Em Portugal, quando uma qualquer mudança ou reforma parece obter para si o apoio de uma maioria de cidadãos e/ou é relativamente consensual, aqueles que são por ela mais directamente atingidos, nos seus benefícios e regalias, raramente têm coragem de afirmar que, pura e simplesmente, são contra. Nada disso, são sempre a favor, acham essa mudança indispensável, mas “não muito bem assim, dessa maneira”, fazendo depois, na prática, tudo o que podem para desvirtuar o sentido dessas mesmas reformas. Pois que é preciso “manter a motivação” dos trabalhadores, claro, o que, na maior parte dos casos, significa nada mudar que possa pôr em causa as anquilosadas estruturas existentes. Outras vezes, quando isso envolve de modo muito directo serviços públicos de grande visibilidade, tentam esforçadamente demonstrar que essa tal reforma vai prejudicar a sua eficácia, logo os cidadãos, e que a “deles” sim, essa é que iria trazer para os mesmos benefícios nunca antes vistos, sentidos ou ouvidos. È assim com a reforma do Estado, por exemplo (ninguém no seu perfeito juízo tem a coragem de defender a irrepreensível eficácia deste, sem cair no ridículo), quando se propõe a avaliação dos trabalhadores mas sem quotas, o que significaria deixar tudo na mesma, e agora com a proposta de restruturação da GNR. É ver aqui as declarações do Sr. Manageiro (peço desculpa mas não sei a “patente” e errar pode, neste caso, ser considerado ofensa grave ao meio militar), mas também as do Sr. Tenente General Mourato Nunes que, claro, também tem a sua “propostazinha”, como não podia deixar de ser. Por mim, penso que o Governo perde uma excelente oportunidade de, a prazo, extinguir a GNR, pois não só as razões da sua criação estão completamente ultrapassadas, não tendo hoje qualquer significado (a GNR foi criada logo em Outubro de 1910, substituindo as Guardas Municipais, dada a pouca ou nenhuma confiança que o Exército merecia ao novo regime), como as suas funções (ver aqui) ou são uma perfeita duplicação das já cumpridas por outras instituições, ou serão por elas facilmente asseguradas. Acresce que, como afirmei em post anterior, não me parece que existam portugueses de primeira e de segunda, ou seja, aqueles que vivem em áreas cujo policiamento é assegurado por uma instituição “civil” – a PSP - e os "outros", os que, por viverem em outras áreas, têm de se “contentar” com o policiamento efectuado por um corpo militarizado. O Governo teria, pois, aqui uma boa oportunidade para demonstrar, com duplo benefício dos cidadãos (melhor serviço com menos despesa), o seu empenhamento no “emagrecimento” do Estado, na sua modernização e no combate ao déficit.
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