domingo, setembro 25, 2011

O Cardeal Patriarca e as "mãos sujas"

"Ninguém sai da política com as mãos limpas". Ao fazer esta afirmação, e independentemente de estar a ofender muitos cidadãos honestos que se dedicam à actividade política, alguns deles católicos, o Cardeal Patriarca de Lisboa junta-se à campanha populista de difamação dos políticos e da actividade política dominante nos fóruns de opinião e nas caixas de comentários. Não está, portanto, e ao contrário do que disse D. José Policarpo, "a fugir disso" (da política), mas a tomar uma posição política clara escolhendo um dos lados: aquele que, no mínimo, nada contribui para a defesa do regime constitucional e da democracia representativa. Pessoa experiente e avisada, membro proeminente de uma instituição - a Igreja Católica - que não tem por costume "dar ponto sem nó" ou agir de ânimo leve, esperavam-se do Cardeal José Policarpo afirmações em que prevalecesse maior bom senso e noção do equilíbrio.

Apetece pois perguntar, e dada a alguma promiscuidade existente no passado entre a Igreja Católica e a ditadura de Salazar e Caetano, se essa mesma Igreja terá saído desses quarenta e oito anos com as mãos ao abrigo de qualquer inspecção à sujidade, ou se a sua preocupação com a limpeza só se aplica mesmo aos regimes democráticos. Talvez fosse interessante que D. José Policarpo viesse a terreiro esclarecer o alcance das suas palavras.

2 comentários:

Anónimo disse...

Outro grande post do atento e caro JC.

Com todo o respeito que a instituição ICAR nos merece, sendo de realçar, pela positiva, a recente visita de Bento XVI à sua pátria e o ênfase, no discurso ao Bunderstag, dado à Grécia ( ainda que de maioria não católica) como um dos pilares da identidade civilizacional, cristã e europeia ( grande coincidência, os grandes responsáveis europeus já falam na garantia de integridade da zona €uro com num super fundo de resgate ), todavia, ocasionalmente somos confrontados com afirmações, tão genéricas, como aquela sobre os políticos, em que tudo seria joio e o trigo uma miragem.

Se a mesma peneira "tutti frutti" fosse aplicada à própria ICAR, o que teríamos de dizer de todos os seu respeitáveis membros por referência a tão graves acusações por infames práticas de algumas ovelhas do seu rebanho.

Felizmente que haverá sobretudo membros para os quais é de seguir a máxima "a Deus o que é de Deus, a César o que é de César", em vez de uma anátema geral a uma classe ou grupo como se uma prova inquisitorial se tratasse.

A propósito, onde foi que li aquela máxima ?

Cumprimentos

JR

JC disse...

O problema,o grande problema, é que apesar do cardeal ser do SCP o tinha por pessoa equilibrada e sensata. E, devo dizer, embora não-crente, admiro o esforço de actualização de pensamento feito pela Igreja Católica portuguesa nos últimos 35 anos, principalmente por parte do Cardeal António Ribeiro e de alguns bispos.Enfim... aceitemos, nós todos, homens de boa vontade, D.José Policarpo terá tido o seu momento mau.