Existem duas maneiras para analisar o “déficit” das contas públicas de 2010: para o governo, e seus apoiantes, o copo está bem cheio, já que o valor de 8.6% do PIB apenas se deve à necessidade de contabilizar em 2010 as imparidades do BCP, às transferências para as empresas de transportes e a uma mudança na metodologia seguida (os valores dos anos anteriores foram também corrigidos pelo mesmo motivo), cifrando-se o seu valor em 6.8% se não levarmos tais coisas em linha de conta; para os seus adversário o copo transbordou e causou mesmo uma enorme inundação, já que o governo falhou e... ponto final. As perguntas que deixo, tentando analisar o caso com algum distanciamento e isenção, são as seguintes:
- Se existiam dúvidas – e elas seriam legítimas - quanto à metodologia a seguir na contabilização da injecção de capital no BCP e outras transferências, não teria sido sensato o governo fazer provisões para o caso de se confirmar a necessidade de serem contabilizadas no ano transacto, lançando medidas adicionais que permitissem aumentar a receita e diminuir a despesa, algumas dessas, até, porventura reversíveis em caso de se revelarem por fim desnecessárias?
- Se existiam já indicações claras, há várias semanas, de que pelos motivos acima descritos o valor do “déficit” seria superior aos 7.3% definidos como objectivo, não deveria o governo ter deixado de insistir nos 6.8%, explicado, didacticamente, o que se passava e a que se devia tal alteração, evitando que todos tivéssemos tomado conhecimento do assunto por... uma notícia de jornal?
O que me parece um facto consumado é que o resultado da forma “trapalhona” como o governo geriu o assunto em nada o irá beneficiar, passando para a opinião pública, para o “povo da SIC” pouco dado a elucubrações contabilísticas, a ideia de que “o governo falhou e, mais uma vez, enganou os portugueses lançando-lhe poeira para os olhos”. Algo que o tal “povo da SIC” irá cobrar em votos, claro está!
2 comentários:
Caro JC, essa é uma reacção apenas do "povo da SIC"!? Na sua opinião, o governo não falhou? ou não enganou, mais uma vez, os portugueses que ainda vão acreditando no que o governo diz? eu é que já não me lembro, muito sinceramente, da última vez que o governo acertou ou que me conseguiu convencer da sua boa fé... se os "outros" ainda me parecem menos competentes e menos convincentes, sim, é verdade, mas isso é outra história que não deve servir para mascarar a quantidade de asneiras, disparates e manipulações destes últimos anos.
carlos
Como digo no "post", tento ir um pouco mais longe do que essas análises maniqueístas do "governo enganou", "não fala verdade" ou, do lado do PS, "foi só uma questão contabilística". Para dizer apenas isso já há mtª gente por aí.
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