Não sou dos que pensa o 25 de Abril, ou alguma das suas promessas, está por cumprir. Na sua essência, ou seja, nos 3D do MFA (descolonizar, democratizar, desenvolver), o 25 de Abril está cumprido, o resto são devaneios ou caminhos que nos compete a nós, em democracia, escolher e percorrer.
Descolonizou-se. Com problemas? Claro, como não poderia deixar de acontecer com quem o fez tarde e más horas e numa situação de grande instabilidade política, incluindo, e tal não foi de somenos, em período crítico da guerra-fria. Convém, no entanto, dizer que mesmo quem descolonizou bem mais cedo e em conjuntura política bem mais estável passou igualmente por enormes problemas. Lembro-me da Bélgica, com o assassinato de Patrice Lumumba e a secessão do Katanga, e da França, à beira de um golpe de estado militar quando da independência argelina.
Depois de passado o período do PREC, temos vivido em democracia plena, sem sobressaltos, integrados numa União Europeia democrática presidida, convém lembrar, por um português. É possível e desejável aprofundar os mecanismos da democracia representativa (repito, para não existirem dúvidas: "representativa")? Claro, mas tal depende mais do povo e dos cidadãos, do modo como se mobilizam e organizam, do que dos tais "outros" (partidos, políticos, etc) que não existem sem nós ou à nossa margem ou revelia. Depende de sermos capazes de abandonar a "má língua" e o insulto em favor da crítica (por radical que seja), da polémica e do debate de ideias.
Por último, Portugal - escusado dizê-lo - é hoje um país incomparavelmente mais desenvolvido, cosmopolita e civilizado do que o era há 37 anos. E não estou a falar apenas das elites, incomensuravelmente melhor preparadas. Estou a falar de o país ter conseguido criar uma classe média - algo apenas existente de forma embrionária há 40 anos -, aquela que, quer queiramos quer não, acaba por fazer "andar as coisas". Como costumo dizer, ainda de certo modo pouco preparada e educada, ainda demasiado ligada à ruralidade, com "muita terra ainda debaixo das unhas"? Claro que sim, como seria de esperar numa sociedade que passou de rural a urbana numa geração. Mas esse - fazer crescer em número e preparação a classe média - é, sem qualquer dúvida, o caminho certo para o desenvolvimento futuro.
Viva o 25 de Abril!
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