Durante a vigência dos governos de José Sócrates, Cavaco Silva assumiu um papel de oposição activa sem grandess crítica vindas do PS: fez o que quis e sobrou-lhe tempo. Foi protagonista da "inventona" das alegadas escutas, o mais triste caso protagonizado por um Presidente da República ou primeiro-ministro depois da normalização democrática de Novembro de 1975 e Abril de 1976 e assunto que em qualquer país civilizado seria motivo para processo de "impeachment" ou demissão do governo, com o Presidente da República a ser culpabilizado pelo sucedido. Fez um enorme estardalhaço com o estatuto dos Açores, que, independentemente das razões que lhe assistiam, só se entende por querer atingir o partido no governo da República e da Região Autónoma. Aliou-se, sem pudor, às oposições e à rua na contestação a Correia de Campos e Maria de Lurdes Rodrigues. Permitiu-se receber a oposição madeirense num quarto de hotel, num total desrespeito pelo espírito e pelas mais elementares normas democráticas. Por fim, com os seus mal-educados discursos finais, indignos do cargo que ocupa por escolha dos portugueses (para o que lhes havia de dar...) limitou-se a colocar a cereja no cimo do bolo, a enfeitar com o laço o ramalhete já pronto a ser oferecido. Em todo este tempo, e que me lembre, apenas no "caso das escutas" (e mesmo assim...) se viu ou ouviu da parte do PS de José Sócrates uma atitude, não direi mais firme, mas menos pusilânime.
Agora, com o Partido Socialista na oposição, Cavaco Silva mantém o mais do que esperado silêncio no caso da dívida da Madeira, Região Autónoma desde sempre governada (convém lembrar aos mais distraídos...) pelo PSD e por um Alberto João Jardim a quem Cavaco Silva sempre prestou notória vassalagem. Seria de esperar, da parte de um PS pós-congresso e com uma nova liderança que por certo quererá impor-se politicamente, uma crítica mais contundente de António José Seguro à actuação do Presidente da República. Debalde: uma atitude do PS nesta área é tão silenciosamente ensurdecedora como a de Aníbal Cavaco Silva, limitando o PS as suas críticas - até ver, justas - ao PSD e ao seu presidente e também primeiro-ministro. Francamente, desconheço que eventuais cumplicidades impedirão o PS de assumir uma atitude mais crítica em relação a Cavaco Silva, pelo menos no momento presente em que nada terá a perder; se espera este se eternize no poder à la Chávez ou se alimenta a esperança vã de vir ainda a ser reconduzido à partilha do governo pelas suas mãos. Para o caso do PS ainda não ter reparado, convém lembrar que qualquer das hipóteses é pouco provável, para não dizer impossível, e que Cavaco Silva não é Presidente "por la gracia de Dios" mas pelo voto dos portugueses. E é a estes que o PS deve, neste momento, uma atitude de pedagogia democrática.
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