A melhor maneira de viver num passado mítico mas em que não havia antibióticos é recrear no presente a ideia que o mito (mas apenas este) nos transmitiu. Nos nossos valores, ideias e ideais, no modo como nos comportamos, como vivemos e amamos, nos objectos, na música, nos livros e na pintura de que gostamos. Tudo isto mas com o conforto de sabermos que, hélas, existem antibióticos.
Allen homenageia a única Paris que ele poderia homenagear (a de "Paris É Uma Festa", de Hemingway e Fitzgerald, de Picasso e Matisse, de Gertrud Stein e do seu círculo "marginal chic") e com isso homenageia-se a si próprio e à sua geração de intelectuais liberais nova-iorquinos; mas também a todos nós que somos seus (de Allen e dessa Paris) seguidores e credores. E depois Allen tem esse dom, essa capacidade inteligente de nos reconciliar com o cinema, com o mundo e com a vida, connosco. De nos apetecer passar para o lado de lá do ecrã e entrar também no filme...
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