terça-feira, abril 05, 2011

Em defesa da Honra do meu clube

Uma das bases em que assenta o sucesso desportivo do FCP nos últimos anos é a sua ideologia de suporte. Uma ideologia clara e consequente com um clube de província que, anos a fio, criou um certo rassabiamento por estar longe dos centros de decisão e não ser mais do que o terceiro clube português. Uma ideologia que moldou a cultura do clube a partir do final dos anos 70 do século passado e se baseia no ódio à "capital", no "sozinhos contra todos", na arruaça e na intimidação dos que se lhe opõem, interna e externamente, no amesquinhamento e escárnio dos adversários, nos "fins justificam os meios". Uma ideologia que alimenta uma instituição que apenas consegue sobreviver e fortalecer-se no e pelo ódio, mesmo que isso conduza ao enfraquecimento da indústria onde se insere. Tudo isto, claro, como acontece em qualquer regime que se baseie neste tipo de ideologia caracteristicamente totalitária, consubstanciado num super-centralismo presidencialista defendido por uma espécie de guarda pretoriana - a que tenho, por analogia, designado por "sturmabteilung" - e sustentado, anos a fio, por uma teia tentacular de poder que um certo esvaziamento e enfraquecimento das instituições e do poder central no pós-25 de Abril tornou possível tecer.

Tendo dito isto, penso que só a enorme estupidez e cegueira dos actuais dirigentes do SLB não permitiu ainda perceber que uma estratégia desse tipo, mesmo que apenas numa versão "soft" de "falta de luz e sistema de rega", não tem qualquer hipótese de ser bem sucedida no meu clube (por vezes, penso não sei se será também o deles...). Mesmo, por abstracção, pondo de parte quaisquer questões éticas (como se tal fosse possível ou desejável), as condições em que o meu clube cresceu e se fortaleceu foram diferentes; a cultura e tradição do SLB nada têm a ver com tal tipo de ideologia, mas sim com o seu contrário: um clube abrangente mas de base popular, franco e aberto, orgulhoso dos seus pergaminhos quando era um clube de todos num regime político ditatorial só de alguns; um clube nacional e cosmopolita, aberto ao mundo, e não um clube de uma cidade ou região; um clube que cresceu e se fortaleceu por via das suas vitórias internacionais, daí partindo para o domínio interno, e não o seu contrário. Por isso mesmo, qualquer aproximação, por ténue que seja, aos ideais e métodos do FCP será sempre algo contra-natura no clube, que afrontará e não encontrará apoio na maioria dos seus adeptos. Algo condenado ao fracasso, também, porque será sempre uma imitação reles e canhestra de algo que nos é estranho e firmemente rejeitamos.

Já é mais do que tempo de esta direcção entender tal coisa, ou de os sócios lho fazerem entender com o seu voto. Bagão Félix afirmou que "perdemos o jogo e perdemos a honra". Discordo: não só porque a grande maioria dos benfiquistas, tal como Bagão Félix, não se revê no que se passou e é assim garante da Honra de uma grande instituição, como o seu actual presidente não pode perder algo que não tem nem nunca terá: essa mesma Honra de levantar bem alto e fazer valer o lema "e pluribus unum".

Viva o Benfica!

6 comentários:

Anónimo disse...

Parabéns pelo seu comentário distanciando-se da cegueira clubistica. Sou sócio do SCbraga e vejo futebol em Braga há 40 anos. Esse Clube de base popular tinha mais adeptos em Braga que o Clube local. Porque será que agora já não é assim? Em vez de atirarem as culpas aos outros (ligação ao Porto) façam introspeção.

JC disse...

Mtº obrigado, caro anónimo. Mas tb o que é um facto é que o FCP, c/ a conivência da direção de António Salvador, fez uma espécie de OPA ao SC Braga, tornando-o, de facto, até pela cópia de alguns dos seus métodos, numa espécie de sucursal do FCP. Perdeu desse modo a simpatia de mtºs, ao ponto de eu, benfiquista ferrenho, torcer agora para que seja o meu tradicional e velho rival SCP a conseguir o 3º lugar.
Cumprimentos

Duarte Fernandes disse...

Caro amigo,
Sou sportinguista de Sintra e este ano não posso falar dos feitos do meu clube apenas da delapidação do mesmo. Não sou nem anti-benfiquista, nem anti-portista, mas acho que realmente está na altura das pessoas separarem aquilo que é realidade do que é ficção. Estes senhores dirigentes são uma vergonha todos eles desde o Bimbo até ao seu presidente. Mas há que ver que o Porto é na actualidade e sem qq problema o afirmo o maior clube da actualidade, basta ver as suas prestações nacionais e internacionais. Quanto ao resto, todos o fazem até o meu.

JC disse...

Digamos que há uns que são mais iguais, caro Duarte. A questão é que no FCP esses comportamentos estão institucionalizados e fazem parte da cultura do clube de há 35 anos para cá. No meu e no seu clube, apesar da violência protagonizada pelos energúmenos das claques e por um ou outro dirigente avulso, esses comportamentos são, felizmente, excepção e não fazem parte da filosofia e da cultura de ambos os clubes.
um abraço para si, caro rival.

Portas e Travessas.sa disse...

O seu blog está muito bom

Saudações Benfiquistas

JC disse...

Obrigado.