Se li e ouvi bem, António Carrapatoso propõe rescisões de contrato por mútuo acordo na Função Pública. Muito bem, a ideia é quase tão velha como o cinema mudo, mas, não sendo, como vimos, original, vejamos pelo menos se é boa.
Diria Jacques de La Palisse (pobre homem, que nunca disse os dislates que se lhe atribuem!) que para existir rescisão por mútuo acordo é preciso que ambos (as partes) a queiram. Vamos lá então ver isso em mais pormenor.
- Passando por cima do tradicional conservadorismo dos sindicatos e das resistências que irão opor, e partindo do princípio que o Estado não é estúpido, quererá a Função Pública ver-se livre dos melhores funcionários, dos mais eficientes? Talvez dos mais novos, também? Numa conjuntura incerta e que gera inseguranças, estarão outros trabalhadores (os mais fracos) disponíveis para uma mudança tão radical nas suas vidas? E será que as empresas e instituições privadas os quererão contratar?Talvez fosse desnecessário acrescentar que não me parece, e que tal coisa apenas irá gerar mais problemas do que soluções.
- Conhecendo as diferentes "culturas" de trabalho e funcionamento no sector público e no "privado" (de um modo geral, entenda-se), será atractivo para as empresas e instituições privadas, salvo em alguns casos pontuais, a contratação de trabalhadores vindos do sector público, com todos os problemas de adaptação e integração daí decorrentes? Muito francamente, parece-me bem mais evidente, e útil, o contrário, e não vejo como se poderá impor uma visão diferente desta às empresas.
- Sabendo o que vale hoje em dia a garantia de "emprego para a vida", haverá muita gente no Estado com vontade de perder tal garantia. E em que condições e a que preço?
Bom, como disse a ideia não é original e também parece provar-se não ser suficientemente boa para fazer o seu caminho. No fundo, trata-se da milionésima tentativa de resolver algo que nasceu torto e há já algum tempo: a tentativa do Estado engrossar o número dos seus servidores desse modo criando a sua própria clientela política e criando artificialmente emprego. Sugiro a António Carrapatoso perguntar como tal foi possível. É que nem precisa de ir muito longe: basta recuar uns 25 anos e perguntar ao actual Presidente da República, de quem foi e é apoiante!
1 comentário:
Pois!
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