As afirmações do Presidente da República ao receber e condecorar ontem a selecção de futebol de sub-20, finalista vencida do Mundial da categoria, constituem, no pior sentido, um autêntico "2 em 1" do disparate. Em primeiro lugar porque, convém lembrar, a selecção não ganhou. Assim, e deste modo, parece termos regressado ao tempo das vitórias morais, em que ser segundo, terceiro ou quarto classificado era motivo de regozijo pátrio (só falta mesmo o hóquei em patins...). Em segundo lugar porque, ao manifestar-se em favor do proteccionismo no futebol, Cavaco Silva não só está a apelar ao desrespeito por uma das normas fundamentais e fundadoras da União, e que muito tem beneficiado os portugueses em geral (a livre circulação de pessoas), como ignora que muitos dos bons resultados do futebol português nos últimos anos se devem, na selecção, ao facto dos melhores jogadores portugueses actuarem nas grandes equipas europeias e, nos clubes, à possibilidade destes terem à sua disposição um campo de recrutamento bem mais vasto do que apenas o rectângulo continental e as Regiões Autónomas . Aliás, convém lembrar que muitas dos bons resultados do futebol português, no passado, também se deveram ao facto de Portugal ser na altura um império colonial e, assim, os naturais das colónias (Eusébio, Vicente Lucas, Mário Coluna, Hilário, Costa Pereira, José Águas, etc) terem então nacionalidade portuguesa. O que vale é que, cumprido o seu papel de colocar no governo os da sua cor política, já ninguém leva muito a sério o pior Presidente da República da democracia. Nem mesmo os da sua cor política.
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