meio ano, realizaram alguns países sul-americanos e africanos: levar esses jogadores, por via de um profissionalismo assumido na adolescência, a atingir a sua maturidade futebolística mais cedo, retirando daí vantagens competitivas face aos seus congéneres europeus nas competições juvenis. Por alguma razão, se consultarmos as listas de vencedores das competições mundiais de selecções jovens facilmente encontramos como vencedores e finalistas países que estão longe de ser potências reconhecidas no futebol sénior, e dificilmente de lá constarão países como a Alemanha, por exemplo. Quando finalmente chegam à idade sénior (muitos dos jogadores das selecções sub-21 têm, na realidade, 22 e 23 anos), os atletas já têm um contrato profissional, jogam nos respectivos clubes, não sendo mais possível realizar o mesmo tipo de estágios, e a maturidade dos seus colegas europeus, programada para ser atingida já na idade adulta, está agora já equiparada. Para mais, alguns deles, mesmo que em equipas pequenas, jogam com regularidade em campeonatos de futebol bem mais “rasgadinho”, não sendo suplentes do Inter ou da Fiorentina, o que ajuda a fazer a diferença em termos de ritmo e interpretação do jogo. O resultado é uma maior dificuldade competitiva desta selecção face às mais jovens, mais dependente da forma e da qualidade extra de alguns jogadores, dos seus ups and downs competitivos; da “fornada”, como dizem os jornalistas desportivos. Drama? Nenhum, se considerarmos as selecções de jovens como categorias de formação e não como salvadoras da pátria. Não como badge brands para se mostrar que também se “pode” e “tem”.
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