Já tenho por aqui analisado o modo como o sistema de jogo perfilhado pelo SLB, na prática um 4x1x1x4 com Javi Garcia como "pivot" defensivo, desequilibra a equipa defensivamente. Já ninguém joga assim no mundo civilizado, da alta-competição europeia, e tal foi responsável pelo fracasso da equipa na Champions League e contra os adversários mais qualificados. Veja-se que nem na Liga da época passada nem na presente o SLB conseguiu vantagem contra os seus adversários mais directos, FCP (1-0 e 1-3; 0-5 e 1-2) e SCB (0-2 e 1-0; 1-0 e 1-2).
Mas, infelizmente, os problemas com este sistema de jogo não se esgotam aí, no equilíbrio defensivo da equipa. Ao perfilhar um sistema onde o "pivot" defensivo tem obrigatoriamente de ser um especialista, quase um exclusivista, em tarefas de recuperação de bola, sem vocação de "passe" ou para construção de jogo desde os terrenos mais recuados, a equipa cria também os seus próprios problemas nas chamadas "saídas a jogar", bem mais evidentes quando a equipa contrária joga num bloco alto pressionante, com ou sem bola, como tão bem o faz o FCP de Villas-Boas (já o de Mourinho fazia o mesmo), montando o seu "negócio" na zona entre o "pivot" defensivo e o nº 10. E como costuma resolver o SLB esse problema? Bom, em primeiro lugar privilegiando as saídas a jogar pelos flancos, um dos seus princípios básicos de jogo. Muito bem. Mas tal resulta num adiantamento quase sistemático de Maxi e Coentrão, o que não ajuda nada aos equilíbrios defensivos de uma equipa já de si pouco equilibrada. Outro dos seus princípios é fazer recuar Aimar (ou Martins) para "virem buscar jogo" a terrenos muito recuados. Muito bem, de igual modo, e demonstra Jorge Jesus não é estúpido e a equipa tem um plano de jogo bem definido. O problema é que não só continua a ser pouca gente, como nem Aimar nem Martins têm resistência para esse vai-vem constante e acabam, ao fim de algum tempo, por se esgotarem fisicamente e, até, por fazerem falta cá mais à frente, onde se decide o último passe. Por último, temos o recurso ao passe longo para Cardozo. Por vezes resulta; mas quando o paraguaio está sem forma, física, psíquica ou de vontade, temos aí também um problema. Mais ainda: obriga a ter um "ponta de lança" do tipo "poste", com pouca propensão para se envolver nos movimentos de construção ofensiva da equipa.
Que fazer, então? Bom, não me parecendo seja saudável e desejável continuar a insistir no erro, e não me parecendo tenha o 4x3x3 qualquer tradição no SLB ou seja adequado jogar na Liga portuguesa utilizando um sistema de "duplo pivot", o trabalho para a próxima época, nele tendo especial relevância a política de contratações, terá de dar resposta à seguinte questão: como construir um 4x4x2 equilibrado e suficientemente flexível para ganhar internamente e ser competitivo na Europa? Será Jorge Jesus capaz de tal tarefa? Acho ser em função deste objectivo que se deve equacionar a sua continuidade.
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