Subrepticiamente, uma nova praga começa a invadir a casa dos cidadãos. Começou por ser apenas uma ameaça vaga, velada, aparecendo aqui e ali de modo tímido, quase se desculpando. Depois foi perdendo a vergonha e começou mesmo a despontar onde menos se esperaria, em algumas das casas mais tradicionalmente insuspeitas. Mesmo naquelas que visito mais vezes e onde, por isso, consegui impor o direito ao meu açúcar de eleição, em cristais tal qual diamantes escuros e em bruto. Pronto, nada a fazer, agora passei a ter de suportar café em pastilhas e com dois dedos de espuma. Onde irá parar o prazer de moer o café, de impregnar a casa com o seu cheiro, o cheiro das lojas de chás e cafés da minha infância e que hoje, aqui e ali, ainda subsiste? E o ritual do balão, hipnotizador seguro de olhares á volta da mesa nos jantares de família? Não! Não e cem vezes não! Em minha casa, essa coisa chamada Nespresso, sucessor envergonhado do “nãoéscafénemésnada”, jamais, em tempo algum entrará. E então os meus “Moka Harrar” ou “Colômbia Supremo” comprados em grão e moídos au fur et à mesur? Ou mesmo os “Kona Coffee” (chama-se mesmo assim), quando me destino um momento de indulgência já que o “Jamaica Blue Mountain” tem preço capaz de fazer corar de vergonha qualquer multimilionário recente? Pois é, estão a tentar roubar-me o prazer das coisas, das minhas coisas mais minhas, se me permitem a expressão, mas estão condenados ao fracasso. Enganados, redondamente enganados. Nespresso? É que nem morto, ouviram!?
2 comentários:
É bom, é rápido e não suja. Esse saudosismo faz lembrar os donos das mercearias a falarem dos hipermecados !! Isto num mercado livre só compra quem quer !
O país, não obstante a tantos defeitos e insuficiências, é livre. Pode sempre escolher outra bebida ... chá will do?
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