domingo, outubro 22, 2006

História(s) da Música Popular (11)




England, pois claro!

Pois é, e em Inglaterra? Será que o antigo colonizador ficou imóvel, refém das suas tradições ou deixou-se seduzir pela irreverência e pela cultura descomprometida e contestatária da sua antiga colónia, como tantas vezes acontece? Ninguém, que eu conheça, descreveu melhor a Inglaterra do pré-rock & roll, onde as novas formas culturais do pós-guerra, dos baby boomers, tardam em chegar mas onde existe uma atmosfera (there’s something in the air) que não engana, pronta a explodir à primeira centelha, do que Dennis Potter na sua série de televisão “Lipstick On Your Collar”; e, por alguma razão a última sequência do último episódio se detém à porta de um café ou bar do Soho de Londres: o "2i’s coffee-bar". A série acaba, pois, exactamente no local e no momento em que tudo muda e, assim, aquele que era o objecto da sua existência termina. Mas o que aconteceu exactamente no tal "2i’s coffee bar"? Pois foi aqui, em pleno centro de Londres, que, no rasto do movimento norte americano iniciado com Elvis Presley, emergiu a vaga do rock britânico sob o impulso de nomes como Billy Fury e... Sir Harry Rodger Webb, OBE (Índia 14 de Outubro de 1940) aka... Cliff Richard! Pois, parece impossível para quem assistiu aos últimos (ora deixem-me cá ver...) quarenta e tal anos da carreira “xaroposa” e desinteressante de tal personagem, mas Cliff Richard começou a sua carreira exactamente assim, como o rocker britânico de maior sucesso, autêntico émulo britânico de Elvis e outros que tais. Depressa se arrependeu, mas... foi bom (ou melhor, “assim-assim”) enquanto durou. Verdade que nunca teve sucesso nos USA, mas mais tarde alguém por ele se vingaria e cobrando juros muito, muito altos. Mas isto é já outra história.
Acompanhado do seu backing group “Drifters”, mais tarde “Shadows” para evitar confusão com os negros americanos com o mesmo nome “chefiados” por Clyde McPhatter, começou, como quase tudo o que é gente no UK, por tocar em grupos de skiffle (uma “mistura” de jazz, canções tradicionais e folk muito em voga no UK pré rock & roll e do qual o expoente máximo foi Lonnie Donegan) até conseguir um contrato para gravação com a EMI pela mão do produtor Norrie Paramor. No dia 24 de Julho de 1958 (que este não era ainda o tempo de grandes sofisticações) grava, nos futuramente ultra famosos estúdios de “Abbey Road”, duas faixas, um “A” side e um “B” side como era comum na altura. Como “A” side “Schoolboy Crush”, um cover de um original do americano Bobby Helms; como “B” side um original do ex “guitarra baixo” dos “Drifters”/”Shadows, Ian Samwell: “Move It”. Ninguém sabe muito bem como nem porquê (“ele” há versões para todos os gostos), os lados do single acabaram trocados e “Move It” passou a ser o lado “A”. Mas, isso sim é certo, assim se fez o primeiro êxito do rock britânico. Em 1959 (9 e 10 de Fevereiro) Cliff Richard volta ao estúdio para gravar o seu primeiro álbum (“Cliff”), que será “ao vivo” graças ao convite dirigido a umas centenas de fans. “Move It” será uma das faixas, incluindo o álbum covers de nomes tão importantes do rock & roll tais como Roy Orbison, Ritchie Valens, Gene Vincent e Buddy Holly, para além de compositores como a dupla Leiber-Stoller, responsável por alguns êxitos de Elvis Presley no início da sua fase RCA. Mas o início é quase o fim. O seu segundo álbum (“Cliff Sings”), para além de alguns covers de originais do rock americano (“Blue Suede Shoes” e “Pointed Toe Shoes”, de Carl Perkins, e “Twenty Flight Rock” de Eddie Cochran) já entra por caminhos de George e Ira Gershwin e inclui mesmo uma versão de “As time Goes By”. Outras músicas, pois claro! Pois fiquemo-nos por este “Move It”, gravado “ao vivo”, que não nos ficamos nada mal, chamando desde já a atenção também para alguns riffs de Hank Marvin na sua "Fender Stratocaster".

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