Sejamos claros: sem o apoio do Estado, seja ele o central ou o autárquico, isto é, sem uma política de subsídios claramente definida e assumida, a oferta e a produção cultural sofrerão uma drástica diminuição qualitativa e quantitativamente falando. O que não é exclusivo, pois sem o apoio estatal grande parte das empresas portuguesas verão a sua competitividade afectada ou mesmo a sua existência em risco, os clubes de futebol (as instituições mais subsidiadas da sociedade portuguesa) desaparecerão, o emprego, principalmente no interior e nas zonas mais deprimidas, cairá a pique e muitas pessoas decerto não sobreviverão. É o país que temos, dependente, periférico que gerou uma sociedade civil fraca, uma classe média incipiente, um sentido de empreendorismo perto do zero absoluto. Alguns sinais, muito ténues, de mudança podem ser contudo entrevistos numa nova geração hoje com menos de trinta anos, principalmente no meio empresarial e dos negócios, tendo como núcleo catalizador uma geração cujos elementos mais destacados estudaram no estrangeiro, em sociedades muito mais dinâmicas, mas eles são ainda incipientes e facilmente condenados á diluição num país e numa estrutura que não favorece a iniciativa e a mudança. Isto vem a propósito do Rivoli (com ou sem o anel de “rubi” do Rui Veloso), claro, situação que leva uma vez mais a que se defrontem no terreno (muito) e no campo das ideias (poucas e demagógicas), os críticos da "subsídio dependência" e os promotores da iniciativa cultural estatal. Sejamos uma vez mais claros: é um falso dilema. Porque se, em Portugal, a ausência de um papel do Estado na dinamização da oferta e produção culturais levará ao seu definhamento reduzindo-a, no limite, às peças de teatro de Lá Féria, isso não significa nem que esse papel não se venha tendencialmente a atenuar, nem que essa intervenção não seja pautada por regras claras de rigor, baseadas na apresentação de projectos sólidos, redução do seu número, avaliação permanente da sua execução e das suas despesas e fortes incentivos/imperativos à procura de soluções exteriores a esses mesmos subsídios, mormente no que se refere ao “mecenato”. Pois é, eu sei que isto é lirismo e que tudo se passa dentro de um círculo vicioso de “amiguismo” e tráfico de influências do tipo “amigo ajuda amigo hoje para ser ajudado amanhã” e que avaliadores e avaliados são duas faces da mesma moeda, com valores e princípios idênticos que por vezes se vão inclusivamente trocando, ao longo do tempo. E ainda há a propaganda, claro... a viciação no subsídio e a falta de coragem política do Estado para pôr cobro a situações como a de Belgais, por exemplo, o melhor argumento que já foi dado aos defensores do subsídio “zero”, que, legitimamente, nem sequer penso existirem fora das oposições, do papel ou dos monitores. Mas não me parece, sem que a demagogia faça o seu caminho, que a solução possa ser encontrada dentro de um outro quadro. Querer, como José Pacheco Pereira (“Público” de hoje não “linkável”) voltar aos anos sessenta do século XX, ao Cineclube Universitário, à Juventude Musical e ao TEP, às óperas que iam ao Porto (hoje, óperas populares, ou, mais propriamente, os respectivos herzatz, vão ao Estádio Nacional) e, porque não, regressar às “sessões clássicas” do Império ou do Monumental é apenas melancolia nostálgica ou uma “mãozinha” dada ao amigo Rui Rio. JPP sabe quanto o mundo mudou, que as "elites" cultas que apoiavam alguma dessas iniciativas se foram extinguindo e que tudo isso não é repetível no mundo de hoje. Sabe também, melhor do que ninguém, que grande parte dessas actividades eram formas “para legais” que a militância política oposicionista assumia, muitas vezes sob a égide do PCP, e que assistir e participar era também uma forma de protesto e luta. Mas o que é mais estranho é que esta posição receba de facto boas ajudas de onde menos se espera... A “lamechisse” lamurienta e os disparates palavrosos do “representante” dos “okupas” do Rivoli hoje na TSF, ao referir-se à intervenção da PSP, legal e pautada pelas mais elementares regras do bom senso, profissionalismo e uso proporcionado da força, deixou-me muito seriamente a pensar se “aquela gente” é merecedora do esforço que a sociedade que paga as suas contribuições e impostos faz para que possam exercer, criativamente, a sua profissão...
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