segunda-feira, outubro 02, 2006

Mais um "Post" de Madrid


Portugal tem perante a Espanha um misto de subserviência e de admiração “embasbacada”. De pequenas necessidades de afirmação inconsequentes e de temor reverencial. De nacionalismo serôdio de quem trocou a “integração” pelo estatuto de protectorado britânico. Um sentimento digno de qualquer provinciano, enfim…Faz lembrar a atitude do pequeno burguês perante o aristocrata. Fala “caro”, porque pensa assim falam as “classes altas”. Faz “cerimónia”. Tenta imitar os seus gestos, que assim se tornam tiques e maneirismos, sem pensar que pequenas ou grandes coisas ridiculamente o denunciam. Tem pavor das gaffes e por isso nunca toma a iniciativa, pois receia não acertar no talher adequado ou fazer o comentário despropositado - pensa ele, denunciando-se. Por detrás, fará comentários depreciativos, pois gostaria de ser como eles e sabe isso não ser possível.
Então a "direita" “baba-se” – como se viu no último “Prós e Contras” –, tentando rever-se nos indiscutíveis sucessos do PP espanhol na área económica, legando uma economia pujante e um país competitivo. Esquece a "direita" portuguesa que também já teve a sua oportunidade, e que infelizmente nos legou, com a cumplicidade do restante espectro partidário, um modelo de desenvolvimento esgotado que conduziu Portugal à divergência com o mundo civilizado. Esquece também que o sucesso da Espanha de hoje mergulha as suas raízes mais atrás, já no fim do período franquista e nos governos de Suarez e Gonzalez, e que o país não teve que enfrentar uma descolonização tardia e uma economia nacionalizada.
Mas, mais ainda: se indiscutíveis créditos terão de ser concedidos ao PP de Aznar pela sua capacidade política em contribuir decisivamente para mudar a face da economia de Espanha, em outras áreas da política “pura e dura” os falhanços, ou omissões, foram evidentes. Sem falar na gestão desastrosa do 11 de Março, que deixou a Espanha, citando o castelhano Almodôvar, “à beira de um ataque de nervos” (e tudo começou aí), o PP não foi capaz, por ser contra a sua “natureza”, de resolver uma questão chave e outra muito importante. Em primeiro lugar, a questão das “nacionalidades e do terrorismo, que no País Basco se interpenetram; em segundo lugar, algumas questões de “sociedade” (que em Portugal se convencionou chamar pejorativamente de “fracturantes” atirando-as para a relativa marginalidade do “Bloco”) que, uma vez resolvidas e em conjunto com a competitividade económica e a coesão social, colocam um país decisivamente no caminho da modernidade. É essa a missão de Zapatero. Quanto a Portugal, o “para Espanha rapidamente e em força” não é senão o resultado da atitude provinciana, atrás focada, em relação a Espanha, esquecendo que a UE é grande e mundo ainda maior. O mercado espanhol é complexo, e talvez não seja despropositado, antes da decisão, não caminhar para ele mecanicamente - porque sim, por que está ao lado, os políticos falam e os portugueses até acham que falam a língua – analisando outras opções, porventura mais longínquas ou menos imediatistas mas por vezes mais compensadoras. Nem sempre será assim, mas...

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