Ao comparar, hoje no “Público”, a proclamação de Manuela Ferreira Leite sobre a procriação como fim último no casamento e a decisão do PS de impor a disciplina de vota (contra) na votação próxima na Assembleia da República de uma proposta do BE sobre o casamento homossexual, Constança Cunha e Sá está, no mínimo, a ser intelectualmente desonesta, já que não ouso utilizar um qualquer outro qualificativo. Em primeiro lugar, porque o casamento heterossexual não impõe necessariamente a procriação ou a assume implicitamente. Aliás, demonstram as estatísticas que os casais portugueses cada vez procriam menos. Em segundo lugar, e bem mais importante, a afirmação de MFL corresponde a uma posição de princípio, enunciada em termos gerais e abstractos, enquanto no caso do PS o que está em causa é algo real e concreto, a sua oposição a uma determinada proposta em um determinado momento (político, acrescente-se). Nada em qualquer afirmação de um dirigente ou orgão político do partido permite concluir uma oposição de princípio ao “princípio” (passe o pleonasmo), antes pelo contrário. O que está neste momento em causa é apenas uma questão de oportunidade política, não pretendendo o PS abrir uma nova frente de potencial conflito com a Presidência da República ou arriscar-se a criar divisões na sua própria base de apoio eleitoral, preferindo esperar mais um ano e agendar o assunto para a próxima legislatura. É uma opção inteligente. Bem mais inteligente, digamos, do que as afirmações de Constança Cunha e Sá.
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